Filosofia
O fascista que existe dentro de cada um de nós
Recentemente segui uma palestra de Cesare Pietroiusti, um artista romano de quem nunca ouvira falar. Entre tantas coisas interessantes, uma me surpreendeu particularmente e gostaria de compartilhá-la, pois dialoga com certos aspectos salientes de nossa presente vida sociopolítica e cultural.
O amor é a confusão de tudo
Fazemos uma grande confusão sobre o amor. Falamos do amor como quem fala de um objeto: como se fosse uma coisa só, ou como se amar fosse simples. Dissemos que amamos nossa mãe. Usamos a mesma palavra “amor” para dizer que amamos o time de futebol.
Uma vez Fla, sempre Flu – e vice-versa
Os hinos (tanto faz se nacional, militar, religioso, esportivo) geralmente servem a reconhecer e exaltar as glórias de algo (uma pátria, um deus, um time). O objeto é retratado de forma magnânima, situado acima de tudo e de todos: a minha pátria, o meu deus, o meu time são o máximo; o resto é só o resto, e talvez daí venha a razão de os hinos quase sempre silenciarem a alteridade (outras pátrias, outros deuses, outros times).
Querer é pensar sobre o que se pode
É preciso primeiro saber, para depois querer. Isto porque toda vontade envolve, necessáriamente, um mecanismo racional. A vontade depende de um eu consciente — o que significa que é uma escolha que passa pelo crivo do pensamento.
Prometeu e a criação dos seres humanos
No conjunto de histórias da mitologia grega encontramos uma sobre a criação dos seres humanos, feitos a partir de uma obra de Prometeu, que teria roubado o fogo dos deuses e entregue aos homens, como modo de garantir-lhes a sobrevivência — trapaça que o condenou a uma prisão e tortura muito peculiar.
Somos os filhos do medo
Somos os filhos do medo; nosso parceiro em vários momentos da vida, constituidor de nosso caráter e de nosso modo de agir. Junto com o amor, o medo está na origem de nossa relação com o mundo.
Crime e pecado
O papa Francisco não é um conservador casca-grossa nem um revolucionário diletante. Gosto de concebê-lo como uma sorte de “visionário”, no bom sentido da palavra. Sem querer deixar tudo como está, tampouco vai chutar o pau da barraca católica;
O corpo não nos engana
O imperativo do agir é o corpo. Devemos fundar uma ética baseada nas sensações. Não há ação sem substrato físico, o que significa que nenhum comportamento é possível sem que estejamos encarnados. Fora do corpo não há vida. E fora da vida não há sensações.
Pintar garrafas
Um dos aspectos mais intrigantes de nossa percepção visual é fundar-se sobre algo absolutamente invisível: o espaço. Nossa visão se restringe a objetos espaciais e sabemos o que é a espacialidade em que as coisas repousam e se deslocam; jamais percebemos, todavia, o próprio espaço em que isso acontece.
A razão é a melhoria do corpo
Não somos velozes, não enxergamos bem no escuro, não temos genial olfato, não voamos como aves ou como muitas espécies de insetos, somos limitados em nossa capacidade de nadar e, afinal, não somos tão ferozes como tantas outras espécies de seres vivos que habitam nosso planeta.