Por Stephen L. Adler
Adaptação Ronaldo Campos
Tradução Murilo Santana Rangel
Nasci em 1939 na cidade de Nova Iorque. Meu pai, Irving Adler, era professor de matemática e minha mãe, Ruth Relis Adler também era licenciada em matemática. Minha educação foi direcionada para a ciência desde cedo por meus pais. Quando tinha dois anos, meu pai construiu para mim uma caixa dispositiva feita de peças eletrônicas e, ao mesmo tempo, minha mãe fez para mim uma versão caseira do livro “Pat the Bunny”, com cada página contendo uma operação tátil ou manual para eu desempenhar. Mais tarde, meu pai construía para mim brinquedos elétricos como telégrafos, “um alarme para ladrão” que tocava uma campainha quando a porta era aberta e uma miniatura de sinais de trânsito.
Devido a exposição à eletrônica, seria natural seguir carreira em engenharia elétrica, mas nos primeiros anos do meu ensino médio, tive um primeiro vislumbre do fascinante mundo da pesquisa em física de altas energias. Por dois verões, minha família tirou férias num parque estadual perto de Ithaca, NY, e Phillip Morrison, um velho amigo de meu pai, fez uma visita conosco ao Laboratório de Física de Cornell, onde Robert Wilson construiu uma sucessão de aceleradores de partículas. Eu gostei do ambiente desses laboratórios e fiquei impressionado com o fato de que, se eu seguisse a física como uma carreira, iria aprender e usar eletrônica, mas não necessariamente o contrário. No primeiro ano do ensino médio, decidi que seria um físico experimental.
Minha primeira experiência em pesquisa física em laboratório aconteceu no fim do meu último ano do colégio, quando assisti um curso de duas semanas sobre as técnicas de difração de raios-X para engenheiros industriais, ministrado no Brooklyn Polytechnic Institute por Isadore Fankuchen, que levava freqüentemente alunos do ensino médio considerados brilhantes para suas aulas. Consegui fazer todo o trabalho teórico e experimental, tendo aprendido muitas coisas, como a estrutura da rede de cristais e a transformação de Fourier, que são instrumentos padrões da física. Imediatamente após, consegui um emprego temporário no Bell Labs em Manhattan, em companhia de oito outros alunos de iniciação científica. Alguns deles já tinham aprendido cálculo, o que me motivou a aprender, por conta própria, esta matéria ainda naquele verão.
Tive professores memoráveis em Harvard, como Ed Purcell, Frank Pipkin, Paul Martin e, Julian Schwinger. Como conseqüência dessa minha preparação em Harvard, em Princeton pude realizar os Exames Gerais já no final do primeiro ano e, então, começar a pesquisa de tese com Sam Treiman, ainda no início do segundo ano. Treiman sugeriu que eu procurasse fazer cálculos na área emergente dos experimentos de aceleradores de neutrinos, e esse foi o início da minha carreira em física de altas energias. A maior parte do trabalho da minha tese foi um cálculo da produção de píons provenientes da interação de núcleons (prótons ou nêutrons) com um feixe de neutrinos. Apesar de este ter sido um longo e tedioso projeto, me deu uma boa introdução com relação às correntes de vetor e de “vetor-axial”, através das quais os neutrinos interagem com os núcleons. O conhecimento que adquiri então ultrapassou o meu projeto de tese, sendo o fundamento para a minha contribuição científica mais importante durante o período de 1964 até 1972, que está ligado, de certo modo, à descoberta de futuros resultados conectados à corrente vetorial e à de vetor-axial.
Desde 1972, venho trabalhando diversos outros tópicos teóricos dentro da física de altas energias, incluindo a fenomenologia de correntes neutras, processos envolvendo campos eletromagnéticos intensos (como a divisão de fótons perto de pulsares) e métodos de aceleração para algoritmos de simulação Monte Carlo. Durante os últimos vinte anos, tenho dedicado cerca da metade do meu tempo de pesquisa estudando… Parte desse trabalho envolve um estudo detalhado da mecânica quântica, na qual quatérnions substituem os usuais números complexos. Outro aspecto mais recente tem envolvido o estudo de uma possível mecânica pré-quântica, baseada nas propriedades dos traços de uma matriz, da qual a mecânica quântica pode emergir como uma forma de termodinâmica. Escrevi livros descrevendo ambos os estudos. Nos próximos anos, pretendo retornar à minha área original de fenomenologia de partículas, no contexto dos modelos supersimétricos, que visam a uma futura unificação das partículas elementares e das forças que atuam sobre elas.
Stephen L. Adler
Instituto para Estudos Avançados, Princeton|NJ|EUA.
Este artigo é de domínio público e tem por objetivo divulgar a ciência. Faz parte da coleção Algumas razões para ser um cientista que procura desmistificar e estimular o estudo da ciência — principalmente pelos jovens.