Por Ronaldo Campos
Recentemente, assisti a uma reportagem sobre os benefícios do pôquer — algo que nunca imaginei ser possível. Já ouvi falar dos benefícios do xadrez, por exemplo, que jogar xadrez melhora as conexões neurais. Mas pôquer?!?!
Eu, que sou leigo no assunto (não sei jogar pôquer), sempre achei que esse jogo trouxesse mais malefícios do que benefícios. Dominado pelo estereótipo desses jogadores, principalmente os que aparecem nos filmes de Hollywood perdendo tudo que possuem — a casa, o automóvel, a família etc. —, por serem viciados e compulsivos, nunca achei que houvesse quaisquer proveitos, além da vontade de ganhar dinheiro, é claro! Mas essa reportagem me mostrou outro lado da história.
Fiquei muito surpreso ao saber que, entre outras coisas, o pôquer ajuda no raciocínio, na sensibilidade para entender o comportamento dos outros jogadores e a controlar a ansiedade. Essas habilidades, que os jogadores de pôquer desenvolvem, são naturalmente aplicadas no dia a dia dessas pessoas. Ou seja, pode-se dizer que o pôquer proporciona um aprendizado psicológico de modo que os jogadores se tornam mais sensíveis e atentos aos diversos comportamentos e sinais de seus adversários. E para quebrar de vez o meu estereótipo negativo, a reportagem mostra um sujeito que é considerado uma das maiores lendas do pôquer: Erik Seidel.
Pela fisionomia, jamais diria que Seidel fosse um jogador de pôquer. Sujeito alto, magro, calvo, com olhar acanhado e fala mansa, ele mais parece um professor de física do que um jogador profissional. E o interessante foi vê-lo em casa com a esposa e os filhos, quando, após alguns minutos, ele se despede para ir trabalhar, ou seja, jogar pôquer. Essa cena joga por terra tudo de ruim que é construído em torno dos jogadores profissionais de pôquer. Seidel ganhou oito vezes a Word Series of Poker (WSOP), considerada a olimpíada do pôquer. Além da premiação em dinheiro, o campeão também recebe um bracelete de ouro.
Claro que, como tudo na vida, sempre se pode fazer um mau uso das coisas: um carro, que é um meio de transporte, pode ser utilizado para matar outra pessoa; uma faca, que serve para cortar alimentos, pode ser utilizada para ferir alguém e assim por diante. Com o pôquer não é diferente! Isto é, tudo que se desvirtua de seu objetivo principal, de sua essência, e que ultrapassa o bom senso, torna-se potencialmente maléfico. A ideia central da reportagem é mostrar que a prática controlada desse jogo pode trazer, sim, além do entretenimento, outros benefícios neurológicos e psicológicos aos jogadores que são moderados e conscientes.
Jogar com moderação e consciência faz bem, sim. Aprendemos a ter mais paciência, a entender os sinais psicológicos e subliminares dos adversários e a ganhar e perder. O mesmo acontece com os jogos virtuais, ou seja, há diversos aprendizados e lições de autoconhecimento: quais são os nossos limites e reações diante das mudanças bruscas de cenários, quais são as estratégias e raciocínios que adotamos para vencer e superar as dificuldades impostas pelo sistema etc.
Mesmo que todos os jogadores busquem o Royal Flush, que é a jogada mais forte do pôquer, praticamente imbatível — similar ao xeque-mate do xadrez —, sabemos que nem sempre vamos ganhar, mas tirar lições sábias das derrotas talvez seja o maior aprendizado de todos.
Como diz a cantora Maria Alcina: “Gosto de fazer as coisas enquanto aprendo”. No nosso caso: vamos jogar e aprender.