São Paulo é uma imensidão. Ao prezar pela nossa rotina, muito da cidade nos escapa e locais, espetáculos, livros, conversas, curiosidades e filmes podem trazer experiências novas e diferentes com o mundo. Aqui, neste Recanto, compartilharei com vocês um pouco daquilo que encontro pela cidade.

 

Corpo da cidade, corpos de passagem, corpos na paisagem

Por Mainá Santana

Complexos viários, viadutos por todos os lados. O centro de São Paulo soa como um lugar caótico e a causa é esse crescimento desordenado e sem planejamento contíguo pelo qual a cidade passou. Em que momento uma vilazinha no alto de um morro se transforma na quarta maior metrópole do mundo, a maior de toda a América? Qual é o fluxo migratório das pessoas dentro da própria cidade? Vamos desvendar um pedacinho dessa história, desta vez a partir do centro de São Paulo, recortando a passagem do século XIX para o século XX como base. Dica: esta é uma matéria pra você juntar com aquela da edição #4 , sobre o Largo da Batata. Bora?

Virada. De uma pequena vila no morro de Piratininga, com construções de taipa e economia de pouca estabilidade ao longo de três séculos, São Paulo passa a receber os ricos barões do café, abrindo espaço para se tornar o centro financeiro do estado e do país em crescimento. No triângulo histórico, formado pelas ruas Direita, Quinze de Novembro e São Bento, já figurava, desde 1594, o Mosteiro do São Bento, algumas casas e muitos comércios. Em volta, na descida da Igreja Nossa Senhora do Carmo, onde fica a atual Av. Rangel Pestana, lavadeiras utilizavam as águas do rio Tamanduateí para realizar seus serviços, caboclos e caipiras vendiam alimentos e outros produtos de uso comum, na região que seria chamada de Mercado Grande. Apesar da concentração de moradores naquele local (aproximadamente 30% dos quase 31 mil habitantes da cidade, segundo o censo de 1871), São Paulo contava com mais oitos freguesias (arraiais controlados pela Igreja), assentamentos quilombolas e aldeias de indígenas que ali resistiam (e resistem até hoje).

Na região do Anhangabaú, um terreno de grandes dimensões (parte dele situado no antigo Morro do Chá, assim chamado por suas plantações) dificultava o acesso de pessoas ao centro histórico da cidade. É fácil encontrar informações sobre o dono do terreno, primeiro o Barão de Itapetininga e, depois, o Barão de Tatuí (por casamento com a viúva do primeiro); as terras tinham como limite as atuais ruas Líbero Badaró e 24 de Maio, Av. São João, Praça da Bandeira e a Praça da República. Assim, a construção de um viaduto sobre o rio Anhangabaú auxiliaria na mobilidade dos moradores, tornando-se uma demanda populacional. Após 15 anos de idas e vindas, o Viaduto do Chá foi inaugurado em 1892, facilitando o trânsito de carroças, bondes e pedestres, mas com cobrança de pedágio, articulada pelo poder público com os construtores para custear as obras… Obviamente isso também excluía o tráfego de algumas pessoas.

A construção do viaduto transformou a vida da cidade. Mesmo com a cobrança de 60 réis para pedestres e 200 réis para bondes, houve a intensificação do fluxo de um lado para o outro, permitindo, por exemplo, que a elite cafeeira se instalasse nos bairros Santa Ifigênia e Campos Elíseos, locais com terrenos bem menos acidentados e com menor influência dos rios que o centro velho. O nome das ruas e as construções ali presentes demonstram esse momento da sociedade paulistana: Barão de Limeira, Barão de Mauá, Barão de Campinas. Apesar da fama de morada dos barões, a Av. Paulista, primeira avenida planejada da cidade, nascida sob o nome de Rua Real Grandeza, endereçava apenas um membro da realeza: a Baronesa de Arary (aquela que batizou o edifício dos artistas, ao lado do Parque Trianon). A Av. Paulista era, sobretudo, o endereço dos novos ricos da época.

Essa é a parte da história mais bem conhecida, bem como o que segue sobre os imigrantes chegando do porto de Santos, indo trabalhar nas fazendas ou nas indústrias localizadas nos arredores da cidade. Temos acesso a filmes, livros e narrativas registradas das descendências dos imigrantes e dos barões e baronesas do café, o que é maravilhoso, porém incompleto. Para remontarmos o quebra-cabeça desse tempo-espaço é preciso lembrar que, em paralelo à ideia de modernização e europeização vigentes, trazidas não apenas pelos ricos que agora se instalavam na cidade, mas também pelo poder público, outras lógicas operavam.

