Por Ronaldo Campos

Quando um cientista tem curiosidade sobre determinado fato, ele cria uma hipótese, deduz o que acontecerá e faz experimentos para validação ou não da hipótese. Muito diferente dos primeiros cientistas que trabalhavam sem método. Era pura intuição, improviso e coragem!

Muitos deles morreram ao tentar buscar conhecimento sobre o mundo. Para isso, imagino, que estavam divididos em dois grupos: os curiosos (corajosos) e os que apenas observavam. Para ser um cientista curioso era necessário ter muita coragem. Ser curioso naquele tempo é muito diferente da curiosidade de hoje, mesmo porque, convenhamos, é fácil ser curioso quando se tem uma infinidade de informações sobre o mundo. Basta googlar e a curiosidade some. E caso não apareça nenhum resultado, a certeza que se cria é que aquilo não existe.

Para se ter, mais ou menos, a mesma sensação daqueles primeiros cientistas corajosos, imagine uma espaçonave intergalática pousando na avenida Paulista. Com certeza, muitas pessoas correrão de medo — eu diria quase todos — e pouquíssimos terão a curiosidade de se aproximar para descobrir do que se trata. Se os pouquíssimos curiosos não morrerem, da próxima vez que os fujões encontrarem uma espaçonave intergaláctica, com certeza, terão a coragem de se aproximar dela.

Com passar do tempo, fomos adquirindo e acumulando conhecimento e isso, de certa maneira, mudou o ato de fazer ciência. Mas no começo era preciso improvisar. Ser um MacGyver — o rei do improviso. MacGyver era um herói de uma série dos anos 1980 que se dispunha a ajudar o governo norte-americano em missões arriscadas. Em todos os episódios ele se encontrava na maior das enrascadas, prestes a morrer e em poucos segundos precisava improvisar uma solução para um problema que iria matá-lo. Claro que ele sempre improvisava um artefato que o salvava. Coisas do tipo: um clipe e uma fita adesiva que viravam um explosivo e o livrava da morte.

Não quero dizer que o improviso é de todo ruim. Acredito que evoluímos porque sabemos improvisar, mas precisa ser bem pensado e executado. A nossa capacidade de improvisar é extraordinária, ainda mais hoje em dia, quando dispomos de muitas informações e recursos tecnológicos. O improviso faz parte da vida e somente os mais preparados conseguem beneficiar-se dele e, quando possível, até o transformam em arte. É o que acontece, por exemplo, na dança e na música. Um bom jazz é puro improviso!

Para terminar, concluo com mais um exemplo cinematográfico: Horton e o mundo dos quem! Horton é um elefante professor que acredita na ciência e passa boa parte do tempo contando histórias divertidas aos filhotes dos outros animais da floresta. Certo dia, ele escuta um pedido de socorro vindo de um minúsculo grão que vaga pelo ar. Após muito esforço, Horton consegue estabelecer contato com o grão e descobre que lá não só vive um microrganismo, mas uma cidade repleta deles, a Quemlândia. Por sua descoberta, Horton passa a ser visto pelos outros animais como alguém muito perigoso, já que ouve coisas que mais ninguém ouve e ao mesmo tempo corrompe as crianças com suas histórias um tanto “esquisitas”; para se fazer ciência é preciso ter intuição, coragem e saber improvisar.

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