Título otiginal: Anoitecer

Por Cassiano Ricardo
Adaptação e diagramação: Ronaldo Campos

Homem, cantava eu como um pássaro
ao amanhecer. Em plena unanimidade
de um mundo só.
Como, porém, viver num mundo onde todas as coisas tivessem um só nome?

Então, inventei as palavras.
E as palavras pousaram gorjeando sobre o rosoto
dos objetos.

A realidade, assim, ficou como tantos rostos
quantas são as palavras.

E quando eu queria exprimir a tristeza e a alegria
as palavras pousavam em mim, obedientes
ao meu menor aceno lírico.

Agora devo ficar mudo.
Só sou sincero quando estou em silêncio.

Pois, só quando estou em silêncio
elas pousam em mim – as palavras –
como um bando de pássaros numa árvore
ao anoitecer.

NIGHTFALL

Trandução de Barbara Howes

Friends, I sang as a bird sings
at daybreak. In full agreement
with ono single world.
But how could one live in a world
where tings had a single name?

Then, I made up words.
And words perched, warbling, on the head
of objects.

Reality, thus, came to have
as many heads as words.

And when I tried to express sadness and joy
words settled upon me, obedient
to my slightest lyrical gesture.

Now I must be mute.
I am sincere only when I am silent.

So, only when I am silent
do they settle upon me – words –
a flock of birds in a tree
at nightfall.


An Antology of Twentieth-Century Brazilian Poetry
Editado por Elizabeth Bishop e Emanuel Brasil

Edição patrocinada pela Academia Norte-Americana de Poetas

Foto capa: Andreas Fickl/Unsplash
Foto mídia: Glen Carrie/Unsplash
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