Por Marcella Erédia e Natasha Lima
O ano de 2020 marca o centenário de um dos maiores maestros do cinema ocidental, Federico Fellini. Criador de obras tão originais e emblemáticas que tornaram o termo “felliniano” um adjetivo para determinadas produções que trabalham a dicotomia entre fantasia e realidade.
Nascido na pequena cidade de Rimini, na costa adriática da Itália, Fellini cresceu com aspirações artísticas, sonhando se tornar cartunista e desenhista. Com apenas 18 anos, ele se muda para Roma, onde começa a explorar o seu talento para a produção de textos e filmes.
O jovem diretor participou ativamente do movimento neorrealista italiano, produzindo filmes como A Estrada da Vida (1954), A Trapaça (1955) e Noites de Cabíria (1957). Trabalhos de sua fase existencialista, que tinham o objetivo de retratar as mazelas do povo italiano no período pós-Segunda Guerra Mundial.
Com o passar dos anos, Fellini passou a explorar outros estilos, como o surrealismo, mas sempre com um olhar crítico sobre a sociedade e os desafios da vida moderna. Com filmes como A Doce Vida (1960), 8½ (1963) e Amarcord (1973) ele continuou a dirigir com sensibilidade, trazendo reflexões que repercutiram por todo o mundo e que ainda são pertinentes.
Em breve homenagem à sua importante filmografia, o Cine Sofá indica dois títulos para começar (ou revisitar) o universo felliniano. Não deixe de conferir!
A Estrada da Vida (1954)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Giulietta Masina (Gelsomina), Anthony Quinn (Zampanò), Richard Basehart (O Louco), Aldo Silvani (sr. Giraffa) e Marcella Rovere (viúva)
Disponível no YouTube
O drama conta a história de Gelsomina, uma jovem de origem simples que acaba sendo vendida pela própria mãe a um artista itinerante, Zampanò, um homem mais velho e bruto que ganha a vida quebrando correntes amarradas em seu corpo.
Ao deixar a vida no campo, Gelsomina passa a trabalhar como assistente nas apresentações de Zampanò. Ela aprende a tocar alguns instrumentos e, como palhaça, entretém o público com músicas e brincadeiras.
Por sua origem humilde, a protagonista é marcada pela inocência. Ela tenta enfrentar as situações com otimismo e, mesmo quando não deve, mantém-se fiel ao companheiro de estrada. Zampanò, por outro lado, é pessimista e desconfiado. Ele despreza a companhia de Gelsomina e só consegue agir em benefício próprio.
A trama se desenrola a partir do conflito entre as duas personalidades, os extremos opostos, e como o mundo se apresenta para cada uma delas. Essa foi uma das formas escolhidas por Federico Fellini para refletir sobre a situação da Itália no pós-Segunda Guerra Mundial.
A Estrada da Vida foi o primeiro filme estrangeiro a ganhar um Oscar, em 1957, e é considerado um dos melhores trabalhos do diretor. Além disso, o longa é uma das maiores referências do movimento neorrealista italiano e possui grande valor histórico, pois imprime sentimentos e preocupações próprios de sua época.
A Doce Vida (1960)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Marcello Mastroianni (Marcello Rubini), Anita Ekberg (Sylvia Rank), Anouk Aimée (Maddalena), Walter Santesso (Signore Paparazzo) e Yvonne Furneaux (Emma)
Disponível no YouTube e no Telecine Play
A Doce Vida ou La Dolce Vita, em italiano, é considerada uma das obras mais importantes de Fellini. O filme é uma produção franco-italiana e marca a transição de estilos do diretor, entre o neorrealismo e o simbolismo.
O longa se passa em Roma, no século XX, e narra a história de Marcello, um jornalista de notícias sensacionalistas que sonha em se tornar um escritor respeitado, mas vive imerso no universo da elite decadente italiana da época.
Cercado por festas e acontecimentos inusitados, o personagem não assume real interesse por nada além da vida superficial que leva e, a cada situação que presencia, se torna mais vazio. Exemplo disso é o fato de ele se envolver com diversas mulheres, mas não conseguir criar um laço genuíno com nenhuma delas.
O filme é uma crítica não só ao estilo de vida da aristocracia italiana, mas também à falta de comunicação da sociedade moderna, à vaidade, à vulnerabilidade das relações e ao sensacionalismo dos tabloides, mesmo em situações de tragédia.
Uma curiosidade sobre o longa é que ele foi o responsável por popularizar o termo “paparazzi”, por meio do personagem Signore Paparazzo, um fotógrafo que acompanhava Marcello e perseguia celebridades.
Junto de produções como Os Boas Vidas e Oito e Meio, o filme foi um dos responsáveis por consagrar Fellini entre os grandes do cinema, tornando-o conhecido mundialmente e adorado por artistas e críticos de Hollywood.
Mesmo após todos esses anos, A Doce Vida segue como uma referência para os amantes da sétima arte e é um convite para refletirmos sobre o que realmente importa.