Por Camila Barreto

Ao pronunciarmos qualquer palavra, emitimos sons que são produzidos em diferentes partes da nossa boca. Esse conjunto de órgãos que utilizamos para falar é chamado de aparelho fonador e envolve não somente a boca, como ainda a laringe, a faringe, as fossas nasais, os pulmões — que produzem o fluxo de ar necessário para a produção sonora, isto é, a fonação — e, obviamente, as cordas vocais. Dessa forma, o aparelho fonador é dividido em sistema articulatório, sistema fonatório e sistema respiratório.

Os sons que produzimos ao falar são chamados de fonemas. Os fonemas são estruturas sonoras que formam as palavras de uma língua; são classificados em vogal, semivogal e consoante. Essas estruturas variam de acordo com o que acontece no aparelho fonador quando pronunciamos o som de uma letra ou sílaba ao dizer uma palavra. Se a corrente de ar emitida pelos pulmões faz as cordas vocais vibrarem, então o fonema será sonoro; caso contrário, será um fonema surdo. Se essa corrente de ar sai pela boca, então se trata de um fonema oral, mas se ela sai pelo nariz, como quando falamos a palavra “manhã”, então é considerado um fonema nasal.

É importante ressaltar que apesar de os fonemas serem representados por letras entre barras oblíquas (//), não se pode confundir letra com fonema, uma vez que a letra é uma representação gráfica e o fonema é o som. No caso das vogais, geralmente a letra é a mesma utilizada para representar o som, mas com as consoantes, essa associação direta pode levar ao erro. Um exemplo disso é a palavra casa, na qual a letra “s” não representa o som de /s/, mas sim de /z/. Os fonemas da palavra casa são, portanto, /c/ /a/ /z/ /a/.

Cada língua tem o seu conjunto de sons e suas combinações possíveis. A língua portuguesa do Brasil tem 31 fonemas, sendo 12 fonemas vocálicos e 19 fonemas consonantais. Assim, todos os falantes de língua portuguesa do Brasil são capazes de emitir os sons necessários para que possam se expressar utilizando a língua. Além disso, ao aprender um novo idioma, é possível também pronunciar sons que não existem na nossa língua materna.

Como mencionado, cada língua tem o seu sistema fonético-fonológico e, portanto, seu conjunto de fonemas. Na língua coreana, por exemplo, não existe o fonema /z/, como aquele que utilizamos na palavra Brasil. Nesse caso, o /z/ é substituído por outro fonema, que envolverá outra movimentação do aparelho fonador.

Há, ainda, muitas línguas que compartilham os mesmos fonemas. O famoso “t glotal” do inglês britânico é um tipo de fonema consonantal chamado de oclusiva glotal. O fonema recebe esse nome porque a sua forma de articulação é oclusiva, isto é, a partir da obstrução do fluxo de ar no trato vocal; e glotal porque essa articulação ocorre na glote, onde estão as pregas vocais. Esse som, representado graficamente pelo uso do apóstrofo /’/, não existe na língua portuguesa brasileira, mas curiosamente esteve presente na língua tupi, utilizado no verbo nhe’eng (falar) e em outras palavras, como ka’atinga, que originou a palavra caatinga, que significa “mata branca”.

E por falar em tupi, a língua teve grande influência fonética no português brasileiro, bem como as línguas africanas que aqui chegaram. Na verdade, pode-se dizer que o Brasil tem uma rica variação fonética em seu território graças às línguas que passaram por aqui e às que aqui estão. De norte a sul, o som que emitimos para pronunciar a mesma palavra pode mudar muito, até dentro de um mesmo estado a mudança pode ser notada. Um falante de português do interior de São Paulo pronuncia o /r/ da palavra “porta” de forma diferente de como um falante de português do Rio de Janeiro pronuncia ao falar a mesma palavra.

Destarte, a variação linguística que aqui existe também influencia os sons que emitimos, de forma que eles variam de acordo com a região. Apesar disso, os fonemas não mudam completamente, e ainda assim somos capazes de nos compreender sob a mesma língua.


Camila Barreto foi a vencedora do Projeto Escrita 2019. Atualmente estuda Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

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