Por Arthur Meucci Flávio Tonnetti
Não creio na existência. Não é possível atingir a realização de algo que chamamos “eu”. Ilusão é sinônimo de mim. Ir e vir são coisas determinadas pelo mundo, pela sociedade. Nascer é determinado pelo corpo. Ou pelos corpos de outros que não lhe pertencem: maternidade e paternidade são partes deste processo de coisas: criação de corpos através de corpos. Se é o corpo quem determina a vida, sou filho de um corpo que me define — e que definha. Existir é, nas melhor das hipóteses, definhar.
Existência é excrescência, excesso. Mas pensar a existência como um algo a mais ou um algo além ainda é enganoso, pois permitiria pensar a existência como um milagre, como uma exceção, como uma joia ou como uma dádiva. Existência não é o que sobra, mas o que não veio. Pois para existir é preciso escolher, e a vida não é escolha; se fosse, poder-se-ia escolher não transformar-se em vida. E não há escolha antes do útero, antes do feto, antes da infância. Antes do ser há o nada. E como somos consequência de coisas alheias à nossa vontade, o que nos resta é o nada também durante a vida. Ser não é não ser. Não somos autônomos: somos autômatos.
Miniensaios de Filosofia, volume: Amor, Existência & Morte, cap. XVIII, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
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