 O rio. Sob a égide da modernização, as enchentes causadas pelos rios estiveram entre as primeiras questões a ser observadas pelo poder público. A maioria das cidades brasileiras foi construída em regiões de várzea e São Paulo não foi diferente; todos os rios, assim como os mares, têm períodos de seca e períodos de cheia. Diante do aumento populacional da cidade, o fluxo natural dos rios passou a ser considerado um problema de urbanização, embora desde a fundação da Vila aqueles fizessem parte das estratégias de ocupação do território. E mesmo no início da industrialização: a primeira indústria de cerâmica, instalada no local onde hoje fica São Caetano do Sul, tinha seu endereço às margens do rio, fonte de água e facilitador do transporte das telhas, azulejos e ladrilhos fabricados.

Abaixo do Mosteiro de São Bento, a região da Rua 25 de Março já no início do século XIX era um local de grande comércio e distribuição de produtos. A famosa Ladeira Porto Geral, que hoje dá acesso à Rua 25, era, àquela época, o acesso ao Porto Geral do rio Tamanduateí. Ao lado deste, que era o maior porto da região, situava-se o Mercado dos Caipiras (1867), apelido para o Mercado Grande, onde pescadores e produtores rurais da região comercializavam seus produtos. Atenção: não confundir com o Mercado dos Caipiras de Pinheiros, cuja história foi publicada na #edição4. O Porto Geral e o Mercado dos Caipiras se mantiveram em atividade até o início e meados do século XX, respectivamente, quando o rio começou a ter seu curso canalizado e o Mercado Municipal foi construído.

Indesejáveis. Em meados do século XIX, a existência do Mercado Grande, que concentrava pessoas diversas como as “Lavadeiras da Várzea”, os “caboclos” ou “caipiras” e os “curandeiros” ou “pretos veios”, entre outras pessoas de camadas sociais mais baixas, incomodava os barões do café e o poder público. Vale lembrar que tudo isso ocorria em paralelo a um longo processo de divergências políticas e interesses econômicos sobre como lidar com a escravatura, especialmente no que diz respeito à Revolução Industrial e sua necessidade de trabalhadores livres e consumidores, bem como às pressões da Inglaterra que, por ser a potência mundial do momento, não queria concorrência com países que pudessem produzir e deixar de comprar de suas colônias. No Brasil, a abolição ocorreu sem grandes preocupações com a concessão de direitos e sem plano algum de transição para a inserção da população negra recém-alforriada no mercado de trabalho, preferindo-se, em vez disso, importar mão de obra imigrante desde antes da assinatura da Lei Áurea. Inclusive, um adendo: a Lei dos Sexagenários (de 1885, que instituía alforria aos idosos acima de 65 anos) previa indenização aos senhores de escravos e não ao idoso que conseguisse chegar a essa idade para ser liberto. Em São Paulo, as pessoas negras libertas se concentravam em grande parte na Praça 14 Bis, local onde posteriormente foi fundada a escola de samba Vai-Vai.

As pessoas de camadas sociais mais abastadas tinham medo de andar no Mercado dos Caipiras, visto, além de tudo, como um local sujo e cheio de insetos, por conta da margem do rio, associando as pessoas que ali transitavam e trabalhavam como autônomas àqueles adjetivos. Ao longo de 30 anos foi traçado um plano de “embelezamento” da região com, além da canalização do rio, a construção de um parque aos moldes franceses, o que se tornaria o Parque Dom Pedro II. Nessa circunstância, a beleza, ou melhor, esse tipo de beleza aos moldes franceses, pode ser lida como uma tentativa de higienismo e gentrificação, fenômenos recorrentes ao longo da história da cidade de São Paulo. Em discurso, o então prefeito da cidade, ex-secretário da Justiça e da Segurança Pública do Estado de São Paulo e futuro presidente do Brasil (1926–1930), Washington Luís, sintetiza e expõe o sentimento das elites e do poder público da época: “[O novo parque] não pode ser adiado”, explica o prefeito, “porque o que hoje ainda se vê, na adiantada capital do estado, a separar brutalmente do centro comercial da cidade os seus populosos bairros industriais, é uma vasta superfície chagosa, mal cicatrizada em alguns pontos, e, ainda escalavrada, feia e suja, repugnante e perigosa, em quase toda a sua extensão” (TORRES, 1969, p. 182-183, apud SANTOS, 2003).

