Tradução e adaptação de Ronaldo Campos
É comum descrever o mundo como se fosse apenas dividido em dois blocos: o bloco Ocidental e o bloco da aliança autocrática sino-russa. No entanto, esta forma de pensar é muito limitante. Para começar, o Ocidente nem sempre está unido, como demonstrou o presidente da França, Emmanuel Macrona, indo à China, em abril do ano passado, em busca de parcerias comerciais. Entretanto, o mais surpreendente na disputa pela hegemonia mundial é não levar em conta a outra metade da população global, ou seja, os 4 bilhões de pessoas que vivem espalhadas em mais de 100 países e não “pertencem” a nenhum dos dois blocos.
Os países “não alinhados” são cada vez mais importantes na medida em que a ordem global se fragmenta. Por exemplo, a Índia e a Arábia Saudita estão fazendo acordos entre si e querem ter mais voz ativa nos assuntos mundiais. Por ser uma região formada por muitos países, não há nenhuma intenção de formar um bloco. Mas isso não quer dizer que esses países não influenciam nos assuntos globais, tais como o preço do barril do petróleo ou as negociações de paz na Ucrânia.
O não-alinhamento começou na década de 1950 quando os Estados em desenvolvimento estavam ansiosos para exercer suas recém-adquiridas soberanias no meio das tensões crescentes entre os EUA e a União Soviética. Ao longo das décadas, o antiamericanismo aumentou e afastou de vez qualquer intenção de adesão a um dos dois blocos. Em 1956, John Foster Dulles, secretário de Estado dos EUA, pressionava os países independentes e chegou a chamar o não-alinhamento de “imoral”. Quando a Guerra Fria terminou, o não-alinhamento se tornou irrelevante.
No entanto, é um erro subestimar o papel global dos países não-alinhados por duas razões: em primeiro lugar, a influência econômica só aumenta e em segundo lugar são os maiores defensores da globalização. Todos os países situados entre o México e a Indonésia querem negociar livremente com os dois blocos. Juntos formam as 25 maiores economias mundiais e afirmaram querer continuar neutros na disputa sino-americana. Esses países representam 45% da população mundial e a participação no PIB global aumentou de 11% para 18% desde a queda do muro de Berlim.
O Ocidente busca aumentar sua influência nesses países. Os EUA e seus aliados devem resistir a tentação de recorrer à tácticas que acabem por transformá-los em adversários. No entanto, apenas os apelos à ordem liberal, que foram criados após a Segunda Guerra Mundial, não serão suficientes para vencer essa batalha pela hegemonia. É extremamente importante que o Ocidente leve em consideração as necessidades dos países não-alinhados para que possa criar uma relação de confiança.
Apesar dos pontos fortes do Ocidente, como o estímulo ao livre mercado e o livre acesso à informação, algumas questões precisam ser melhoradas. O mais importante delas é a criação de relações mais confiáveis — como o que vem acontecendo entre os EUA e a Índia. A ordem mundial emergente está muito longe da aceitação unipolar dos EUA, como na década de 1990. Afinal, na competição pela influência global, o Ocidente tem boas chances de vitória, pois mais de 4 bilhões de pessoas estão ansiosas para ver o que ele pode oferecer.
Fonte: The Economist
Leaders | Non-alignment | Apr 13th 2023