Por Ronaldo Campos
As pessoas estão demorando mais tempo para se aposentar, seja por escolha, seja por necessidade. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), desde 2008 a média de idade da força de trabalho dos países-membros subiu de 55 anos para 64 anos. Os 38 países(*) que fazem parte da OCDE representam 80% de todos os negócios e investimentos realizados no mundo.
Dependendo do ponto de vista, o acréscimo na idade média da força de trabalho para se aposentar pode ser entendido como uma crueldade do capitalismo — já que obriga as pessoas a continuar trabalhando por mais tempo — ou como um sinal de que finalmente os trabalhadores mais velhos estão sendo valorizados. O fato é que outro estudo (Working better with age, 2019) aponta para a necessidade de manter os trabalhadores mais velhos na ativa para que haja crescimento econômico sustentável. A maior preocupação do estudo é com o número de pessoas que atingirão a idade legal para se aposentar em 2050. Estima-se que 58% da força de trabalho terá direito à aposentadoria, contra os atuais 41%. Esse acréscimo coloca em risco a previdência dos países.
Mesmo com direito à aposentadoria, é comum que muitas pessoas continuem trabalhando. Ah! Mas você pode pensar: “Claro! São pouquíssimos os que conseguem viver com o valor da aposentadoria!” Isso é verdade. Porém, em uma pesquisa realizada com os britânicos, que em sua maioria conseguem viver exclusivamente da aposentadoria, 50% disseram que pararam de trabalhar muito cedo e que perderam o propósito da vida. Em geral, trabalhar traz muitas compensações: mantém a mente ocupada, a pessoa se sente produtiva, útil e se relaciona com muitas outras pessoas.
O avanço da tecnologia também permite que as pessoas continuem trabalhando por mais tempo. Com exceção das atividades que exigem esforço físico — por exemplo, bombeiros, trabalhadores da construção civil, jogadores de futebol e atletas em geral —, a maioria das profissões requer mais habilidade mental do que física. Isso exige dos trabalhadores um constante aperfeiçoamento e aprendizado das novas tecnologias. Para a OCDE, um em cada três trabalhadores com idade entre 55 e 65 anos é incapaz de passar em um simples teste de conhecimento básico de software. Por exemplo, a utilização do pacote Office.
No Brasil e no mundo, a situação das mulheres é pior que a dos homens. Durante a vida profissional, elas ganham cerca de 20% menos do que os homens e, quando se aposentam, infelizmente, elas também recebem menos. A lei compensa essa desigualdade atribuindo um período menor de trabalho para as mulheres (no Brasil, homens: 65 anos e mulheres: 62 anos). Já nos países da OCDE, os homens em média se aposentam com 65,3 anos e as mulheres, com 63,5. Os números mostram que ainda há uma discriminação em relação às mulheres e que correções precisam ser feitas quanto antes.
Foi-se o tempo em que as pessoas sonhavam com uma aposentadoria na praia, sem compromissos ou reuniões, muito tempo livre para se dedicar aos cursos, aos hobbies e viajar pelo mundo. Enquanto a aposentadoria não chega, o negócio é se manter na ativa, se reinventar a cada novo trabalho e, por fim, entender que talvez ela nunca chegará: seja pela necessidade do dinheiro, seja pelo simples fato de que não dá mais para parar e passar o resto da vida em frente à TV.
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(*) Países-membros da OCDE: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, Colômbia, Coreia do Sul, Costa Rica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, México, Países Baixos, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, República Tcheca, Suécia, Suíça, Turquia e Reino Unido.