Por Ronaldo Campos
O que lhe vem a mente quando você imagina um gestor? Talvez alguém sem graça, rotineiro e sem “vida”? Agora faça o mesmo com um líder. Deve ter imaginado uma pessoa empolgante, inspiradora, sedutora e com um discurso que dá vontade de sair por aí fazendo as coisas. De fato existem distinções, muitas vezes exageradas, entre gestores e líderes.
Várias pesquisas foram realizadas para diferenciá-los. Os gestores, conforme um artigo na Harvard Business Review de Abraham Zaleznik, valorizam a ordem e os líderes são tolerantes com o caos. Um artigo posterior, na mesma publicação, de autoria de John Kotter, descreveu a gestão como uma disciplina de resolução de problemas, na qual o planeamento e o orçamento possibilitam a criação de previsibilidades. A liderança, por outro lado, trata de abraçar a mudança e inspirar as pessoas a enfrentar o desconhecido. Já um terceiro acadêmico americano, Warren Bennis — que popularizou os estudos sobre liderança —, dizia que um gerente administra e um líder inova.
Algumas dessas definições são arbitrárias, porém, mesmo assim, são úteis. Muitas empresas promovem seus funcionários para cargos de gestão porque essa é a única maneira para que progridam na carreira. São focados em processos, gostam de planilhas e são muito organizados. Porém, como há diferenças de perfis, algumas empresas, por exemplo a Shopify, uma empresa de comércio eletrônico, criou planos de carreira separados para gerentes e líderes. A diferença entre gerenciar e liderar não é apenas uma questão de semântica. A pesquisa realizada por Oriana Bandiera, da London School of Economics, analisou os diários de 1.114 CEO em seis países e categorizou os seus comportamentos em dois tipos.
Tipo 1: o líder realiza mais reuniões com outros executivos de alto escalão e interage mais com pessoas de dentro e de fora da empresa, ou seja, se inter-relacionam com mais facilidade. Já o gestor passam mais tempo com os colaboradores envolvidos nas atividades operacionais e praticamente só realiza reuniões com os membros de sua equipe; tipo 2: o líder comunica e coordena. O gerent se aprofunda e se concentra nas atividades. O resultado da pesquisa mostrou que as empresas dirigidas por líderes têm melhor desempenho do que aquelas dirigidas por gestores.
Mas apontar essas diferenças pode ser inútil, por duas razões. A primeira é que ser líder parece muito mais atraente do que ser gerente. Em parte, isso ocorre porque as qualidades de liderança estão associadas a influenciar as pessoas. À medida que o profissional sobe na hierarquia corporativa, passa a frequentar cursos de liderança, ingressa nas equipes de liderança e adota em seu discuro a frase “como líder…”. Na verdade, há uma grande diferença nesses dois arquétipos. Você prefere ser reconhecida como uma pessoa que gosta de fazer orçamentos ou como aquela que sabe influenciar os outros? Do tipo que gosta do status quo ou aquela que quer mudar o mundo? Conforme Zaleznik, não é preciso ter muita habilidade emocional para ser técnico. Não admira que há programas para líderes globais, sejam eles jovens ou não, e não para gestores globais.
A capacidade de inspirar outras pessoas e de assumir riscos torna-se mais evidente à medida que se sobe na carreira. Mas a habilidade para gerir não se torna menos importante. A Dra. Bandiera concluiu que diferentes empresas podem exigir diferentes tipos de CEO. Alguns entregam resultados melhores como “CEO gerente”. A conclusão é que esse debate pode se tornar inútil a medida que se tenta separar o inseparável. Um líder sem conhecimento técnico não levará as pessoas a lugar nenhum. Um discurso cativante, bonito, empolgante e que não traz nenhum resultado prático, não serve pra nada; um gestor que não envolve seus subordinados com os números que estão nas planilhas e no orçamento, não entusiasmará ninguém a por a mão na massa. É preciso ser os dois e saber manusiar a alavanca para frente e para trás — da estratégia à execução, da mudança a manutenção da ordem, da paixão à razão, da liderança à gestão.
Tradução e informações do site The Economist
Foto de capa de Florian Olivo/Unsplash