Por Ronaldo Campos

Este artigo é continuação do artigo A qualidade dos produtos japoneses.

O Círculo de Controle de Qualidade (CCQ) é um programa através do qual um grupo de trabalhadores se reúnem para analisar seus problemas e propor soluções no local de trabalho; buscando ampliar a participação dos trabalhadores no controle e na administração das empresas, acabam fazendo parte de uma gerência democrática. Logo, a participação torna-se voluntária, o tema ou problema que será tratado é de livre escolha por parte dos colaboradores e geralmente o grupo inclui o chefe ou supervisor. Os membros da cada grupo aprendem metodologias para a identificação e solução de problemas.

Segundo o professor Ishikawa, que iniciou os programas massivos de controle de qualidade no Japão, disse que seu objetivo era fazer com que as pessoas crescessem, muito mais que controlar a qualidade ou reduzir os custos; isto é parte das práticas administrativas japonesas de sucesso, centrada no desenvolvimento a longo prazo de seus colaboradores. Apesar de chamar “círculo de qualidade”, desde o princípio seus objetivos foram muito além da qualidade, como parte integrada em toda uma série de práticas administrativas e de produção.

Existem algumas considerações a serem feitas quanto ao CCQ:
1. sua estrutura é paralela à estrutura organizacionalformal da empresa;
2. os programas não alteram a estrutura organizacional formal;
3. não ocorrem mudanças na hierarquia;

A estrutura de alguns programas de círculos de qualidade e participação pode ser descrita como uma “organização paralela”, já que coexiste com a estrutura organizacional que executa o trabalho normal e rotineiro, com o intuito de reforçá-la e não substituí-la, podendo funcionar de uma maneira mais flexível, mais participativa e mais inovadora.

A principal função dos círculos são as reuniões nas quais os problemas são levantados, analisados e soluções são propostas. Existe uma metodologia específica em que os “circulistas” (aqueles que participam do CCQ), se baseia para nortear as atividades. Sendo que esta metodologia é ensinada, a priori, aos “circulistas”. A principal característica da metodologia é o estudo das partes (abordagem atomística); simplificação de técnicas estatísticas, análise de problemas; e, racionalização do trabalho que tradicionalmente é utilizado pela engenharia de produção.

Há uma grande variedade de problemas e sugestões apresentadas, uma vez que o critério básico adotado pela direção da empresa é o de ouvir qualquer ideia. O importante , para a empresa, é a forma de expressão, ou seja, o que ela mais incentiva é a participação voluntária dos trabalhadores na gestão da empresa. De acordo com várias pesquisas feitas no Japão, as sugestões puderam ser classificadas do seguinte modo: melhoria da produtividade, diminuição dos custos, racionalização trabalho e até a supressão de atividades pela automação.

Os Círculos de Controle de Qualidade são integrados de maneira estável e permanente na organização, portanto, não deve haver pressa e nem economia de esforços na sua implantação. Em primeiro lugar, deve-se explorar o apoio que pode haver entre os diversos níveis de gerência, sindicato e colaboradores. Uma das maneiras de se conseguir esse apoio, é programar um curso de introdução sobre círculo de qualidade, como parte dos programas de capacitação da empresa, no qual é possível analisar a receptividade que existe para o tema.

Depois é preciso que uma pessoa desempenhe a função de “coordenador geral” do programa não necessáriamente desempenhando somente essa função dentro da empresa. O passo seguinte é a criação de um Comitê Diretivo, podendo representar os vários níveis e áreas da empresa, tendo a responsabilidade de planejar, obter informações sobre o programa, definir objetivos e políticas e fazer avaliações periódicas. O próximo passo é nomear um facilitador (ou vários de acordo com a amplitude e o tamanho da organização), que recebrá primeiro um curso para depois desempenhar o cargo (de tempo integral ou parcial) de assessor dos círculos.

Alguns pontos devem ser levados em conta para o estabelecimento de políticas sobre círculos de qualidade e participação; listados a seguir existem algumas perguntas que podem servir como base de discussão para que o Comitê Diretivo decida uma política sobre os círculos de qualidade em uma empresa:

a. Quais os objetivos do programa?
b. Como serão recrutados os voluntários?
c. Como acompanhar o círculo e exercer alguma supervisão?
e. Como escolher os líderes de cada círculo?
d. Qual deve ser as frequências das reuniões?

Após todas as etapas mencionadas acima, inicia-se um programa-piloto, em que todas as políticas são postas a prova e melhoradas. Selecionam-se os líderes e os grupos (voluntáriamente), estabelecem-se objetivos e normas precisas de avaliação para o programa-piloto, faz-se um curso para os líderes, um programa de treinamento para os membros do círculo e, depois de um período de funcionamento dos círculos no programa-piloto, o Comitê Diretivo faz uma revisão. Então, todo esse ciclo é repetido ao se expandir o programa e ao se estabelecer avaliações periódicas.


Foto: TruckRun/Unsplash

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