Instituições são feitas por pessoas. Seus defeitos, qualidades, inseguranças, conceitos, preconceitos, aspirações, desejos, inspirações. Começando 2018 com o pé direito, a seção Culture-C vem dialogar com você, leitor, buscando trazer lugares novos e multiplicar experiências — as nossas e as suas.
São Paulo é uma imensidão. Ao prezar pela nossa rotina, muito da cidade nos escapa e locais, espetáculos, livros, conversas e filmes escondidos podem trazer experiências novas e diferentes com o mundo. Aqui, neste Recanto, compartilharei com vocês um pouco daquilo que encontro pela cidade.
Nesta edição, selecionei dois espaços multiartísticos, a Capital 35 e o Kasulo Espaço de Cultura e Arte.
Mainá Santana, Sub-editora de Cultura
ESPAÇO MULTIARTÍSTICO CAPITAL 35
A Capital 35 é um espaço bastante múltiplo. A casa, situada em Perdizes, tem uma diversidade de ambientes que contempla a gama de ações artístico-culturais propostas pelos residentes e convidados. De espaço de coworking artístico à Airbnb, a Capital 35 existe desde 2012 e é sede da Jorge Garcia Companhia de Dança, dirigida pelo coreógrafo Jorge Garcia, e do Prego Batido, escola de música e estúdio do percussionista Eder “O” Rocha. Além das atividades realizadas por esses dois núcleos independentes, a casa recebe regularmente outros colaboradores nacionais e internacionais que ministram oficinas, workshops, realizam apresentações e exposições temporárias.
Programas de formação em artes, exibições de vídeo, exposições temporárias, programas de residência artística, bazares, festas e, às sextas e sábados, espetáculos de dança, teatro, música e performance. O coletivo de artistas que gere a casa desenvolve uma série de ações públicas com pensamentos ressonantes na economia criativa e na gestão colaborativa de espaços autogeridos. E o lugar é agradável, aconchegante e intimista.
Para a equipe, a Capital 35 é um local de confluência de ideias e desejos em relação à arte contemporânea. Um espaço afetivo que abriga artistas com trajetórias diversas, uma profusão de pessoas que compartilham o entendimento de que é na lida cotidiana, na prática ao longo do tempo e nas trocas com o trabalho dos outros que novos modos de produzir arte, fruir experiências e viver podem surgir. Ou seja, um novo contexto de produção em arte contemporânea.
Além de atividades públicas com curadoria dos artistas residentes da Capital 35, a casa possui um espaço cênico, salas de trabalho, espaços de convivência internos e ao ar livre e uma cozinha compartilhada que podem ser alugados, sendo alguns desses espaços acessíveis apenas por escada. A casa ainda oferece Wi-Fi livre e cardápio com sopas, petiscos, cervejas e vinhos nos dias de espetáculo.
SERVIÇO:
Rua Capital Federal n° 35 – Perdizes, São Paulo. Próximo ao metrô Sumaré e Av. Professor Alfonso Bovero.
Horário de funcionamento | De segunda a sexta, das 15h às 19h
E-mail |[email protected]
Telefone | (11) 3467-3524
facebook.com/capitalc35/
Aceita dinheiro e cartão de débito | $
KASULO ESPAÇO DE CULTURA E ARTE
O Kasulo Espaço de Cultura e Arte é um interessante espaço cênico situado na Barra Funda. Foi fundado em 2008 pelo coreógrafo Sandro Borelli inicialmente para ser a sede de duas companhias, a Cia Carne Agonizante (da qual é diretor e coreógrafo) e a Cia Fragmento de Dança. Ao longo dos anos, o Kasulo passou a abrigar e desenvolver atividades artísticas permanentes, como oficinas de dança clássica e contemporânea, oficinas de teatro e iluminação cênica, preparação corporal para atores, discussões de políticas culturais, rodas de conversa com escolas públicas e espetáculos de diversos grupos culturais da cidade.
Um bonito projeto realizado no Kasulo é a Terça Aberta. Uma terça-feira por mês a Cia Fragmento de Dança, dirigida por Vanessa Macedo, abre as portas do local para novos e renomados criadores apresentarem seus espetáculos em processo, sempre com uma roda de conversa para ouvir a devolutiva do público.
O espaço é administrado pelos diretores das companhias e conta com a colaboração dos artistas residentes para a produção e organização de suas atividades. Segundo Vanessa, o Kasulo atua como um espaço de resistência diante da situação político-econômica enfrentada pela cultura na cidade, tendo seu sentido orientado à criação, difusão e formação em dança, dialogando com diversos artistas e suas produções.
A sala cênica fica no segundo andar e o acesso é feito apenas por escadas. Apesar disso, o público encontra assentos agradáveis, todos com boa visibilidade, e uma sala de espera, em geral, com quitutes preparados pelos artistas.
