SERGIO REZENDE
Instituto de Física | Universidade Federal de Pernambuco

Entrevista | CAROLINA CRONEMBERGER

Nascido no Rio de Janeiro, Sérgio Machado Rezende ocupou diversos cargos políticos de grande importância para a ciência no Brasil. Foi diretor científico da FACEPE (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco), Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco, presidiu a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), chegando a assumir a pasta de Ministro da Ciência e Tecnologia, sem, contudo, ter parado de trabalhar em suas pesquisas sobre Materiais Magnéticos. Uma trajetória de grande sucesso para alguém que pensa que sua história, até se tornar um verdadeiro físico, “não é muito ortodoxa para as pessoas que fazem Física”. Conta que quando começou a aprender Física e Matemática no equivalente ao segundo grau de hoje, descobriu, pelas mãos de seu professor, um desafio que não conhecia em outras matérias. Foi desafiado pelo fato de ser apresentado a um problema e precisar construir a solução, única, lançando mão de fórmulas matemáticas e raciocínios lógicos para encontrá-la. Segundo ele, teria sido essa a razão por que passou de um aluno mediano no 1o. grau, como se define, a um dos melhores alunos de sua turma: “principalmente em Física e Matemática. E depois em Química também”.

Isso se passou em meados da década de 1950, quando também decidiu entrar para o curso de Engenharia. Passou em alguns vestibulares, mas decidiu por fazer na PUC do Rio de Janeiro o curso de Engenharia Eletrônica. Eletrônica já era seu passatempo. Fora das aulas, montava e desmontava rádios com seu tio, que era radioamador. Mas sempre, mesmo que de longe, era atraído para a Física, e no 3o. ano da faculdade era monitor do laboratório de Física Básica. Em seguida, teve bolsas de iniciação científica, sempre orientado por físicos, e em dois assuntos ligados à Física: primeiro, radioatividade e Física Nuclear; depois, micro-ondas. Ao se formar não sabia exatamente o que pretendia fazer, só queria continuar estudando: “queria me aprofundar mais”. E assim foi para os Estados Unidos, fez mestrado e doutorado por lá. Foi lá, durante seu doutoramento, que tomou gosto pela vida acadêmica realmente: “No doutorado mergulhei na pesquisa”. Seus trabalhos desta época foram publicados em revistas de Física Aplicada. Conta que esse foi o início de sua carreira de pesquisador em Física.

Quando retornou ao Brasil, em 1967, foi prontamente contratado para o Departamento de Física da PUC do Rio de Janeiro, para trabalhar com Física Aplicada. Em pouco tempo, Rezende tinha mais um desafio: trabalhar também com teoria, influenciado pelo clima da universidade, que nesta ocasião não dispunha de grandes laboratórios na sua área, Matéria Condensada. Ele conta que, a partir daí, e durante toda a sua carreira, se dividiu entre teoria e experiência. Aconselha aos teóricos que mantenham sempre em mente os resultados experimentais. Ele próprio se define como “um experimental que gosta de explicar tudo o que está acontecendo”.

Quando saiu para a pós-graduação fora do Brasil, algumas pessoas o alertaram que isso poderia comprometer sua busca por emprego ao retornar. “Até uma certa
idade eu não me preocupava muito com o meu futuro, nem pensava na minha aposentadoria”, ele lembra e acrescenta: “a vantagem que o jovem tem é esse desprendimento em relação às coisas, uma certa ousadia que uma pessoa mais velha acaba não tendo mais, fica mais conservadora. Muitos dos melhores resultados em pesquisa acontecem porque as pessoas ousam!”. Sérgio Rezende sustenta que essa postura ousada e desafiadora é sempre útil para um pesquisador, e é o que o leva a fazer coisas que os outros não fazem, a enxergar possibilidades antes não vistas: “O que pode motivar um pesquisador a explicar o que acontece ao redor da gente é ter o desafio de enfrentar o desconhecido”.

É este desconhecido, que Rezende está sempre pronto a desafiar, que fez com que ele criasse um grupo de pesquisa, hoje bastante forte, na Universidade Federal de Recife, em Pernambuco. Ao voltar dos EUA, já com filhas (ele tem três), Rezende não estava completamente feliz morando no Rio, onde nasceu e cresceu, e dando aulas na PUC. Neste período, foi orientador de dois estudantes de mestrado vindos de Pernambuco. Esses dois rapazes, juntamente com outros três que estavam em São Paulo, tinham como objetivo maior terminar o mestrado, voltar ao Recife e criar um grupo de pesquisa em Física por lá. Através de Sérgio Mascarenhas, “que é um físico pioneiro”, acrescenta, conseguiram apoio no CNPq para esta empreitada, em forma de um convênio que possibilitaria a volta dos cinco mestres, e mais um doutor, para formar a base deste grupo. Eles ainda precisavam de alguém com doutorado e mais experiência, logo, Sérgio Rezende topou mais esse desafio, e aceitou o convite, a princípio para ficar três ou quatro anos, e voltar depois para a PUC ou para a Unicamp, onde tinha trabalhado por alguns meses antes de ir para Pernambuco. O fim dessa história ele conta com suas palavras: “Quando eu fui pra Recife, eu tinha dois contratos, um na PUC e outro na Unicamp. Suspendi os dois. Fiquei lá. Me tornei pernambucano, já estou lá há 33 anos. Hoje eu sou pernambucano!”. Indaguei sobre seu sotaque, ainda um pouco carioca: “Os outros lugares eu viajo, passo, mas lá é que me sinto em casa. É lá que é a minha casa”.


Este artigo é de domínio público. Foi transcrito da coleção Algumas razões para ser um cientista com o objetivo de divulgar, desmistificar e estimular o estudo da ciência, principalmente entre os jovens.

Diagramação | RONALDO CAMPOS
Foto capa de Nikita Palenov/Unsplash
Foto mídia de Sunder Muthukumaran/Unsplash
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