Por Ronaldo Campos
Quando o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019 foi anunciado, no dia 15 de setembro deste ano, mensagens no WhatsApp circulavam concomitantemente ao anúncio, enaltecendo o resultado do único estado que atingiu a meta estipulada pelo próprio Ideb.
Minha sensação é de que estava acompanhando a final do Campeonato Brasileiro de Futebol com torcida organizada, comemorações esfuziantes, gritos de guerra e chacota para cima dos demais times. Sensação de que nem o vice-campeão deveria ser parabenizado, afinal de contas, num mundo competitivo, somente o primeiro lugar importa. Os demais são todos perdedores.
Não é de hoje que sabemos que a educação não vai bem neste país. Assim como mostra o indicador nacional, relatórios internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que é organizado pela OCDE, também aponta resultados insatisfatórios. Em 2018, ano da última edição, 80 países participaram do Pisa e o resultado referente à leitura mostrou que os estudantes brasileiros estão dois anos e meio abaixo do nível de proficiência dos demais países.
Isso quer dizer que um jovem de 15 anos, por exemplo, da Finlândia, tem praticamente as mesmas competências, em termos de leitura, que um adulto brasileiro de 18 anos. É como se um garoto do primeiro ano do ensino médio finlandês lesse e discutisse um texto no mesmo nível que um aluno brasileiro do primeiro ou segundo ano universitário. Ou que um jovem brasileiro de 15 anos só compreende o que uma criança finlandesa de 12 anos lê.
Não sou educador, mas sempre entendi que somente por meio da educação pode-se criar uma relação justa entre as pessoas. Além do mais, desconheço qualquer país que tenha crescido economicamente sem que a educação fosse a base desse crescimento. Não consigo enxergar de outra maneira: educação em primeiro lugar, que resultará numa sociedade justa e segura, com um sistema político digno e com oportunidade para todos. Resumindo: só nos resta educar, educar e educar. O resto é consequência.
Imagine se cada professor, cada educador, cada pessoa que estudou doasse uma aula. Nada muito complicado, apenas as matérias do ensino fundamental e médio. Tudo ali depositado num site aberto para consulta, ordenado por disciplina. Solução utópica, assim como muitas outras eram utópicas: o fim do feudalismo, o fim da escravidão, o direito das mulheres e dos analfabetos ao voto, a queda do muro de Berlim e tantas outras utopias que se tornaram realidade.
“Ao vencedor, as batatas!” é de outro tempo, não cabe mais neste mundo. Somos inteligentes o suficiente para entendermos que muitas mudanças estão acontecendo, não só nas relações humanas, mas no planeta também. Nunca se exigiram tantas respostas com prazo de tempo cada vez menor. Não há mais espaço para aqueles que pensam combater o aquecimento global instalando ar-condicionado em casa ou vibrar com os péssimos resultados dos testes educacionais como se estivéssemos em uma competição.
Basta pensar que se um veículo em alta velocidade, numa estrada, sofre um gravíssimo acidente, não é só o motorista que tem grandes chances de morrer, e sim todos os ocupantes que lá estão. Não haverá vitoriosos e perdedores, não haverá aqueles que se safaram e os que se deram mal, os que chegaram em primeiro lugar e os que não pontuaram. Não haverá gol, nem bola e nem quem chute ao gol.