Por Constantino Tsallis

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
Rio de Janeiro|RJ|Brasil

Entrevista de Carolina Cronemberger
Diagramação de Ronaldo Campos

Pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio e colaborador de diversos outros institutos de pesquisa ao redor do mundo, Constantino Tsallis conseguiu em sua carreira como físico teórico enorme projeção e prestígio dedicando-se principalmente à Física Estatística. Trabalhou com os maiores cientistas atuais e é um dos cientistas  brasileiros mais citados.

Apesar de se considerar totalmente latino-americano, Tsallis conta que herdou dos pais, gregos, o amor pelo conhecimento e pela beleza. Ele está sempre em busca da forma mais bela possível em seu trabalho de pesquisa. Seus pais eram bastante cultos e davam valor enorme ao conhecimento e ao estudo, e com frequência se comunicavam em outras línguas para que seus filhos não entendessem, o que só fazia com que ele e seus dois irmãos fossem aprendendo outros idiomas.

Ainda criança se mudou para a Argentina. Durante a escola, Constantino diz que gostava de todas as matérias, “menos contabilidade”. Na verdade, o que ele gostava mesmo era de estudar. Interessava-se principalmente pelas notas de rodapé de livros, e pequenas observações. Como um arqueólogo, gostava de ir descobrindo aos poucos os detalhes. Por causa dessa diversidade de interesses não se importava em escolher medicina como queria seu pai. No último ano da escola preferiu entrar para Engenharia Química. Os dois primeiros anos de engenharia, bem mais gerais do que os outros, foram ótimos para ele. Mas à medida que o curso foi ficando mais específico, percebeu que não era aquilo que ele desejava. Como já era assistente dos professores de Matemática, resolveu que sua escolha seria entre Física ou Matemática. Escolheu física por ser mais ampla e diversificada e também por ter assistido a uma palestra sobre um instituto de física localizado em Bariloche. Como ele mesmo explica: “pela física eu já me interessava antes, fiquei mesmo muito interessado no lugar”. Na Argentina terminou o mestrado e foi fazer sua tese de doutorado na França.

Daí em diante construiu uma carreira de enorme sucesso. Desenvolveu em 1988 uma generalização da estatística de Boltzmann-Gibbs e da Termodinâmica, atualmente usada em diversas aplicações. A curiosidade, segundo ele, é característica necessária para um bom pesquisador. “Algumas pessoas olham aonde o rio vai parar; outras de onde aquele rio vem. Para fazer física é preciso ter a curiosidade de saber de onde vem o rio, não muito para onde ele vai.”. Assim ele faz em sua pesquisa, procura as causas muito mais do que as consequências.

Além disso, ele acha que é importante ter vocação para o raciocínio lógico. E muita intuição. É preciso ter a tendência para adivinhar as respostas. Ao começar a trabalhar em um problema, ele sempre tem preferência por algum resultado, aquele que ele gostaria de achar. “É preciso uma ponta de pré-conceito”. Então quando se obtêm esses resultados é uma espécie de déjà vu, senão, deve-se voltar atrás e ver o que foi que deu errado. É nessa brincadeira que se faz física “de modo efetivo” para Constantino. E completa: “Se o problema não te diz nada, se você não tem preferência pelo resultado, então naquele momento ele não é tão bom”. Nem todo mundo tem a sorte de ter uma intuição tão bem desenvolvida como a dele. Em sua defesa de tese de doutorado, o Professor Andre
Guinier lhe fez um elogio importante diante das pessoas que assistiam: “M. Tsallis adivinha a resposta!”.

Sua forma de fazer física é cercada de particularidades, como a busca constante pela beleza e pela forma. “Em física em particular, a conexão da verdade com a beleza é primordial”. Ele conta que tenta sempre elaborar suas equações na forma mais bonita possível, só assim ela pode atingir as pessoas de forma diferente e aumentar a criatividade. “Sempre que escrevo equações, a forma final é a mais estética”. Conta que começou sua Estatística por uma equação que generalizava a entropia de uma forma tão bonita que deveria estar certa. Com ela ele continuou e chegou à forma final de sua teoria como é conhecida hoje. “A maneira que você apresenta predispõe a uma espécie de sonho que vai além daquela equação”, diz Tsallis. Um pouco como parece ser para ele a própria Física, uma beleza que vai além das suas equações, que torna necessário um espírito sensível a essa beleza para apreciá-la.


Esta entrevista é de domínio público. Foi transcrito da coleção Algumas razões para ser um cientista com o objetivo de divulgar, desmistificar e estimular o estudo da ciência, principalmente entre os jovens.

Foto capa: Wallpapers
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