Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti

No mundo há muitas armadilhas
e o que é armadilha pode ser refúgio
e o que é refúgio pode ser armadilha
(Ferreira Gullar)

O medo é um obstáculo à ética, porque paralisa a ação. E se não podemos agir, então estamos apartados de nossas escolhas, isto porque se não há ação não há possibilidade, não há devir.

Uma ação paralisada se configura como uma prisão no tempo presente. Estar preso é não poder prosseguir, é não ir adiante porque estamos acorrentados a nós mesmos. E se entendermos o pensamento como um modo de ação, concluímos que estar preso é manter em cativeiro nossa alma, é impedir o fluxo de nossas ideias e romper com a perspectiva de alteração e transformação. Estar preso é continuar a estar preso. É estar incapaz, pela circunstância que nos é imposta pelo próprio medo, de deixar de ter medo. É aniquilar a ideia de futuro como algo diferente. É impedir que a ideia de futuro, como algo libertador, seja realizada. E assumir que a prisão do sono, ou daquele que sonha preso em uma cama, é a única realidade possível. Presos e amordaçados, como deliberamos? Como escolhemos se estamos intimidados, se temos medo de caminhar adiante?

Ter medo é como se deparar num labirinto espiralado, e se ver como quem escorre num ralo, mas sem poder ir embora, sem conseguir escapar para longe do redemoinho de eternas repetições.

Estar com medo é o mesmo que estar morto.


Miniensaios de Filosofia, volume: Ética, Medo & Esperança, cap. XXV, editora Vozes, 2013.

Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]

Foto de mahdi rezaei/Unsplash
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