Ronaldo Assais Ribeiro Campos

Resumo: Neste artigo apresento um pouco da minha trajetória estudantil e profissional. Destaco a importância de entendermos as respostas científicas — no meu caso, dadas pela Psicologia — e ao mesmo tempo estarmos alertas para os nossos desejos e vozes internas.

Como nem sempre tudo está perdido, fecho o artigo dizendo que apesar dos vários e diferentes caminhos que escolhemos para nossas vidas, sempre há uma força, queiramos ou não, que é muito mais poderosa que nós e quiçá trará bons frutos.

Palavras-chave: Escolha profissional. Decisão. Educação corporativa.

 

Aos 14 anos minha mãe levou-me para um “psicólogo especialista em vocação profissional” (ou algo parecido). Acho que de tanto perturbá-la com a falta de clareza de qual profissão escolher, ela escolheu alguém para dar conta de minhas indecisões.

Não lembro com detalhes dos testes aos quais fui submetido, mas lembro com clareza duma pequena redação e em seguida de passar por um tipo de entrevista. Não tenho a mínima ideia do que escrevi, nem das respostas dadas às perguntas, porque, (in)felizmente, muitos detalhes de nossas lembranças se vão com o tempo. Sei que saí de lá com a mesma sensação de quando entrei, ou seja, baita dúvida do que fazer com o meu futuro.

Passados alguns dias, penso que talvez um mês, voltamos ao tal consultório para apanhar o resultado. Recebi um envelope grande, colado e com meu nome escrito à máquina (naquela época, nem se sonhava com computadores). A ansiedade era tão grande que abri o envelope lá mesmo. Primeira folha, segunda folha, terceira folha… e nada. Um monte de blá-blá-blá. Não entendia nada! Então, resolvi pular tudo e ir direto para a última página. Finalmente, e agora sim, encontrei o nome de duas profissões: jornalismo ou publicidade. Quis morrer! (Que não me levem a mal os profissionais dessas áreas. São apenas reflexões e exposições de sentimentos infantis íntimos, que hoje entendo como uma grande deficiência minha por não compreender os fatos daquela época.)

Hoje em dia isso acontece com menos frequência, mas era muito mais comum as famílias (com certeza a minha) induzirem seus filhos para que escolhessem entre medicina ou direito ou engenharia. Por isso, fiquei desesperado, já que nenhuma das três opções “possíveis” constava na última página. E agora?

Resolvi me desapontar e tentar seguir o mais próximo possível o protocolo. Mesmo assim, houve certa pressão para que eu estudasse Engenharia. Formei-me em Administração de Empresas — já que era o mais próximo de Direito e Engenharia; no percurso da graduação, interrompi o curso para tentar Engenharia (cursei dois anos e foi um desastre) e sempre ensaiei estudar Direito. Confesso (primeira confissão e talvez a única que eu faça neste artigo) que não tive coragem. Só fiquei no ensaio!

A decisão de interromper a graduação em Administração e tentar a Engenharia veio pelas circunstâncias da vida. Minha mãe estava recém-separada e com poucos recursos financeiros. Então, abriu um pequeno negócio na área de alimentos e fomos trabalhar com ela (minha irmã e eu). Assim feito, achei que era momento de atender aos desejos familiares e ao mesmo tempo conciliar com o trabalho que ora surgia.

Cursei Engenharia de Alimentos por dois anos. O curso é ótimo, pois oferece disciplinas nas áreas de exatas e biológicas. É bem estruturado, exige bastante dos alunos e os estudantes entram num mundo de misturas químicas, cheiros, formas, cor que praticamente é infinito. Apesar de ter gostado muito do que vi e aprendi, senti que não era para mim pelo simples fato de não ter tido maturidade para ler e compreender os resultados que estavam nas folhas um, dois, três… e, também, talvez o mais importante, por conta da ansiedade, não dei ouvidos à minha fala interna. Não prestei atenção ao que os psicólogos disseram e que tão bem estava apontado no teste vocacional.