SERVIÇO:
Rua Souza Lima, 300 – Barra Funda, São Paulo. Próximo ao metrô Marechal Deodoro, conta com estacionamento próximo.
Horário de funcionamento| segunda a sexta, das 9h às 22h. Aos fins de semana, consultar programação
E-mail | [email protected]
Telefones| (11) 3666-7238 e (11) 96667-1312
facebook.com/Kasulo-Espaço-de-Cultura-e-Arte-267827213292082
Aceita apenas dinheiro | $
Aconteceu
Aconteceu nos dias 16 e 17/12 no Centro Cultural Banco do Brasil a Mostra de Primeiros Filmes na programação Férias Para Todos. A proposta foi falar sobre as representações do corpo e reuniu curtas-metragens de jovens artistas extremamente talentosos, alguns premiados e outros com indicações a prêmios pelos seus trabalhos. Pude assistir e participar da roda de conversa com os diretores e com o curador da Mostra, André Fratti Costa, no primeiro dia do evento. Além da linha temática proposta, o mediador Reinaldo Cardenuto agregou outras convergências, como a relação entre espaço privado e espaço público e como os espaços modificam a nossa experiência com o mundo. No segundo dia de Mostra, a mediação contou com a presença de Marta Nehring. Nem todos os curtas estão disponíveis on-line porque ainda circulam em festivais nacionais e internacionais, mas a lista é maravilhosa e vale a pena ficar de olho!
Ainda não, 21’, dir. Julia Leite
Sinopse: Nos dias que precedem seu aniversário, Marina recebe a visita de sua mãe.
Diva, 17’57’’, dir. Clara Bastos [https://vimeo.com/167755722] – trailer
Sinopse: Camila se aproxima das drag queens que habitam a pensão de Bella.
Enquanto calam-me os agudos, 18’24’’, dir. Laís Perini, Laysa Elias e Letícia Bina
Sinopse: Por meio da colagem de imagens captadas na cidade de São Paulo, junto a relatos de mulheres contemporâneas e de outrora sobre como é habitar e resistir no meio urbano, Enquanto calam-me os agudos apresenta uma constelação de vozes que ecoam o espírito de luta da mulher que perfura o tempo.
O chá do general, 22’, dir. Bob Yang [https://vimeo.com/230065422] – trailer
Sinopse: Huang, um general aposentado chinês, mora sozinho no centro da cidade. Tradicional e conservador, quase não sai de casa. Um dia, recebe a inesperada visita de seu neto.
Ouroboros, 17’, dir. Beatriz Pessoa e Guilherme Andrade [https://vimeo.com/226241138] – trailer
Sinopse: Um pai se torna selvagem em busca de vingança, mas desconhece que, em seu próprio habitat, ele também é um animal.
Sam, 8’29’’, dir. Miguel Moura [https://vimeo.com/229632109] – trailer
Sinopse: Julia quer implodir.
Seria melhor se você tivesse morrido, 19’52’’, dir. Clara Ferrer e Marcella de Finis [https://vimeo.com/224860761] – trailer
Sinopse: Em meio aos dourados dias da adolescência, Ciça e Beca se desconstroem, perdem suas bases, desabam. Quando se levantam novamente, não são mais quem costumavam ser. De certa forma, é como se aquelas meninas do passado tivessem morrido.
Translúcidos, 14’20’’, dir. Coletivo Gleba do Pêssego [https://vimeo.com/216108296]
Sinopse: Translúcidos narra a vida de pacientes presos em uma clínica de tratamento de disforia de gênero. Ali, transgêneros vivem à base de medicamentos e técnicas de aversão, fazendo um claro comentário sobre a presença de transgeneridade na Classificação Internacional de Doenças (CID).
A programação do Férias Para Todos, com a curadoria do coletivo ZEBRA5 – Jogo e Arte, contou com diversas outras atividades, todas gratuitas e para todas as idades, como oficinas, espetáculos de música, cinema e performances.
Arte em vo-C
* Gosta de escrever poesia? E de dançar, atuar, pintar? A partir das próximas edições, esta seção será exclusiva para textos dos nossos leitores! Envie material com o seu nome (ou pseudônimo, fique à vontade!) para que a gente publique e compartilhe na revista e em nossas mídias sociais. Todos têm arte fluindo nas veias, que tal mostrá-la para o mundo? Estamos a um clique de distância 🙂
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Para te encorajar, eu começo:
alforria
é palavra, som, sentido
tocando meu eu sustenido
insiste me fazer escrever
dançar pelo rir e sofrer
artista, em tanto que sobra
da crise à última obra,
o que sou entreato e agora
e dói sentir muito assim
fogo longínquo ardendo em mim
imprimo a mordida no peito
mantenho o quedar do fardo rarefeito
forma de vida sem fôrma
ou lugar onde aperte e transborde
meu corpo transparece a desforra
que o sapato do calo é a arte
a mesma que a alma retoma
afirmação do que falo e reflito
infinitude instável na qual acredito