Por Maria Helena Federice Lousada
Inoportuno seria julgar o quadro pintado em 1888 por Pedro Américo (1843–1905), Independência ou Morte, também conhecido como O grito do Ipiranga, porque não retrata a realidade do dia 7 de setembro de 1822, em que d. Pedro I declarou a Independência do Brasil. Verdadeiramente, o pintor não tinha interesse que fosse um retrato fiel daquele momento e que, no referido quadro, D. Pedro I figurasse como herói nacional. Tampouco é de relevância a diarreia sofrida pelo príncipe enquanto cavalgava uma mula ao longo do riacho Ipiranga, em São Paulo.
Século XXI, 2022. Faz 200 anos que o Brasil separou-se de Portugal. É necessário provocar uma revolução no olhar, que consiste em analisar o mapa do Brasil, verdadeiro continente, neste planeta, onde se observa, ao norte, a exuberante Amazônia, floresta formosa, com valor inigualável no mundo, o “Pulmão da Terra”, que por meio de sua sustentabilidade poderá receber créditos de carbono, garantidos pelo Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, o qual visa à diminuição dos gases do efeito estufa. Esses incentivos colaborarão para a conservação da biodiversidade. Na época de D. Pedro I e há bem pouco tempo, a floresta era bem avaliada quando se desmatava e a madeira era vendida a outros países. Hoje, o valor está nas árvores em posição vertical e a justa preservação da fauna e da flora.
O olhar revolucionário essencial obriga que se continue contemplando, atualmente, o mapa em seus pontos cardeais: o Nordeste se destaca pela cultura da cana, pecuária, indústria em geral e turismo. A maior criação de gado de exportação encontra-se no oeste, local em que está presente o Pantanal, um ecossistema incomparável, também aproveitado como turismo. O Sudeste, com São Paulo encabeçando essa região, apresenta o maior complexo industrial da América Latina. O Sul se destaca com a produção diversificada e estável. Bem diferente de 1822, quando o cultivo da terra era incipiente e se exportava a matéria-prima extraída do solo e do subsolo, e havia dependência de importações e dos grandes latifúndios, onde se explorava o trabalho escravo.
Em 2020 e 2021, o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP e a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) atestaram recordes na produção agropecuária nacional. Pode-se considerar, no momento, o agronegócio brasileiro como um “celeiro” mundial na geração de alimentos.
A soberania foi conquistada logo após a Independência. A cultura e as artes, aos poucos, ganharam destaque em 1840, 18 anos depois — a literatura despontava com José de Alencar (O guarani), Gonçalves Dias (Primeiros contos), Álvares de Azevedo (Lira dos vinte anos), Castro Alves (O navio negreiro) e Fagundes Varela (Cântico do Calvário).
O entrelaçamento histórico foi-se desenrolando e a Língua Portuguesa permaneceu constante e dominante, como unidade nacional, apesar dos movimentos separatistas que se desencadeavam em vários estados, com o risco de desintegração territorial e que tanto preocupavam o príncipe.
Muito além de um “brado retumbante”, o país está representado entre as dez economias mundiais. Faz-se urgente aprimorar-se e evoluir em todas as áreas, alcançando magnificência em educação, habitação, mobilidade, saúde, no modo de fazer política, na geração de empregos, no apoio às pesquisas científicas, no tratamento das tribos indígenas e dos afrodescendentes — em especial, dos quilombolas. Medidas eficazes, socioculturais são prementes no combate à violência em todos seus aspectos relevantes, porque Independência é um projeto contínuo. Porém, não se pode negar que em 200 anos muito se conseguiu.
A tecnologia significa a onda revolucionária em que se deve “surfar” e o mirante brasileiro deve se transformar em realizações, em uma viagem sem volta ao período colonial, em um processo mais frenético que as “margens plácidas do Ipiranga”, de maneira considerável.
Se d. Pedro I foi um príncipe português rebelde e se Pedro Américo fantasiou O Grito, não importa aos nossos olhos. Ambos são personagens da história da pátria, marcada por erros e acertos. Ainda que se saiba que naquele período 90% da população constituía-se por analfabetos, não se pode negar o protagonismo que teve esse povo com determinação de liberdade imensurável.
Maria Helena Federice Lousada é graduada em Letras (Português/Inglês), com Licenciatura Plena, pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira, São Paulo (SP).
Registro no Ministério da Educação e Cultura, com habilitação em Português/Inglês (Literatura e Língua Portuguesa 1º e 2º graus/ Literatura e Língua Inglesa 1º e 2º graus).
Mestre em Educação pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb), SC, 2003.