Por Stephen L. Adler
Instituto para Estudos Avançados|Princeton|NJ|EUA
Eu nasci em 1939 na cidade de Nova Iorque. Meu pai, Irving Adler, era professor de matemática e minha mãe, Ruth Relis Adler, também era licenciada em matemática. Minha educação foi direcionada para a ciência desde cedo pelos meus pais. Quando tinha dois anos, meu pai construiu para mim uma caixa dispositiva feita de peças eletrônicas e, ao mesmo tempo, minha mãe fez uma versão caseira do livro Pat the Bunny, com cada página contendo uma operação tátil ou manual para eu desempenhar. Quando estava mais velho, meu pai construía para mim brinquedos elétricos como telégrafos e “um alarme para ladrão”. Nós também nos engajávamos em atividades naturais, como colecionar cobras e borboletas. Quando tinha oito anos, participei de um curso de astronomia, para jovens, no Museu de História Natural de NY. Minha fascinação pelos fósseis que via nesse museu me levou a pensar em ser um paleontólogo, porém, este meu interesse acabou rapidamente.
O caminho para minha atual carreira começou no ensino fundamental, quando discutia com um colega de classe sobre rádio e fui visitá-lo em sua casa, descobrindo seus equipamentos e brinquedos. Desenvolvi um interesse pela eletricidade, rádio e eletrônica. Construí vários aparelhos elétricos, como motores elétricos com rotores feitos de lâminas cortadas de latas e, imãs permanentes de estatores tirados de alto-falantes. Tenho um desses, até hoje, no meu armário no Instituto de Estudos Avançados. Com o estímulo de meu pai, li Marcus e o seu texto clássico da segunda guerra mundial, “Elementos do Rádio”. Meu pai conseguiu tornar-me o expert da família em rádio, enquanto ele ficava como consultor sobre os pequenos detalhes do texto. Também por sugestão do meu pai, comecei a solicitar da vizinhança – batendo de porta em porta e empurrando um carrinho – velhos rádios, aparelhos e televisões que as pessoas planejavam jogar fora. Desmontava esses aparelhos e usava as partes para construir rádios, amplificadores e, até mesmo, um osciloscópio, usando um tubo de televisão de sete polegadas. Aprendi também o suficiente do código Morse para conseguir uma licença de técnico de rádio amador. Entretanto, a atividade de rádio amador não me interessava tanto quanto a construção de equipamentos eletrônicos, a qual continuei por meio de vários projetos no ensino médio.
Entrei na faculdade pretendendo ser um físico experimental, mas minhas amizades com vários colegas de classe, dentre eles Daniel Quillen (futuro medalha Fields), me levaram a me interessar pela matemática. Descobri que eu era muito bom em teoria, mas apesar de ser competente no laboratório, faltava-me o toque do talento experimental. Então, no meio do meu primeiro ano, decidi mudar meu enfoque de física experimental para teórica. Junto com Fred Goldhaber, que veio a ser meu primeiro colega de quarto na pós-graduação em Princeton, cursei praticamente todos os cursos do curriculum da pós-graduação em Harvard durante os anos júnior e o sênior. Tive professores memoráveis em Harvard, como Ed Purcell, Frank Pipkin, Paul Martin e, Julian Schwinger. Como conseqüência dessa minha preparação em Harvard, em Princeton pude realizar os Exames Gerais já no final do primeiro ano e, então, começar a pesquisa de tese com Sam Treiman, ainda no início do segundo ano.
Desde 1972, venho trabalhando diversos outros tópicos teóricos dentro da física de altas energias, incluindo a fenomenologia de correntes neutras, processos envolvendo campos eletromagnéticos intensos (como a divisão de fótons perto de pulsares) e métodos de aceleração para algoritmos de simulação Monte Carlo. Durante os últimos vinte anos, tenho dedicado cerca da metade do meu tempo de pesquisa estudando… Parte desse trabalho envolve um estudo detalhado da mecânica quântica, na qual quatérnions substituem os usuais números complexos. Outro aspecto mais recente tem envolvido o estudo de uma possível mecânica pré-quântica, baseada nas propriedades dos traços de uma matriz, da qual a mecânica quântica pode emergir como uma forma de termodinâmica. Escrevi livros descrevendo ambos os estudos. Nos próximos anos, pretendo retornar à minha área original de fenomenologia de partículas, no contexto dos modelos supersimétricos, que visam a uma futura unificação das partículas elementares e das forças que atuam sobre elas.
Este artigo é de domínio público e foi adaptado e transcrito da coleção Algumas razões para ser um cientista, com o objetivo de divulgar, desmistificar e estimular o estudo da ciência, principalmente entre os jovens; título original: Dos elementos do rádio à física das partículas elementares.
Tradução de Murilo Santana Rangel
Adaptação e editoração de Ronaldo Campos