Por Gustavo de Oliveira
Produções artísticas de forma geral são exercícios conciliatórios. Uma relação de respeito mútuo entre o autor e aqueles que irão apreciar a obra. Sua dualidade é pautada pela compreensão dos desejos do artista e dos sentimentos e identificação de quem consome. Uma das franquias de jogos que mais exalam essa sensação é Dark Souls. Nascida da mente do projetista Hidetaka Miyazaki, ela ficou conhecida por suas histórias e mecânicas desafiadoras, que mudaram a estrutura dos videogames no mundo todo.
Dentro da série, a obra que mais respira essas ideias, com certeza, é Dark Souls 3. Feito quase como uma homenagem aos seus antecessores, o jogo resgata elementos clássicos, enquanto dá a eles uma roupagem moderna. Nele jogamos com um personagem sem nome, mas conhecido como “Inacesso”, que tem o objetivo de acender o fogo da Primeira Chama para evitar o fim do reino de Lotrich, ou apagá-lo para, quem sabe, assim, criar um novo ciclo de existência.
A narrativa é um dos instrumentos responsáveis por compor a obra de maneira magistral. Sua cronologia e perspectiva são construídas de acordo com a busca por conhecimento do jogador. O conhecimento da história é feito por meio de quanta dedicação é colocada por quem está com o controle nas mãos. Essa característica faz parte do primeiro passo nos desafios do jogo. Pois ela também serve para a compreensão mecânica de Dark Souls 3. Quanto mais integrado em seu universo, mais preparado para os desafios o jogador estará e vice-versa. Cria-se, assim, um ciclo de aprendizado baseado em busca, tentativa e erro.
Ciclos que, inclusive, são a crônica central de toda a franquia. Acender ou não a chama, dar uma chance a uma nova e finita existência por meio do autossacrifício ou dar fim à atual realidade em prol do novo. Todas as ações dentro do jogo são cercadas por esse sentimento de escolhas e ciclos. Cada tentativa após perder para um inimigo traz novas lições sobre escolhas estratégicas e postura de combate. Cada ponto de salvamento traz benefícios e pontos, mas revive todos os adversários que derrotamos em nosso caminho. A experiência só fica realmente completa e recompensadora no momento em que percebemos a constância dos ciclos.
Essas repetições pela alta dificuldade do jogo geram uma sensação de gratificação enorme quando superadas. Enquanto progressivamente vamos aprendendo mais sobre a história, desenvolvemos os atributos do nosso personagem, fazendo com que conhecimento e força caminhem lado a lado. O combate e a ambientação do jogador estão ligados e interdependentes, junto da narrativa fragmentada. Por mais que essa dedicação seja essencial, Dark Souls consegue ser agoniante de se jogar. Cada corredor guarda uma surpresa desagradável ou inimigo em que não queremos esbarrar.
A franquia Dark Souls é um constante exercício de respeito pelas ideias de seus criadores e da capacidade de quem entra de cabeça em suas jornadas. Em seu terceiro ato, a série se encontra com si mesma e propõe um diálogo com os jogadores de maneira única e desafiadora.
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.