O caso das lavadeiras, pretos veios e caipiras. As lavadeiras do Carmo, ou lavadeiras da Várzea, eram facilmente encontradas às margens do rio Tamanduateí com suas trouxas de roupas e modos específicos de vestir; “do Carmo” porque desciam a hoje Av. Rangel Pestana, que parte da Igreja Nossa Senhora do Carmo até a várzea do rio. A existência desse posto de trabalho aparentemente era apreciada pela população, tendo em vista a grande quantidade de roupas para lavar, mas não muito pelos representantes do poder local, já que essas eram trabalhadoras autônomas, “insubordinadas” e descritas por alguns registros históricos como criadoras de confusão. A polícia, segundo descrito por Sesso (1983), entrava no meio das brigas dessas mulheres, cuja discussão geralmente tinha a ver com encontrar um melhor local para trabalhar. As descrições geralmente são em favor de explicitar um modo de ser proibido, uma subjetividade feminina que não era compatível com a metrópole que estavam tentando criar. Obviamente que a maior parte dessas mulheres era de escravas libertas ou suas descendentes.

Já os curandeiros, ou pretos veios, não podiam ter suas práticas de vendas de ervas e garrafadas por conta de uma política higienista do Estado. Existia até lei que proibia o exercício de mandingas e a venda de patuás, sob pena de 30$ de multa e dez dias de prisão. Relatos descrevem suas barracas de venda da maneira mais asquerosa, como se juntassem moscas e toda sorte de bichos, mais uma vez associando a negritude, o indigenismo e saberes ancestrais com a sujeira. Em uma São Paulo cujo sistema de saúde era falho, muitos membros da elite recorriam a esses saberes para sanar suas dores e doenças da época, o que desagradava ao poder público e feria o “Código de Posturas do Município de São Paulo” (1886).

Os caipiras, que emprestavam a designação para dois grandes mercados da cidade, eram agentes facilitadores do comércio e da distribuição de produtos. Também são chamados de caboclos ou mamelucos e, quando aparecem em textos de memória da cidade, são descritos como indivíduos robustos, que possuem um ar “rústico e desajeitado”. A palavra “caipira” deriva da palavra “curupira”, nome pelo qual eram chamados os “demônios” que habitavam as matas. Segundo alguns estudiosos, o termo era utilizado para descrever a descendência indígena presente na cidade ao longo dos anos, de maneira a diluir sua existência e costumes.

Apesar do movimento de expulsão dessas populações da Várzea do Carmo e da futura Rua 25 de Março, eles continuavam resistindo e ocupando o local. A situação piorou com as sucessivas obras de canalização do rio (que perdurou até o fim dos anos 20) e com a demolição do Mercado dos Caipiras para a construção do atual Mercado Municipal (1932); tudo parte do tal plano de embelezamento. Curiosamente, com o declínio do período cafeeiro, as mudanças de paradigma estético vieram a cavalo. Com seu Plano das Avenidas, o prefeito de São Paulo, Prestes Maia (1938–1945), quis aproximar a cidade de outras estadunidenses com uma política de transporte voltada às rodovias, utilizando parte do modelo europeu de anel viário.  Ele não anunciou, por razões econômicas, que em cidades como Paris e Viena existem anéis não apenas rodoviários, mas também hidroviários e ferroviários, que complementam o transporte na cidade. O plano de Prestes Maia deu origem à configuração que temos até hoje e entendo que não foi a beleza que o moveu, mas os lotes de terra por ali valorizados e o aumento da indústria de automóveis.

Não é exclusivo. Esse tipo de procedimento, de retirada das pessoas de camadas mais baixas da população de seus locais de moradia, não é exclusivo do centro. Pessoas pobres, que ainda insistiam em utilizar os recursos hídricos naturais da cidade (até porque não possuíam recursos financeiros para dispor de água encanada), também foram retiradas, por exemplo, do bairro da Pompeia, quando moradores soterraram uma bica de pedra construída por moradores mais antigos. A ideia era impedir o acesso de pessoas indesejáveis à água do Córrego da Água Preta (aquele que passa embaixo do Sesc Pompeia), evitando que compartilhassem o mesmo território. Recentemente, o grupo Hezbolago desenterrou a bica, fazendo um lago com peixes que se alimentam de larvas de mosquitos da dengue, na Praça Diogo do Amaral. Já um caso de resistência é o do seu Onofre Sabino, 81 anos em 2013, que sempre trabalhou lavando táxis com água da nascente do córrego Saracura, próximo à Praça 14 Bis.

