Por Belita Koiller
Entrevista Carolina Cronemberger
Adaptação Ronaldo Campos

Belita Koiller é professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1994, onde realiza pesquisas teóricas em propriedades eletrônicas dos sólidos em uma área mais geral chamada Física da Matéria Condensada. No trabalho atual, ela está estudando o comportamento de materiais preparados em escala nanométrica, visando a possibilidade do controle individual dos elétrons em semi-condutores. O objetivo é a utilização destes sistemas nas operações elementares necessárias à implementação da computação quântica. Por essas pesquisas, Belita recebeu, em 2005, o prêmio UNESCO-L’OREAL, concedido a mulheres que se destacam na ciência. “É o reconhecimento da maturidade da física brasileira, porque não basta que haja muitas mulheres fazendo física, é preciso que a infra-estrutura de trabalho esteja madura e desenvolvida”, diz numa das muitas entrevistas que tem concedido desde que recebeu o prêmio. Para ela, este prêmio é importante para valorizar o papel da mulher nas ciências, assim como para incentivar os jovens de forma geral para carreiras nas áreas de ciência e tecnologia. “A ciência é uma opção viável de carreira no Brasil”, acrescenta com a naturalidade de quem trabalha nisso há 30 anos. “O trabalho bem sucedido em Física, como em outras profissões, requer vocação, dedicação aos estudos de forma intensa e contínua, representando isso uma satisfação e não um sacrifício. Relato aqui um fato ocorrido há cerca de cinco anos, quando a UFRJ organizou um ciclo de palestras públicas “Física para Poetas”, que foi um sucesso. Um vestibulando, entusiasmado pelas palestras, decidiu pela Física como opção profissional. (Um parêntesis: no Brasil esta opção é cobrada extremamente cedo dos jovens). Estranhei quando ainda durante o primeiro ano ele abandonou o curso de graduação. Um colega, que tinha mais contato com este aluno, comentou: “ele gostava mais de poesia do que de física”. Concluindo, é importante que a opção profissional seja tomada com informação e maturidade.”

Belita sempre foi incentivada por sua família a ter uma profissão. Sobre isso ela diz: “A mensagem clara, que tive da minha família, foi que deveria ser profissionalmente ativa e independente, mas eles também deixaram claro que esperavam que me casasse e formasse minha família”. A princípio pensou em ser professora secundária, pois sempre gostou de dar aulas, mas percebeu que poderia juntar seus interesses por ciências e matemática e o gosto em lecionar fazendo Física. Sente-se privilegiada por ter tido, durante a escola, informação suficiente para lhe permitir escolher a Física como profissão.

Em 1971 se formou na PUC do Rio de Janeiro, seguindo depois para o doutorado em Berkeley, nos Estados Unidos, que concluiu em 1976. Voltou ao Brasil e trabalhou inicialmente na PUC. Atualmente é professora titular na UFRJ.

Sempre fez pesquisa e assegura que o ritmo intenso de trabalho e dedicação que um pesquisador precisa ter não atrapalhou sua vida fora da Física: “A pesquisa não atrapalha minha vida particular, mas exige uma disposição mútua de todos os membros da família em termos de reconhecimento e valorização da parte profissional. Para vencer as dificuldades que aparecem no trabalho de pesquisa, Belita sugere que é importante ter “uma atitude otimista” e muita perseverança: “Às vezes tomamos caminhos equivocados que nos levam a pequenas derrotas e precisamos começar tudo de novo”.

Belita é uma pessoa otimista por natureza. Com relação à questão da mulher na ciência, assinala que “Há tantas dificuldades no Brasil que afetam homens e mulheres, que me sinto mal de ficar me queixando de discriminação. Mas há no nosso meio discriminação, que precisa ser reconhecida e superada” e ainda acrescenta: “A humanidade é carente de talentos. Portanto, na escolha de uma profissão, deve-se levar em conta a vocação e não o preconceito. A competência não escolhe gênero, é inerente tanto ao homem quanto à mulher”.


Esta entrevista é de domínio público e tem por objetivo divulgar a ciência. Faz parte da coleção Algumas razões para ser um cientista que procura desmistificar e estimular o estudo da ciência — principalmente para os jovens.

Foto de Mark König/Unsplash
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