Por Ronaldo Campos

Assim como no tráfego aéreo, em dezembro baixamos os flaps, fazemos os últimos checks e nos aproximamos da pista, em uma descendente, até aterrissar. Mesmo aqueles que não celebram o Natal e o Ano-Novo aproveitam as festas de fim de ano para tirar alguns dias de folga. A sensação de “missão cumprida” é acompanhada pelas tradicionais celebrações em família e/ou nas empresas.

Na época das vacas gordas não havia amigo-oculto no Natal em família: todos recebiam presentes e todos davam presentes. Não era preciso combinar com “os parentes anuais” — parentada que só aparece em festa — quem levaria o peru, o tender, o aperitivo, a bebida e a sobremesa. Antes da ceia, dava para se empanturrar de castanhas, de amêndoas e de nozes. O peru era acompanhado de duas farofas: a gorda com os miúdos e a seca, dourada, com bastante manteiga. A mesa era extremamente farta e a primeira fatia do peru, com a pele bem torrada, ia para os donos da casa. O negócio mesmo era devorar tudo e depois levar alguns “embrulinhos” para aqueles que não puderam ir.

As empresas também já tiveram seus tempos de bonança financeira, que permitia gastar milhões na festa de fim de ano. Muitas delas eram temáticas, por exemplo, Os sete pecados capitais (Bloomberg, 2000), Harry Potter e a Pedra Filosofal (Credicard, 2002) e Googlympus (Google, 2006), com shows de cantores famosos, tais como Ivete Sangalo na Credicard e Robbie Williams no Deutsche Bank. A festa Os sete pecados capitais custou US$ 1,5 milhão. Não é à toa que na época a empresa foi muito criticada por cometer, no mínimo, três dos sete pecados capitais (entre as empresas, era costume divulgar e “competir” pela festa de arromba de fim de ano).

Não demorava muito para se ouvir de algum parente “eu gosto tanto de você”, “precisamos nos encontrar mais”, “puxa! o ano voou e não nos vimos”… Provavelmente ele não sabe qual é o dia do seu aniversário, o que você fez durante o ano e qual é o seu sobrenome, sem ser do lado da família dele. Nas empresas não é diferente, porque as pessoas se esquecem de que não estão em uma festa familiar e começam a te abraçar e a dizer que gostam muito de você. Elas só não se lembram do seu nome e do departamento em que você trabalha. É incrível como o efeito do álcool deixa as pessoas mais desinibidas.

Muitas empresas estão revendo a festa de fim de ano: seja por economia ou para evitar os excessos entre os colaboradores. A celebração realizada durante o expediente traz algumas vantagens: pessoas com filhos pequenos conseguem manter sua rotina; mesmo que liberado o consumo de álcool, as pessoas tendem a beber menos e a festa se torna mais genuína pelo fato de a empresa dispensar os colaboradores. Festas noturnas parecem mais uma obrigação do que uma celebração. Além disso, há pesquisas que mostram que apenas 25% dos colaboradores preferem festejar nas empresas do que com seus familiares e 75% preferem reverter o dinheiro gasto na festa em bônus anual.

Afinal, é fácil curtir as festas de fim de ano se a pessoa é livre para escolher a maneira como quer celebrar suas conquistas e realizações — isso inclui a não participação nas festas. O importante nessa época é abastecer sua aeronave com o melhor combustível possível, traçar o novo plano de voo, evitar as turbulências e entender aquelas que te pegaram no meio do caminho no ano passado e verificar a lista de passageiros (esse é o ckecklist mais importante!). Feitos todos os checks (combustível, rota, escalas, condição meteorológica e passageiros), é só começar a taxiar e ir para a cabeceira da pista. Em breve a torre chamará pelo seu voo e você estará pronto para decolar para mais um ano que se inicia.

Que curta cada instante do seu novo voo em 2023.

Boa viagem!

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