Por Isabel Ramos
Engano, falsidade, mentira, fraude, embuste, trollagem. Não importa a unidade da língua, o que parece estar claro é que, em síntese, essa roupagem cabe em praticamente todos os tipos de personagens.
— Por favor, o meu tamanho é o 40… rsrs.
De qualquer modo, quem nunca ouviu a passagem da Bíblia que faz menção a Maria Madalena em que Jesus profere: “Aquele que dentre vós nunca tiver pecado (errado), atire a primeira pedra”. E aqui fica a provocação: quem nunca mentiu que se apresente! E o enfoque nesse contexto é totalmente desprovido de julgamento, uma vez que apreciar a vulnerabilidade e, portanto, o processo de construção e entendimento da formação dos valores é que deve ser o esteio dessa composição.
Outro dia foi 1º de abril. Alguém foi pego ou pregou alguma mentira? (Eu, não!) Opa, um instante, nos tempos atuais parece, salvo manifestação em contrário, que o referido dia caiu em desuso, e a expressão da vez é trollagem. Decorre que para este último não há demarcação temporal e a sua prática se faz habitual.
Ao que tudo indica, ao menos tendo por perspectiva contextos sociais, o 1º de abril, em suas vivências passadas, foi demarcado por ações não ofensivas, em que o foco maior era pregar uma peça. Eis que normalmente em sequência, o seu agente trazia a revelação da encenação. Seguindo esse raciocínio, seria possível afirmar que o tal gesto de trollar teria em sua essência a mesma definição do irmão mais velho ou a linha entre trollar/brincar e bullying é muito tênue? Qual é a sua opinião?
Percebam que facilmente somos levados a uma discussão que tem sua relevância social, já que flagrantemente operacionalizada por muitos e respingada com efeitos emocionais altamente nocivos. De todo modo, o caminho a ser percorrido tem sua raiz na curva que antecede o feito (materialização da ação), ou seja, o que leva as pessoas a apreciarem o gozo de tal gesto? VER ALGUÉM CAIR EM ALGUMA “ARMADILHA”.
Será que nos anais da psicologia ou da psiquiatria encontraremos explicações mais fundantes para isso? Terá o homem a necessidade visceral de buscar no erro, na fantasia, na ilusão, ainda que temporários, o prazer da desconstrução de uma vida modelada, correta e conforme social e juridicamente? Estaria aí a razão do sucesso do bobo da corte? Vale um esclarecimento: bobos da corte eram contratados para divertir as pessoas, portanto, eles eram a fonte do erro e da farsa. Assim, pode-se inferir que vivenciamos um espetáculo às avessas.
Quanto dessa reflexão, em sua opinião, é pertinente? (Deixe aqui sua contribuição, vamos movimentar essa discussão.)
Por fim, se nos fizermos de observadores do processo de civilização, será possível encontrarmos algum tipo de evolução referencialmente à construção de uma cadeia de valores mais sustentadas no real ou o mundo competitivo, virtual e barulhento (dada a força subliminar do discurso) normatizou (normose) uma modelagem que desconstrói nossa essência virginal e nos leva a um desenho rudimentar, em que as esferas do inteligível e sensível perdem espaço para um tipo de luz que, ao invés de iluminar, cega?!
A boa notícia é que a normose, neologismo que resulta da soma entre normal + neurose, intencionalmente plantada acima, diz respeito à normalização de condutas nocivas, e, portanto, à repetição sem senso crítico de comportamentos que nos adoecem sob alguma perspectiva. E agora? Bem, uma vez detentores desse saber, você que até aqui chegou já pode avaliar quão adoecido está e quem sabe decidir mudar, ou, simplesmente, pensar.
A mudança requer reconhecimento, que requer vontade, que requer bondade, que requer vitalidade, que requer… o que você quiser. Que você queira!