Por Gustavo de Oliveira

Muitas vezes cobra-se muito de um jogo de videogame. O público em geral sempre quer que os jogos tenham os melhores gráficos, as técnicas mais apuradas e toda a grandiosidade possibilitada pelos avanços tecnológicos dos últimos anos. Mesmo com esse desejo público, isso não é garantia de uma experiência satisfatória, porque muitas vezes grandes jogos não conseguem atingir o íntimo de um jogador.

Existem vários exemplos minimalistas que tocam e ficam marcados na vida de quem joga essas obras. Um deles, que em menos de duas horas consegue emocionar, é A Short Hike.

É curto em duração, pequeno em tamanho de locais para explorar, sucinto em complexidade gráfica e até em sua equipe de desenvolvimento, composta por apenas três pessoas. Mas imenso em sentimentalismo e carisma. Nele jogamos com a Claire, um pássaro que está passando férias de verão na ilha de Hawk Peak, junto de sua tia. Mesmo com a tranquilidade de seus dias, ela tem um grande problema. À espera de uma ligação telefônica, Claire percebe que nenhum lugar da ilha possui sinal. A solução é escalar a montanha mais alta do local para conseguir receber o telefonema.

Esse é o nosso objetivo explícito. Com muita determinação, devemos escalar e superar todos os objetivos que a natureza coloca à nossa frente. Porém, existe uma série de objetivos ocultos, que nos são apresentados de maneira gradual e implícita. Claire é bem jovem, ainda está crescendo, amadurecendo e descobrindo como funciona o mundo à sua volta. Por isso, nossa jornada ao topo é cercada de descobertas e encontros com personagens especiais que vão enriquecendo nossa experiência.

As conversas com os habitantes da ilha vão fazer com que a protagonista possa lidar com a insegurança da escalada e também da vida. Reflexões são constantes por aqui e, com elas, não só a personagem, mas nós iremos repensar o nosso cotidiano e como deixamos nos levar pelos medos diante de algo novo. Apesar de todo o visual bem infantil, A Short Hike consegue atingir todos os públicos, principalmente por conseguir lidar e expor a nostalgia das descobertas de quando somos criança.

O jogo é cheio de referências evidentes aos filmes do diretor japonês Hayao Miyazaki. Ele é recheado de momentos contemplativos, em que a única coisa que precisamos fazer é apreciar e refletir. Além de conseguir adaptar e expandir a narrativa por meio de um direcionamento que parece superficial, mas é muito profundo, A Short Hike consegue subverter as expectativas colocadas sobre os videogames. Ele preza pela simplicidade para assim conseguir atingir poderosamente a todos.


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

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