Por Marcella Erédia e Natasha Lima

Não tem forma melhor de comemorar o Mês da Mulher se não enaltecendo o trabalho de grandes cineastas. Mulheres que se destacaram por sua criatividade e capacidade de inovação, mas que, acima de tudo, abriram caminho para que outras profissionais pudessem se desenvolver no mercado.

Sabidamente, as mulheres do cinema ainda enfrentam desafios cotidianos como o preconceito, o assédio e a falta de reconhecimento. Na cerimônia do Oscar de 2020, por exemplo, atrizes chegaram a protestar pela ausência de indicações na categoria Melhor Direção. Uma reivindicação necessária na luta contra a desigualdade.

Nesta edição, assim como na primeira parte do “Mulheres no Cinema”, buscamos dar luz a trabalhos que, por vezes, são afastados do senso comum. Desta vez, falamos de Agnès Varda e Sofia Coppola, duas cineastas que, apesar de serem de diferentes gerações, se assemelham pela coragem e dedicação à sétima arte.

Por meio das lentes de Varda conhecemos uma França diferente, repleta de questões sociais e emocionais, e sem espaço para o conservadorismo dos anos 1950. Nos trabalhos de Coppola, refletimos sobre questões sociais e afetivas profundas, com as quais todos temos de lidar em algum momento da vida. São experiências cinematográficas distintas, mas cheias de significado para a mulher contemporânea.

Cléo das 5 às 7 (1962)
Direção: Agnès Varda
Elenco: Corinne Marchand (Cléo), Antoine Bourseiller (Antoine), Dominique Davray (Angèle), Dorothée Blank (Dorothée), Michel Legrand (Bob) e mais
Disponível no Telecine Play

Uma jovem artista francesa, Cléo, aguarda o resultado de um exame que pode diagnosticar um câncer em seu estômago. Faltando duas horas para se encontrar com o médico — e por isso o título, das 5 às 7 —, ela passa por uma série de encontros e reflexões que mudarão a sua forma de ver o mundo.

O filme se passa em Paris, nos anos 1950, enquanto a França vivencia a Guerra da Argélia, um dos eventos mais traumáticos da história do país. Apesar do trágico pano de fundo, a tarde de Cléo é voltada para as próprias aflições. Ela passeia pela cidade, encontra pessoas e, ao mesmo tempo, tenta lidar com a angústia e o medo do futuro.

De forma sutil e intimista, o filme aborda questões como a objetificação da mulher e os padrões impostos pela sociedade. Pouco a pouco, Cléo vai se dando conta de que a beleza influencia suas relações e a sua forma de encarar a vida. Afinal de contas, a personagem que criou para alcançar uma carreira de sucesso não combinava com a possível doença.

O filme tornou-se um dos maiores símbolos da Nouvelle Vague — movimento marcado por cenas gravadas em ambientes reais, críticas sociais e por explorar as questões psicológicas das personagens. Em Cléo das 5 às 7, os eventos são mostrados de forma documental e realista, uma estética diferente da encontrada no cinema mainstream contemporâneo.

A diretora Agnès Varda, falecida em 2019, é considerada uma das maiores cineastas de todos os tempos. Seus trabalhos são aclamados por críticos de diversos países e são indispensáveis para quem pretende se aprofundar na sétima arte. São filmes que lutaram contra o conservadorismo de uma época e trouxeram inovações técnicas e estilísticas para o cinema ocidental.

Encontros e Desencontros (2003)
Direção: Sofia Coppola
Elenco: Bill Murray (Bob Harris), Scarlett Johansson (Charlotte), Giovanni Ribisi (John), Anna Faris (Kelly)
Disponível no Telecine Play

Bob Harris é um ator em decadência que viaja a Tóquio para participar de um comercial de uísque. Com seu casamento em crise, nas poucas vezes em que telefona para a mulher, o assunto se resume aos filhos ou à cor do carpete de casa. Tudo somado à diferença cultural e à dificuldade de comunicação no país, ele se sente cada vez mais sozinho.

É nesse cenário que Bob conhece Charlotte, uma jovem que está hospedada no mesmo hotel, acompanhando o marido que viaja a trabalho, e que também vive uma relação desgastada. Mesmo sendo jovem, ela se sente infeliz e tenta superar as ausências do companheiro, que é obcecado pela profissão.

Aos poucos, os personagens desenvolvem uma forte relação de confiança e carinho. Ambos estão perdidos e encontram um no outro a oportunidade de viver experiências únicas, explorando diferentes cantos da cidade. Aqui vale lembrar de uma cena marcante em que Bob e Charlotte visitam um karaokê — você já deve ter visto referências a Scarlett Johansson de peruca rosa, não?

O filme narra a trajetória de dois personagens que estão tentando lidar com seus conflitos internos e com a qual todos podemos nos identificar, ainda que em diferentes cenários. Além disso, a produção chama a atenção para os contrastes entre a cultura ocidental e a oriental e os excessos do mundo globalizado.

Encontros e Desencontros é considerado o grande feito de Sofia Coppola. Garantiu a ela uma estatueta do Oscar em 2004 pelo Melhor Roteiro Original e tornou-se sucesso de crítica e público. Influenciada pelos trabalhos de Federico Fellini e Francis Ford Coppola (seu pai), Sofia é hoje referência para muitas mulheres que sonham em trilhar a indústria cinematográfica e um dos nomes mais importantes do cinema.

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