São Paulo é uma imensidão. Ao prezar pela nossa rotina, muito da cidade nos escapa e locais, espetáculos, livros, conversas, curiosidades e filmes podem trazer experiências novas e diferentes com o mundo. Aqui, neste Recanto, compartilharei com vocês um pouco daquilo que encontro pela cidade.

Nesta edição, trago algumas experiências de cozinhas e modos de pensar o consumo de alimentos, experimentando um novo formato, em que compartilho esse espaço com os protagonistas das ações. Apresento a vocês um pouco da história de São Paulo, por meio do comércio existente no Largo da Batata (bairro de Pinheiros) e das feiras livres da cidade. Também aqui temos iniciativas de hortas comunitárias, ações de permacultura e um espaço novo para veganos ao lado do metrô Vila Madalena. Vamos juntos?

Mainá Santana, Sub-editora de Cultura

 

HAYA FALAFEL

Por Shajar Goldwaser

Tudo começou quando, em 2015, virei vegano. Desde então tinha sempre a sensação de que não podia comer na rua, precisava cozinhar tudo. Por um lado, isso foi bom, porque me fez desenvolver muito meus dons culinários. Porém, quando saía de casa, costumava passar fome. É importante para o veganismo que ele não seja um sacrifício, já que ele não é isso na verdade, muito pelo contrário! Ser vegano é impedir que a alimentação exija sacrifícios. Então comecei a pensar que faltava em São Paulo um lugar onde se pudesse comer algo gostoso, rápido, saudável e vegano. Isso se juntou com minha paixão e história junto ao falafel, que me acompanha ao longo de toda a vida. Assim, surgiu o Haya Falafel.

Antes de começar a produzir em uma escala significativa, nossa ideia era usar o resíduo orgânico como adubo para plantar nossos insumos. Logo que começamos a produzir em quantidade, percebemos que seria necessária uma fazenda inteira para plantar a quantidade de salsinha e couve que consumimos, algo longe do nosso alcance. Nossa sustentabilidade está muito mais ligada a fazer com que as pessoas que saem para comer um lanche, em vez de escolherem um hambúrguer de carne, prefiram um lanche de falafel. Se a gente pensar que no processo produtivo de cada hambúrguer são gastos 2.400 litros de água, numa feira, festa ou evento em que vendemos cem lanches, estamos tendo uma economia de 200 mil litros de água aproximadamente!

Hoje, o Haya Falafel foca sua maior produção no lanche de falafel e em seus complementos, como os molhos (homus, tahine e pimenta) e a famosa batata rústica temperada. A nossa mobilidade possibilita que levemos comida gostosa e vegana para muito longe. Já chegamos com nosso foodtruck até o Rio de Janeiro! Porém, ao trabalhar dentro de uma Kombi, é difícil ter mais diversidade. O espaço limitado e a logística nos obrigou a focar apenas um prato, que mesmo sendo delicioso, não nos permite mostrar as várias possibilidades que uma alimentação de origem vegetal pode oferecer. Em nosso ponto fixo conseguimos expandir um pouco nossos produtos, trabalhando com o misto quente vegano feito com nossa linguiça caseira de grão-de-bico, ou o nosso bolo integral de banana.

Buscamos oferecer ao cliente uma refeição que seja prática e divertida de comer, assim como deliciosa, saudável e vegana. Começamos trabalhando com os lanches enrolados no pão sírio, já que é assim que é feito de modo geral. Porém, a crescente demanda por uma opção de lanche sem glúten nos fez ter a coragem de enrolar um lanche numa folha de couve. O resultado foi surpreendente! Hoje, o falafel na folha de couve tornou-se nossa marca registrada, e a favorita dos nossos clientes.

Somos três sócios que começaram a empreitada. Junto a nós foram se juntando alguns funcionários. Hoje, em nosso ponto fixo temos cinco funcionários, além dos ajudantes que nos acompanham nos eventos externos. Totalizando, nossa equipe é formada por dez pessoas.

Quando a gente sai para vender falafel, é muito comum o público ter um pé atrás por achar que coisas veganas são menos gostosas. Por isso, nossa chave para vender é dar aos clientes a possibilidade de uma degustação. A reação do público é sempre surpreendente. Já ouvi coisas como “De que carne isso é feito?”, ou mesmo pessoas veganas ou vegetarianas cuspindo e dizendo “Desculpa, não como carne”, por acharem que algo vegano não pode ser tão saboroso, ou ainda mais, do que algo de origem animal. Qualquer lugar a que a gente vá, pelo menos uma pessoa acaba se questionando sobre sua alimentação e a possibilidade de comer menos carne no dia a dia.