As tensões entre o corpo da cidade, os corpos indesejáveis, o corpo político e o corpo econômico-financeiro foram desenhando os contornos dessa São Paulo gigantesca, desigual e de crescimento caótico. A canalização dos rios liberou as encostas, mas não deixamos de sofrer com suas cheias, com bueiros entupidos ou com canais de córregos que hoje também transportam esgoto. Uma região de mata diversa, com bromélias, plantas do Cerrado e da Mata Atlântica foi apenas dizimada. Algumas das histórias se repetem, outras se modulam levemente para outros finais, mas, aparentemente, as relações estão bem estabelecidas entre todos esses corpos, desde o início da industrialização ou, por que não dizer, desde a tomada dessas terras pelos portugueses.

Quem chegou, quem estava, o que tinha. Os primeiros colonos aportados em São Vicente (antiga Tumiaru), desejosos de explorar cada vez mais as terras que haviam tomado, necessitavam sair do litoral em direção ao interior do país. E a Serra do Mar se configurava como uma barreira natural a essa expansão. Até hoje, para chegar ao planalto via litoral sul, é possível perceber a Rodovia Régis Bittencourt aumentando gradualmente sua inclinação sobre a serra, desde o Vale do Ribeira. Se a opção de subida for um dos caminhos do litoral norte, é preciso encarar a região bastante acidentada que sai de Ubatuba/Caraguatatuba. A Baixada Santista, no entanto, permite um rápido deslocamento de (hoje) 70 km sem relevos muito difíceis de lidar, como um grande degrau. As trilhas que subiam do litoral para o planalto já eram conhecidas entre os Tupiniquins e os Tamoios, e eram braços do Caminho do Peabirú (atravessando o continente até os Andes). Tanto a cidade de Santos como a de São Paulo tiveram grande parte de seu desenvolvimento por conta da região onde se situam.

Iniciada no morro de Piratininga, palavra tupinambá para “peixe seco”, São Paulo tem sua fundação em 1554, entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, em uma região alta o suficiente para espreitar possíveis incursões dos moradores das terras brasileiras, especialmente dos Tamoios. Escolhida para ser vila em detrimento da região de Santo André, São Paulo era distante o suficiente da encosta da Serra do Mar. A instalação da vila naquele local era providencial para os portugueses da época, que, além de se utilizar do fator geográfico para autoproteção, dispunham dos recursos hídricos necessários para a constituição de uma vila, envolvendo não apenas a água para consumo, mas a possibilidade de transporte para outros locais e a alimentação pela fauna e flora dali.

Com a palavra, Washington Luís, o prefeito de São Paulo que se tornou presidente do País:

“É aí que, protegida pelas depressões do terreno, pelas voltas e banquetes do Tamanduateí, pelas arcadas das pontes, pela vegetação das moitas, pela ausência de iluminação se reúne e dorme e se encachoa, à noite, a vasa da cidade, em uma promiscuidade nojosa, composta de negros vagabundos, de negras edemaciadas pela embriaguez habitual, de uma mestiçagem viciosa, de restos inomináveis e vencidos de todas as nacionalidades, em todas as idades, todos perigosos. É aí que se cometem atentados que a decência manda calar; é para aí que se atraem jovens estouvados e velhos concupiscentes para matar e roubar, como nos dão notícia os canais judiciários, com grave dano à moral e para a segurança individual, não obstante a solicitude e a vigilância de nossa polícia. Era aí que, quando a polícia fazia o expurgo da cidade, encontrava a mais farta colheita.”

“Tudo isso pode desaparecer e tendo sido já muito melhorado com a canalização e aterrados feitos, sendo substituído por um parque seguro, saudável e belo, como é o do projeto Cochet. Denunciado o mal e indicado o remédio, não há lugar para hesitações porque a isso se opõem a beleza, o asseio, a higiene, a moral, a segurança, enfim, a civilização e o espírito de iniciativa de São Paulo.”

