Por Ronaldo Campos

A dolarização da economia, a eliminação do Banco Central e a drástica redução do tamanho do Estado são algumas das promessas do novo presidente da Argentina Javier Milei, eleito em 19 de novembro, no segundo turno, com mais de 56% dos votos. Mas quem é Javier Milei?

Milei nasceu em 22 de outubro de 1970 na cidade de Buenos Aires e cresceu em uma família de classe média. Durante a infância sofreu violência física e psicológica do seu pai e desde 2010 não tem mais contato com ele e nem com a mãe. “Quando cresci, ele parou de me bater e passou a infligir violência psicológica”, contou em uma entrevista ao jornalista Agustín Gallardo. “Ele sempre me disse que eu era lixo, que eu iria morrer de fome, que eu seria inútil.” Porém, na perspectiva de Milei, o abuso físico e psicológico que ele sofreu na infância e juventude, em vez de enfraquecê-lo, o fortaleceu: “Isso fez com que agora eu não tenha medo de nada”, afirma.

Milei é extremamente apegado a sua única irmã, Karina Milei, um ano mais nova do que ele. Milei reconhece que “sem ela, nada disso teria acontecido”. O presidente eleito comparou o vínculo deles com o do profeta mais importante do judaísmo, Moisés, e seu irmão Aarão.

Economicamente ele se define como anarcocapitalista, uma corrente que busca minimizar o papel do Estado na economia. É uma proposta radical e complexa, que seus críticos alertam que pode funcionar bem como discurso, mas que pode se tornar um problema na prática diante da eventual perda de empregos públicos e de programas de assistência social dos quais depende uma boa parte da população argentina.

A partir de 10 de dezembro: dolarização da economia?

A questão que se coloca é até que ponto suas ideias radicais poderão ser realmente aplicadas em um Estado que ele considera seu principal “inimigo”. Na verdade, agora inicia-se o teste para quem tanto esbravejou contra tudo e contra todos. Quanto a dolarização da economia, um grupo formado por mais de 170 economistas divulgou em 10 de setembro um documento criticando a proposta de Javier Milei. Eles acreditam que uma tentativa de dolarização formal seria uma iniciativa política imprudente para enfrentar os desafios complexos com os quais a economia argentina deve lidar.

“Embora a promessa de uma moeda estável tenha certamente alimentado a esperança de amplos setores da população castigados pela contínua erosão do poder de compra de seus rendimentos, a experiência internacional e a própria situação da nossa economia indicam que a proposta em questão está longe de ser um remédio e que, pelo contrário, poderá causar múltiplas dificuldades para o nosso desempenho imediato e futuro”, afirmam os economistas.

Realmente, o futuro dos argentinos é muito incerto e dependerá se Milei governará o país em ritmo de tango, com passos improvisados e paradas repentinas, ou de heavy metal.

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