SERVIÇO
Rua Martinho Falcão, 55 – Vila Madalena, São Paulo. Hospedados na loja Vitaminado. Próximo ao Metrô Vila Madalena.
Horário de funcionamento | De segunda a sexta, das 11h30 às 20h; sábados, das 11h30 às 18h
E-mail | [email protected]
Telefone | 11 – 97301-1119
facebook.com/hayafalafel
@hayafalafel
Aceita dinheiro, cartão de débito e crédito, vale-refeição e Alelo | $

 

MOVIMENTO PERMAPERIFA

Por Daniel Souza

A permacultura é um jeito de olhar para a vida, uma matriz de pensamento. Propõe olhar para a natureza e tê-la como escola. Imitar os fenômenos naturais. Começamos a estudar a permacultura, mais especificamente a produção de alimentos e a construção com terra por necessidade. Ao trabalhar no Cras (Centro de Referência da Assistência Social) numa região da periferia do grande ABC, deparamos com muitas famílias em situação de fome. Moradias precárias — barracos de madeira e falta de comida. Essa é a realidade em que se encontra a maior parte da população e que só tende a aumentar, visto que, após o golpe, o Brasil entrou novamente no mapa da fome e houve o congelamento por 20 anos nos investimentos em educação, saúde e assistência social.

Pois foi ao dedicar trabalho para os mais pobres que começamos a buscar e pesquisar formas ancestrais de produzir o próprio alimento e de construção. Entendemos que poderíamos ter essa função social de relembrar às pessoas os saberes “esquecidos” que estão com os avós. Aconteceu uma defasagem no repasse intergeracional das informações básicas e os saberes foram se perdendo. Claro que a ciência — transmitida pelo sistema escolar — tem papel fundamental nesse processo. Coloca o saber popular como “menor” diante do saber científico, e daí a palavra do médico tem cem vezes mais importância do que a da benzedeira ou a do erveiro. Não estou dizendo que o saber médico e científico é desqualificado, mas que quando ele se coloca como superior e pior — a serviço da indústria farmacêutica, bilionária —, perde a função de cura e ganha a função de lucro.

Temos encontrado ótimos médicos na caminhada. Em geral, são críticos da indústria farmacêutica, conhecem muito sobre as plantas e o plantio. A dra. Clara Brandão, médica pediatra e difusora da multimistura no Brasil (tecnologia social difundida como complemento alimentar para o combate à mortalidade infantil e à desnutrição), é um exemplo disso.

Uma vizinha começa a falar sobre seu problema de refluxo. Lembramos da babosa, que constrói uma película protetora no estômago, logo a outra vizinha traz uma muda de babosa, que cultiva em casa. Vai se formando uma rede, altamente revolucionária. Não tem plano escrito, objetivos. É conversar com a vizinhança.

Esse é um ponto que gostaria muito que as pessoas que revolucionam aprendessem. Conversar com seus vizinhos. Está aí uma potência revolucionária. Aqui no Jardim Claudia as plantas e a terra têm sido a liga para esses encontros.

Um movimento lindo que tem ido nessa direção é o Permaperifa, uma rede de permacultores que trabalham ou moram nas periferias de São Paulo. São educadores, agricultores e construtores que levam esses saberes da terra para onde estão. Nos reunimos a cada três meses, promovemos um mutirão no local, fazemos um almoço comunitário e sentamos em roda para nossa assembleia, quando nos articulamos e decidimos onde será o próximo encontro.  A última reunião aconteceu no dia 11 de março em São Miguel Paulista. Todas as informações estão na página da rede no Facebook.

Esses saberes tradicionais estão majoritariamente nas periferias. É onde estão os netos dos guaranis, dos tupinambás, dos xavantes e das mais de 300 etnias de povos que foram escravizados e saqueados. Assim como toda população neta e bisneta dos povos africanos que foram trazidos ao Brasil e escravizados. É um caldeirão de saberes ancestrais que está vindo à tona. Estamos nos reconhecendo e daí vem a nossa força.

Temos trabalhado pelas periferias da cidade, em escolas, projetos sociais e pela rede Sesc-SP. Os encontros são gratuitos e sempre têm como força condutora a autonomia, a permacultura e a reflexão social.

Daniel Souza é educador, permacultor e psicólogo. Trabalha com sua companheira Iara Rodrigues, que, além de educadora, permacultora e psicóloga, é fotógrafa. Os dois atuam não apenas em sua cidade, São Bernardo do Campo, mas também em São Paulo e em diversas cidades do interior do estado.