 

_PARA PENSAR…

* A utilização de recursos naturais é sempre associada à pobreza e a falta de recursos financeiros. Obviamente que saneamento básico custa e deveria ser direito de todas as pessoas brasileiras, mas existem diversas maneiras de se urbanizar uma cidade. Por exemplo, o próprio engenheiro Francisco Saturnino de Brito (autor do planejamento dos Canais de Santos, que escoam para o mar as águas pluviais da cidade com absoluto sucesso) tinha outras ideias para a questão da cheia do Tamanduateí e de todos os outros rios: proteger as várzeas e em todas as confluências de rio criar um lago, que seria um núcleo aquático de um cinturão de parques da metrópole. Já imaginou?

* A região de São Paulo é muito bem servida de rios, córregos, com águas para todo o canto; características preciosas apreciadas pela população indígena Tupiniquim (hoje muito reduzida), que morava aqui antes de 1500. É curioso pensar que eventualmente sofremos de crises hídricas na cidade de São Paulo, não é?

 

_VOCÊ SABIA?

Arraial | é um lugarejo, uma pequena povoação, menor que uma vila. Pode ser utilizado como sinônimo de acampamento ou de assentamento.

Freguesia/Freguesia do Ó | freguesia é o nome de uma região administrativa, herdado por Portugal, correspondente a uma região de Paróquia. Freguês vem de filgrês, aquele que é filho da igreja. Até a proclamação da República, a Paróquia e a Freguesia eram correspondentes e os membros do clero recebiam do Estado para conduzir suas atividades administrativas e paroquiais. Com o tempo, o nome Freguesia foi deixando de ser usado, mas não no caso da Freguesia do Ó, cujo distrito e bairro mantêm o mesmo nome — ainda ligado à igreja da Nossa Senhora da Expectação do Ó. A Freguesia do Ó foi o arraial mais antigo de São Paulo, povoado em 1580 e inicialmente chamado Sítio do Jaraguá.

Nossa Senhora da Expectação do Ó | a adoração remonta à semana final de gravidez de Maria. O “ó” é um grito de júbilo pelo nascimento do menino Jesus.

Várzea | é o termo para uma terra plana, em um vale extenso e cultivado. No Brasil, as várzeas são conhecidas por serem terrenos cultiváveis junto aos rios e ribeirões. O termo “futebol de várzea” nasceu em São Paulo, justamente nas partidas informais dos jovens, antes de o futebol se tornar profissional. Os times de futebol de várzea praticamente pagam para jogar, uma vez que a maioria não possui nenhum patrocinador e que os campeonatos são pagos, então os jogadores têm de desembolsar dinheiro para sua manutenção.

Taipa | também chamada de pau a pique, é uma técnica de construção que mescla, geralmente, solo, palha e água. A Igreja Nossa Senhora do Carmo tem sua estrutura feita de taipa.

Higienismo | é uma doutrina que considera as doenças como fenômenos sociais, associando pobreza à sujeira.

Gentrificação | é o processo de retirada de uma população de camada social mais baixa para a entrada de pessoas ricas.

 

_DICAS

* Dois grandes artistas registravam a memória de São Paulo na passagem do século XIX para o século XX. O pintor Benedito Calixto tinha a característica de registro, trazendo personagens quase como em uma fotografia com suas pinceladas. Compartilho aqui a obra Inundação da Várzea (1892 – óleo sobre tela, 1,25 x 4 metros), que traz justamente esse momento de cheia do rio, com uma riqueza de detalhes absurda. A obra reproduz uma vista panorâmica do Pateo do Colégio, com o Mercado Grande em terceiro plano, cheio de pessoas e carroças no segundo plano, parte do Porto Geral, a fábrica de tecidos do Major Diogo à esquerda, o Brás ao fundo. O original está no Museu do Ipiranga.

* O segundo artista é o fotógrafo Militão Augusto de Azevedo, que nos deixou um Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo entre os anos 1862–1887–1914. O link da Secretaria de Cultura do Município para acesso on-line infelizmente não funciona, mas além do exemplar físico na Biblioteca Mário de Andrade, é possível acessar algumas imagens por sites de buscas. Também compartilho aqui uma dessas fotos, do ângulo oposto ao quadro, com uma lavadeira em primeiro plano. Militão tirava fotos de todas as pessoas da cidade, vestindo-as da mesma maneira, independentemente de classe social, cor ou credo; o fotógrafo foi importante para o registro dessas vidas que não compactuam a memória coletiva na arquitetura e nos discursos sobre a cidade. Vale procurar algumas fotos!

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