Tradução, adaptação e diagramação de Ronaldo Campos
Algumas das melhores estratégias para reduzir as chances de desenvolver demência são, para dizer o mínimo, impraticáveis. Por exemplo, estar vivo e não envelhecer, não ser do sexo feminino e antes de nascer, escolher, com muito critério, quem serão os pais. Mas embora a velhice continue a ser, de longe, o maior fator de risco, as mulheres correm mais riscos do que os homens e algumas heranças genéticas tornam a demência mais provável ou mesmo quase inevitável. Porém, as pesquisas mais recentes sugerem que até 45% dos casos de demência são evitáveis ou, pelo menos, podem ser retardados. Essa é a conclusão do último relatório, publicado em 31 de julho pela renomada revista científica The Lancet.
A maioria das notícias sobre demência não são otimistas, apesar dos recentes avanços nos tratamentos do Alzheimer — a causa mais comum para o surgimento da doença. Mas há outros fatores de riscos que podem ser evitados e/ou tratados. Por exemplo, educar-se por toda vida, curar a obesidade, deixar de fumar, evitar bebidas alcoólicas, praticar atividade física — todos são extremamente benéficos para a saúde. O estudo ainda inclui uma boa alimentação: “Coma pelo menos três porções semanais de todas as frutas, vegetais e peixe; raramente beba bebidas açucaradas; e, evite os embutidos (causadores do colesterol LDL*)”.
Alguns dos fatores de riscos modificáveis estão, de fato, muito além do controlo de qualquer indivíduo. Por exemplo, faz uma grande diferença quantos anos de educação alguém teve. Em termos gerais, quanto maior o nível de escolaridade, menor o risco de demência. O ar poluído é outro fator de risco, apesar de algumas contestações, e a única maneira garantida de evitá-lo é não morar em cidades poluídas. O perigo está nas partículas finas conhecidas como PM2,5 (definidas como aquelas que medem menos de 2,5 milionésimos de metro de diâmetro) que, se inaladas, podem aumentar o risco de acidentes vasculares cerebrais, doenças cardíacas, câncer de pulmão e doenças respiratórias – algumas das quais são, por si só, fatores de risco para demência. Mas também é possível que ocorra um efeito cardiovascular mais direto: as partículas podem entrar na corrente sanguínea e afetar as paredes dos vasos sanguíneos, tornando-os menos eficientes na eliminação de resíduos do cérebro.
Resultados positivos contra demência estão aparecendo em algumas populações. Nos países ocidentais ricos, por exemplo, a taxa de incidência de demência diminuiu em 13% de forma consistente nos últimos 25 anos. Gill Livingston, professor de psiquiatria de idosos na University College London e líder da comissão dos pesquisadores da The Lancet, resumiu: “Uma mudança tão rápida e significativa só pode ser o resultado de alterações nos fatores de riscos modificáveis.”
Com a adoção de hábitos mais saudáveis e com o aumento da população idosa, serão necessárias políticas públicas globais para conscientização e combate à demência.
Artigo original publicado na The Economist | Science & Technology | 05/Ago./2024
*O colesterol LDL, ou “colesterol ruim”, é uma lipoproteína que transporta o colesterol do fígado e do intestino para as células dos tecidos do corpo. Quando os níveis de LDL são elevados, o colesterol pode acumular-se nas paredes das artérias, formando placas que podem estreitar as artérias e aumentar o risco de doenças cardíacas, como enfartes e AVC. (texto criado por IA).