SERVIÇO
Rede Permaperifa
Encontros presenciais trimestrais em locais diversos
Contatos| facebook.com/REDEPERMAPERIFA, facebook.com/projetodaterra

 

BREVES HISTÓRIAS DE SÃO PAULO: LARGO DA BATATA

por Mainá Santana

Cada vez mais pessoas têm se interessado em avaliar o modo pelo qual se relacionam com a comida e com sua produção. Outro dia mesmo, caminhando pela Av. Paulista, deparei com uma pequena horta comunitária, quase de esquina com a Rua da Consolação; outra vez, em tonéis, próximo ao início da Av. Angélica. Pesquisando, descobri que a horta da Paulista é chamada de Horta do Ciclista e é cuidada pelo grupo Hortelões Urbanos. E como a internet pode ser uma incrível ferramenta de extensão do olhar, descobri navegando que existe até uma União de Hortas Comunitárias, cuja página traz informações e articulações de encontros para o fortalecimento da prática. Entre as tantas espalhadas pela cidade, selecionei uma presente num local historicamente marcado pelo comércio de alimentos, o Largo da Batata. Lá, a iniciativa popular que cuida da horta é chamada Batatas Jardineiras e partiu do interesse de moradores em revitalizar a região após o término da reforma do Largo (2013). Para entender melhor essa ocupação, precisamos voltar quase um século atrás.

Segundo historiadores, o Largo da Batata é onde se inicia o bairro de Pinheiros. A região era um ponto a salvo dos constantes alagamentos de um Rio Pinheiros muito anterior a sua retificação, cujas margens naquela altura são mais estreitas e rasas. Essa característica do local o tornava atrativo desde o período pré-cabralino, quando a gigantesca trilha indígena Caminho do Peabiru, no trecho que ligava a Região Sul do país ao litoral paulista, chegava às atuais ruas Butantã e Paes Leme, coincidindo com parte da rodovia Régis Bittencourt. Durante o longo período escravagista, muitos quilombolas viviam ali, pois, apesar de ser um ponto estratégico de passagem para o sul, era uma região de difícil acesso ao centro da cidade, tornando-a pouco habitada pelos colonos. Já no final do século XIX, durante o terceiro período de imigração do Brasil, o bairro de Pinheiros passou a ser ocupado também por imigrantes — italianos, em sua maioria. De 1904 a 1909, a ligação até o centro era feita de bonde via Rua Teodoro Sampaio até a altura da Rua Capote Valente, por conta do terreno acidentado e encharcado pela várzea do rio. As pessoas precisavam fazer o restante do caminho a pé, e até hoje essa é uma subida e tanto.

É difícil imaginar uma São Paulo com problemas de mobilidade? Nem tanto, especialmente após as águas deste último março, mas num cenário sem metrô, linhas de ônibus e serviços de carros particulares, podemos pensar que a relação dos moradores com o espaço devia ser bastante diferente. Especialmente porque também não havia supermercados àquela época e compras de emergência se tornavam inviáveis devido à dificuldade de chegar ao centro. Assim, o comércio passou a se desenvolver na região, satisfazendo as necessidades mais imediatas da população. Foi assim que o Mercado de Pinheiros, ou o “Mercado dos Caipiras”, apareceu: era um entreposto para o comércio e a redistribuição dos produtos agrícolas do próprio bairro e das regiões vizinhas, como Jardins, Vila Madalena, Cotia e Itapecerica da Serra. E adivinhe qual era produto mais comercializado? Diretamente dos agricultores de Cotia, em sua maioria de origem japonesa, a batata, cuja produção era tão grande que ficava em sacos do lado de fora do pequeno mercado.

Com os problemas de armazenamento, os produtores de batatas se organizaram em forma de cooperativa, comprando o terreno em frente ao Mercado a fim de construir um depósito para o produto. Com esse movimento, uma ampla gama de profissionais nipo-brasileiros passou a ocupar a região, por conta do aumento da clientela dessa coletividade. Ao longo dos anos, a Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), fundada em 1933, passou a aceitar outros comerciantes como associados, tornando-se a maior fornecedora de produtos para o Mercado dos Caipiras, quando, na década de 1950, este teve o comércio por atacado proibido pelo município.

Durante a década de 1960, ocorreram diversas mudanças. A finalização das obras de retificação do rio na década anterior, aliada à expansão do município, deslocou as classes médias e altas para a zona sudoeste da cidade, iniciando uma modificação do perfil do bairro comercial e de distribuição de alimentos. O Mercado de Pinheiros foi demolido devido ao prolongamento da Av. Faria Lima e reinaugurado em 1971, diminuindo seu prestígio e visibilidade; inclusive, é nessa década que entram as grandes  Também nos anos 1970, com a implantação do Entreposto Terminal São Paulo, hoje controlado pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), a CAC se transferiu para o Jaguaré, indo à falência em 1994, sucumbindo ao longo período de crises do fim do século. Naturalmente, a classe trabalhadora que ali vivia deslocou sua moradia para as regiões além-rio, o que coincidiu com o início dos grandes fluxos migratórios no país pela expansão da indústria. Cotia, Embu e Itapecerica da Serra tiveram suas populações aumentadas em três, sete e dez vezes, respectivamente, e sua ligação com a metrópole continuou sendo o Largo, com melhorias no transporte e a implementação do Terminal de Pinheiros no local.

