Business | Bartleby | The Economist
Tradução | RONALDO CAMPOS
Qual é a sua maior fraqueza? Por que você quer este emprego? Você foi exposto a substâncias químicas tóxicas durante a gestação? Algumas perguntas de entrevista são tão familiares que são usadas em excesso. Outras nunca são feitas.
Experiências precoces, desde o feto até o primeiro emprego, podem influenciar o comportamento das pessoas no trabalho. Em um artigo publicado em 2023, Raghavendra Rau, da Universidade de Cambridge, e seus coautores analisaram o efeito de nascer em regiões altamente poluídas dos Estados Unidos e as decisões tomadas pelos CEOs que envolviam riscos. Os pesquisadores descobriram que CEOs que nasceram em áreas contaminadas por produtos químicos perigosos, assumiam mais riscos do que seus colegas. Algumas das hipóteses é de que a poluição poderia ter afetado o desenvolvimento desses CEOs.
O pesquisador Rau, juntamente com Gennaro Bernile, da Universidade de Miami, e Vineet Bhagwat, da Universidade George Washington, também analisaram o efeito da exposição a desastres naturais em idade precoce. Em um artigo de 2014, os acadêmicos compararam registros de tornados, terremotos e outros eventos catastróficos com as informações biográficas de CEOs nascidos nos Estados Unidos para inferir a probabilidade de terem vivenciado um desastre natural entre os cinco e os 15 anos.
Os CEOs que provavelmente vivenciaram um desastre natural na infância, que ceifou muitas vidas, tendem a ser mais cautelosos no uso de alavancagem financeira (empréstimos com recursos de terceiros com objetivo de aumentar a possibilidade de lucro) e a ter mais dinheiro em caixa do que os CEOs que provavelmente não vivenciaram um desastre fatal. No entanto, desastres menos fatais foram associados a um maior comportamento de risco por parte dos CEOs que os vivenciaram. Os autores levantaram a hipótese de que os riscos que não tiveram consequências extremas podem parecer mais compensadores.
As experiências da infância não afetam apenas o apetite ao risco. Diretores corporativos dos Estados Unidos que passaram por um desastre extremo trabalham em empresas com menores emissões de carbono. Na China, políticos regionais que foram realocados ainda jovens para o campo durante a Revolução Cultural são mais propensos do que seus colegas a implementar políticas favoráveis à população rural pobre. Os efeitos dos ambientes familiares se propagam ao longo da vida, afetando, por exemplo, as decisões sobre alocação de capital. Pesquisadores constataram que CEOs que cresceram em lares onde o pai era o único ganha-pão e tinha maior escolaridade do que a mãe acabam concedendo aos gerentes de divisão do sexo masculino orçamentos mais generosos do que às gerentes do sexo feminino.
Não é de surpreender que o cenário econômico também exerça um efeito sobre os figurões do futuro. Em 2017, Antoinette Schoar, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e Luo Zuo, da Universidade Nacional de Cingapura, analisaram as trajetórias de carreira de mais de 2.000 CEOs de empresas americanas para identificar se suas vidas profissionais começaram durante uma recessão ou não. Eles descobriram que os CEOs que passaram por uma recessão eram gestores mais conservadores — economizavam custos e reduziam a alavancagem —, em comparação aos CEOs que receberam seus primeiros salários em uma economia em crescimento. Essa diferença decorre, em parte, do efeito que as crises têm sobre os tipos de empregos que as pessoas conseguem quando entram no mercado de trabalho. Os CEOs que experimentaram uma recessão têm maior probabilidade de começar suas carreiras em empresas menores ou privadas. Esses efeitos são duradouros sobre como gerenciam até o final de suas carreiras.
Os efeitos da economia no início da carreira também afetam os investidores. Um estudo recente de Jie Chen, da Universidade de Leeds, e seus coautores descobriu que gestores de fundos que começaram em uma recessão produzem retornos melhores.
E daí?, você pode perguntar. Não é surpreendente que as pessoas sejam moldadas por suas experiências. Assim como demografia não é destino, nem desastres, crises ou problemas de desenvolvimento. Indivíduos podem contrariar tendências, bem como se conformar a elas: ninguém deveria selecionar candidatos com base em seus primeiros anos de vida. E se você se preocupa com as vítimas de eventos adversos, futuros CEOs não estariam no topo da lista de suas preocupações.
Mas há três bons motivos para prestar atenção a essas pesquisas. Primeiro, é um lembrete de que os CEOs são moldados por eventos e ambientes fora de seu controle; sabe-se que a sorte desempenha um papel no sucesso profissional, bem como no talento. Segundo, reforça os argumentos em favor da diversidade de experiências nas organizações. Terceiro, sugere que os eventos atuais podem lançar uma sombra muito duradoura. Enquanto os Estados Unidos flertam com a possibilidade de uma recessão autoinfligida, as consequências para os CEOs, bem como para os trabalhadores, podem perdurar muito além de um único ciclo econômico. ■
Este artigo foi publicado em 24 de abril de 2025 na seção de negócios da edição impressa sob o título From cot to corner office. Em uma tradução livre, o título é Do berço ao escritório de canto. As salas ou escritórios que se localizam no canto ou na esquina de um prédio ou andar, geralmente são associados a uma posição executiva de nível superior, ou seja, representam um status em relação às demais salas ou escritórios.
Diagramação | RONALDO CAMPOS
Foto capa | Chandler Cruttenden/Unsplash
Foto mídia | Elina Emurlaeva/Unsplash