Entrevistamos o Vice-Presidente da FMC América Latina, Ronaldo Pereira, que conta como a empresa lida com a inspiração e quais são algumas das ações que tornaram a FMC a quinta maior empresa mundial do setor agroquímico.
A diferença entre criar e inspirar é, segundo definições do dicionário Houaiss: “Criar: fazer existir, dar origem, a partir do nada”. Assim, criação é um ato, um processo ou efeito de criar algo. “Inspirar: introduzir ar nos pulmões; exercer ou sofrer influência animadora; entusiasmar-se”. Então, pergunto: como é o processo de criação e inspiração no desenvolvimento de novos produtos da FMC?
Nossa inspiração é o campo. O negócio agrícola é amplo e se apoia em uma missão nobre por si só: produção de alimentos, fibras e energia sustentáveis. Ser um elo dessa cadeia e, portanto, dessa missão, equivale a ser constantemente desafiado a conciliar formas de aumentar a produção sem causar desequilíbrios. Dessa missão vem nossa inspiração para criar novos produtos: sabemos que o agricultor precisa produzir mais, na mesma área plantada, controlando ao máximo os danos causados por pragas e doenças, contudo utilizando tecnologias que sejam cada vez menos agressivas ao ambiente, aos aplicadores e aos consumidores. Enfrentar esse desafio é uma tremenda fonte de inspiração que orienta e movimenta todo o nosso processo de inovação.
No mundo atual, com todas as dificuldades econômicas, sociais e ambientais, você acredita que existam matérias-primas (no sentido de entusiasmo) para inspiração?
Não tenho nenhuma dúvida disso. A maneira como vemos o mundo é uma escolha, não um fato. Em outras palavras, podemos ver o mundo atual como uma série crescente de dificuldades. Mas também podemos pensar que, em vários aspectos, vivemos um momento maravilhoso. Nunca tanta gente foi tirada do nível de pobreza extrema, e a agricultura e o alimento barato têm muito a ver com isso. A concentração excessiva de riqueza continua sendo algo a ser combatido, mas a evolução da educação, o acesso ao alimento e à informação e a conectividade têm nivelado as pessoas, ao menos nos aspectos mais básicos. O progresso tecnológico tem sido mais rápido do que podemos acompanhar, ao mesmo tempo que os desafios também crescem de maneira exponencial. Veja o caso da agricultura: enquanto as demandas por qualidade, quantidade e sustentabilidade na produção agrícola crescem a todo momento, também as tecnologias não param de trazer novas ferramentas, incluindo sementes modificadas, produtos biológicos para controle de pragas e doenças, novas plataformas de produtos químicos menos agressivos, máquinas inovadoras de alto rendimento e, mais recentemente, toda uma onda de tecnologias e produtos relacionados com o ambiente digital, causando um novo salto na gestão das propriedades rurais. Essa dinâmica toda é altamente inspiradora e sempre há aqueles que se propõem a abraçar esses tempos e esses desafios.
Em todo processo de inovação o cliente deve estar no centro da discussão para que ele perceba o valor de tudo o que estamos fazendo.
A inovação é um dos valores da FMC e inovar é tornar novo, ou seja, renovar algo que já existe. Então, entendo que antes de inovar é preciso que haja primeiro uma inspiração (no sentido de influência animadora), depois uma criação e por último a inovação. Você concorda? Poderia dar um exemplo em que a inspiração, a criação e a inovação aconteceram ou acontecem na FMC?
Concordo. As inovações são essenciais para que possamos evoluir e é um princípio básico de todo negócio. Buscamos a inspiração em todos os níveis da corporação e sempre com a ótica no que é foco para o nosso cliente. Em todo processo de inovação o cliente deve estar no centro da discussão para que ele perceba o valor de tudo o que estamos fazendo. Inovar é mandatório desde o processo mais complexo, como da criação de uma nova molécula ou formulação, ao mais simples, como em ajustes de sistemas e formas de atendimento. São inúmeros exemplos que desenvolvemos e continuaremos a buscar ao longo da nossa vida. Temos diversos casos para compartilhar — vou me ater ao mercado de algodão, um cultivo que tem uma longa história com a FMC, e em relação ao qual nossa estratégia sempre foi evidentemente inspirada em nosso cliente: o cotonicultor.
Há 18 anos, num evento da FMC e com um trabalho de apoio na estruturação, nasceu a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão). A necessidade naquele momento era unir o setor para construir bases fortes e diálogo de evolução conjunta. Há alguns anos, a produtividade do algodão estava num crescente acelerado e chegou o momento de buscar mercados internacionais. Realizamos, então, o evento Brazilian Cotton Lint, que trouxe os 20 maiores compradores de fibra do algodão para o Brasil. Fomos, com essa comitiva, a diversas fazendas para que esse intercâmbio não apenas criasse uma relação comercial, mas que eles pudessem indicar os caminhos de melhoria dos processos das fazendas que fortalecessem nossos clientes e assim montassem um modelo sustentável de exportação do algodão brasileiro. Passados alguns anos, vemos as exportações crescendo com base em certificações como Better Cotton Iniciative, e nossos clientes nos olham e agradecem até hoje por termos estado ao seu lado e percebido do que eles realmente precisavam. Atualmente, o foco dos cotonicultores está voltado à valorização do algodão no mercado nacional, unindo todos os elos participantes da cadeia produtiva da fibra, desde o produtor, passando pela fiação, tecelagem, malharia, confecção e varejo, chegando ao consumidor. E a FMC novamente está lá apoiando, participando ativamente do comitê estratégico do movimento Sou de Algodão (www.soudealgodao.com.br), cuja ideia central é ressaltar os atributos positivos de valor e sustentabilidade desta matéria-prima entre os que produzem e consomem moda. Acreditamos muito que semeando e cultivando, construiremos uma história de vida única e importante para os nossos clientes e toda a sociedade nacional.
O escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910) dizia que a inspiração é fruto de um relâmpago e que uma boa ideia é uma lâmpada acesa. Você concorda com essa ideia de inspiração como um momento repentino?
Nunca pensei nisso sob esta luz e não sei se me qualifico para discutir este assunto… Talvez a inspiração seja realmente um momento repentino, mas há uma alimentação prévia que se dá dia a dia, na observação da realidade e no mapeamento dos problemas. Explicando: penso que são a vivência e o conhecimento do nosso setor que nos tornam aptos a ter um flash, um instante de inspiração que resulte na criação de algo de valor prático. Para resolver um problema é preciso conhecê-lo com certa profundidade. Por isso, a proximidade com o cliente e o conhecimento profundo de vários aspectos de sua atividade são valores importantes para nós. É a vivência desses valores que nos possibilita e nos habilita a continuar criando soluções inovadoras que permitam a agricultores do mundo todo seguir adiante na tarefa de alimentar o mundo com quantidade e qualidade em todos os aspectos.