Voltei para o curso de Administração de Empresas e abracei a profissão de administrador. Trabalhei por mais de 26 anos em grandes empresas multinacionais e nacionais. Acumulei experiências, aprendizados e de minha parte penso que contribuí com o que foi possível.

“Resolvi me desapontar e tentar seguir o mais próximo possível o protocolo.”

 

A Administração tem esta vantagem, ou seja, abrange várias áreas do conhecimento (finanças, marketing, recursos humanos, vendas) e para alguém como eu (apesar de alertado pela psicologia), que seguiu outros caminhos, acabei encontrando meu espaço na área de finanças e depois na área de vendas. Esta é outra vantagem da Administração, ou seja, é muito comum os profissionais trilharem suas carreiras em mais de uma área. E depois, com cursos de aperfeiçoamento profissional que são ministrados interna ou externamente às organizações, tais como os programas de especialização lato sensu (MBAs, mestrado profissionalizante, entre outros), mestrados e doutorados acadêmicos, o profissional acelera seu aprendizado e passa a atuar com rapidez produtiva na nova área.

Tive experiências com cursos internos e externos às organizações nas quais trabalhei. Um deles foi o MBA Varejo, ministrado na Universidade Corporativa da empresa de varejo em que trabalhava, em parceria com a FIA/USP. O outro foi um MBA em Gestão com duração de dois anos, ministrado, também, pela FIA. E diversos outros cursos, treinamentos e aperfeiçoamentos surgiram ao longo do tempo. O que mostra quanto esse processo de aperfeiçoamento profissional é importantíssimo e fundamental para a capacitação do funcionário e, consequentemente, para que as empresas atinjam seus resultados.

Porém, apesar de toda essa possibilidade e diversidade de conhecimento que a Administração oferece, sentia um vazio interno e que precisava ser preenchido com outros saberes. E foi nessa época de vazio que conheci, por meio do trabalho, um estudante de Ciências Sociais. Interessante porque ele era infinitamente mais entusiasmado com a Filosofia do que com seu próprio curso; de tanto falar sobre ela, resolvi assistir a uma aula de Filosofia na USP.

Escolhi assistir à disciplina de Introdução à Filosofia. Foi suficiente para entender que ali era possível preencher um pouco (talvez muito) do meu vazio interno. No ano seguinte, prestei vestibular e estava matriculado na graduação. Foram anos incríveis! Como é gostoso aprender e entender outros pensamentos que nem imaginava que existiam, discutir conceitos e ideias que pertencem a todos nós e ao mesmo tempo vivê-las. O resultado disso? Preenchimento de muitos vazios, porque penso que numa vida é impossível preencher tudo, e uma segunda graduação concluída em 2002.

Mas, caro leitor, apesar de tudo, tem algo nesta vida incompreensível, mais forte que todos nós juntos, que alguns entendem como divino, para outros é puro conformismo e eu gosto de chamar de destino — assim como muitos, também. E faço justiça à Psicologia, pois ela apontou-me o caminho a seguir… e agora meu destino trouxe-me até aqui para anunciar que, enquanto for permitido, estaremos juntos em cada edição da nova revista corporativa do Espaço Ética – INSPIRE-C.

Pois é! Longe de ser um colunista habitué e menos ainda um jornalista, pois sei que nada sei e muito tenho que aprender, pretendo com muita humildade, dedicação, seriedade e com exercícios diários de aprendizados, cumprir com meu destino e levar até vocês o melhor possível da INSPIRE-C.

Espero não o decepcionar, amigo leitor, bem como aos diretores institucionais, Clóvis de Barros Filho e Karina Macieira, do Espaço Ética e da revista INSPIRE-C.

A todos vocês, agradeço de coração pelo voto de confiança e oportunidade.

Um grande abraço e até a próxima edição.

Ronaldo Assais Ribeiro Campos

[email protected]

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