Por João Cabral de Melo Neto
Tradução de Louis Simpson
Diagramação e adaptação de Ronaldo Campos
O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.
O que o canavial sim aprende do mar;
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.
The sea and the canefield
The sea Yes learns from the canefield
the horizontal eloquence of its verse,
georgics of the news-stand, uninterrupted,
spoken aloud and parallel in silence.
The sea does not learn from the canefield
to rise in a passionate tide,
a pestle pounding the beach,
crushing the sand, making it finer.
The canefield Yes learns from the sea
to advance in a creeping line,
to spread itself out
hole by hole up to the tideline.
The canefield does not learn from the sea
how the sugarcane is always flowing;
that the sea is held, and flowers
less heavily, for it is held.
An Anthology of Twentieth-Century Brazilian Poetry, por Elizabeth Bishop e Emanuel Brasil.
“To the Brazilian poets, their heirs, and their publishers, who have generously given permission for their works to be included in this antology;”
Edição patrocinada pela academia dos poetas norte-americanos.