Por Thiago Mota

Gosto sempre de lembrar que empresas carregam consigo um nome oficial que é o de razão social. Desde sua fundação, essa conotação quase kármica nos convida a lembrar que devemos ter uma razão de existir para a sociedade.

Mas será que todas empresas se lembram disso? Dessa razão de ser? Pois bem, não muito tempo atrás, o conceito da necessidade e objetivo de existência de um negócio se limitava à geração de lucro para seus acionistas. Com o tempo, esse conceito foi mudando, se ampliando e surgiu a seguinte pergunta: Como podemos ir além do lucro?

Em seu livro Comece pelo porquê, Simon Sinek nos convida a refletir inicialmente sobre esta motivação de criarmos produtos e serviços para as pessoas. Com a evolução da condição humana na Terra, também seguimos evoluindo em algumas questões, por exemplo, na área da saúde, jurídica, sanitária, alimentar etc. Essa evolução diz respeito a um maior grau de consciência sobre como julgamos as pessoas, como nos alimentamos, como educamos e cuidamos das crianças. E essa evolução de consciência também chegou e/ou vem querendo chegar às organizações.

O termo mais quente para definir esse ampliar de consciência é o ESG, acrônimo em inglês que representa os aspectos ambientais (environment), sociais e de governança de um negócio/empresa/instituição.

De uma forma geral, muitas empresas ainda correm para compreender o que é o ESG e como aplicá-lo na prática. Em especial, o mercado financeiro, pois enfim começou a compreender melhor a relação entre esses aspectos e a melhoria na sua reputação, relação com clientes e geração de valor para o negócio.

As práticas de ESG nos convidam a olhar para o importante pilar da cultura nas organizações, aliada ao imprescindível papel das lideranças como verdadeiros guardiões dessa cultura.

Segundo reportagem do jornal Valor Econômico, a expressão surgiu em 2004 como resultado de relatório feito pelo Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) que tem o objetivo de engajar empresas e organizações na adoção de princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção, em parceria com o Banco Mundial, chamada “Who Cares Wins” (ganha quem se importa). Ou seja, a busca por reputação não é de hoje.

Vale a pena lembrar que existem movimentos como o Capitalismo Consciente, tema que também dá nome ao livro de John Mackey e Raj Sisodia, no qual são destacados quatro pilares importantes para nortear as empresas:

1- propósito;
2- orientação para stakeholders;
3- liderança consciente;
4- cultura consciente.

Na mesma linha de trabalho, podemos conhecer as chamadas Empresas B, conceito criado em 2006 nos Estados Unidos pela empresa B-Labs. A letra “B” significa “benefício”, ou seja, empresas que passam por um processo de certificação por gerarem benefícios para a sociedade. Segundo o Sistema B Brasil: “As Empresas B são um novo tipo de negócio que equilibra propósito e lucro, considerando o impacto de suas decisões em seus trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidade e meio ambiente. São empresas que buscam ser melhor PARA o mundo e não apenas as melhores do mundo”.

Esse movimento de olhar o trabalho nas organizações, segundo o escritor Fritjof Capra, vem da evolução do modelo mecanicista/cartesiano até os tempos atuais, que urgem pela integração dos saberes. Em seu livro O ponto de mutação, Capra nos convida a um olhar sistêmico e apresenta uma nova realidade, em que há a conciliação da ciência, do espírito humano e o futuro a emergir no próximo passo.

Um livro que também ganhou importância e se tornou um marco no Brasil para empresas que querem elevar seu grau de consciência foi Reinventando organizações, do belga Frederic Laloux. Ele destaca, por meio de cores e paradigmas, o nível de gestão de uma organização a partir de seu grau de consciência, as classifica por estágio de desenvolvimento e nos fornece um verdadeiro guia sobre como ir subindo de degrau em degrau.

Porém, nem tudo são flores. Ao descobrir a relação entre consciência, responsabilidade e engajamento de clientes, algumas empresas tentaram desviar o olhar para o impacto de suas operações, no que ficou conhecido como greenwashing (lavagem verde) — uma alusão ao desejo de serem vistas como ambientalmente responsáveis. Em matéria publicada pelo site Politize, foi divulgada pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) que, em 2018, “analisou mais de 500 embalagens de produtos de higiene, limpeza e utilidade doméstica para verificar a prática do Greenwashing. A pesquisa descobriu que em quase metade (48%) das embalagens dos produtos foram encontradas informações falsas sobre a responsabilidade ambiental!”

Porém, hoje vivemos a tal da era da informação e desvios como esses têm ficado cada vez mais difíceis de ocorrer. Em pesquisa realizada pela PWC, “77% dos investidores institucionais disseram que planejam parar de comprar produtos não ESG nos próximos dois anos”. Em 2021, a XP, uma empresa de investimentos, realizou o evento Expert XP, focado no tema do ESG, mostrando a importância do assunto para seus correntistas/investidores e refletindo sobre a “preocupação crescente do mercado financeiro sobre a sustentabilidade”, conforme destaca o Pacto Global. Ainda segundo o PG: “Os critérios ESG estão totalmente relacionados aos chamados ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), termo cunhado pela ONU para se referir aos 17 macrotemas que representam os desafios e vulnerabilidades que precisam ser endereçados por todos até 2030 para caminharmos no desenvolvimento sustentável do mundo”.

Portanto, apesar de não ser algo novo, o ESG parece ter vindo para ficar e, conforme destacou a revista PEGN: “tornou-se uma forma de se referir ao que empresas e entidades estão fazendo para serem socialmente responsáveis, ambientalmente sustentáveis e administradas de forma correta”. Segundo dados da Endeavor, a Ambima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) registrou que, em 2020, havia cerca de R$ 700 milhões em fundos ESG, quase três vezes mais do que no ano anterior.

Portanto, faz-se necessária, mais do que nunca, uma visão holística, sistêmica e integrada das organizações e do seu impacto no planeta no curto, médio e longo prazo. Um olhar mais consciente sobre o que estamos oferecendo às pessoas, entendendo a diferença entre crescimento e desenvolvimento. Você já deve ter ouvido por aí que não se fala mais apenas em sustentabilidade, mas em regeneração. Afinal, não existe, até o momento, um “Planeta B”.


Thiago Mota
Sócio e fundador do Novo Expediente, caminho que escolheu para levar mais consciência sobre como lideramos e gerimos as organizações. Formado em Relações Internacionais, tem MBA em Gestão de Negócios pela FGV e atualmente estuda Psicologia Analítica pelo Ijep/SP. É designer de experiências de aprendizagem pela Kaospilot/Copenhagen, mentor de negócios de alto impacto e facilitador de grupos em temas como liderança, cultura e inovação em diversas organizações no País.

Contato: [email protected]

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