Entretanto, o diversificado comércio perdurou, especialmente na informalidade dos camelôs do entorno do Terminal. Por longos anos, esses comerciantes ofereciam desde café para os transeuntes até frutas, legumes, carnes e artigos eletrônicos. A região se manteve como um nicho de comércio popular em meio à grande expansão financeira do bairro, trazendo elementos como boates, casas de prostituição, grandes redes varejistas de comércio e uma infinidade de restaurantes baratos. Com a mudança da população do bairro de Pinheiros, novas necessidades surgiram. Por exemplo, o primeiro shopping center da cidade de São Paulo foi o Iguatemi, inaugurado na Rua Iguatemi, hoje Av. Faria Lima, em 1966 — um empreendimento de alto investimento, ousado para uma época em que a moda era fazer compras caminhando na Rua Augusta. Dessa maneira, o Largo da Batata, que não era uma praça, mas apenas uma confluência de ruas e trajetos, tornou-se um campo de batalhas políticas entre a iniciativa privada, o poder público e moradores, como o Movimento Pinheiros Vivo, que, entre outras demandas, solicitou o tombamento da Paróquia São João, primeira igreja da colônia japonesa do Brasil, que se tivesse sido atendido, alteraria as obras de extensão da Av. Faria Lima.

Entre atrasos, descobertas arqueológicas, licitações colocadas como de caráter duvidoso, desapropriações e o grave acidente na construção da estação Pinheiros do metrô, a Reconversão Urbana da região, iniciada em 1995, é finalizada em 2013, tornando o largo quase irreconhecível.

De lá para cá, diversas manifestações populares e eventos artísticos têm acontecido na região, demonstrando a importância da ocupação do Largo da Batata pela população local. Os movimentos de horta comunitária no largo têm uma simbologia que ultrapassa as barreiras do espaço: representam um retomar da história da cidade, ainda que em pequenos canteiros, por meio do plantio de novas ideias.

CONSULTA
Hortelões Urbanos | facebook.com/groups/horteloes/?fref=ts
Batatas Jardineiras | facebook.com/BatatasJardineiras
União de Hortas Comunitárias | facebook.com/UniaodeHortasSP
História do Largo da Batata | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16139/tde-08092015-150425/pt-br.php

 

Você sabia?

* As feiras livres têm esse nome porque eram livres de taxação de impostos. As primeiras feiras paulistanas apareceram em 1914, graças ao prefeito Washington Luiz, que fora pressionado por movimentos anarcocomunistas diante do alto custo da alimentação na cidade.

* Na feira eram vendidos, além de produtos agrícolas, macarrão, óleo e itens de consumo variado, como vassouras, pois os trabalhadores das indústrias recém-instaladas também levavam esses produtos para a feira, atuando como compradores e comerciantes informais.

* Segundo o site da prefeitura, atualmente acontecem 833 feiras por semana na cidade. E algumas delas são específicas de produtos orgânicos!

* Os primeiros supermercados da cidade apareceram na década de 1950, mas só se popularizaram nas décadas de 1970 e 1980, com a injeção de capital estrangeiro.

* O governo brasileiro tem uma publicação sobre a variedade de nossa alimentação, com indicações para melhorar a sua saúde! Estão organizadas por região, mas podemos encontrar muitas delas por aqui. Por exemplo, você conhece a taioba? Confira aqui a lista completa: http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/alimentos_regionais_brasileiros.pdf

 

Aconteceu

DESVAIRADA – FEIRA DE LIVROS DE POESIA DE SÃO PAULO
Por falar em feira, a segunda edição da Desvairada – Feira de Livros de Poesia de São Paulo, aconteceu na Aldeia 445 nos dias 9 e 10 de março. Foi um evento para prestigiar e celebrar a poesia, com editoras independentes, mesas de debate, leituras de poesia, concurso de videopoemas e performances. Organizada por Marília Garcia, Natália Agra, Fabiano Calixto, Leonardo Gandolfi e Tiago Marchesano, a Feira é resultado da junção de um coletivo de editoras independentes que trabalham para ampliar a difusão e a leitura de poesia.
Diversas editoras participaram, vale a pena conferir quem esteve envolvido nesta iniciativa!
facebook.com/events/805147906337070
A Aldeia 445 fica na Rua Lisboa, 445, em Pinheiros.

REDE EMANCIPA
A Rede Emancipa é um Movimento Social de Educação Popular composto por mais de 50 cursinhos populares gratuitos espalhados pelo Brasil, trabalhando com cultura, esporte, alfabetização, libras, educação para jovens em restrição de liberdade e um centro de formação de educadores e educadoras. No dia 3 de março, a aula magna inicial dos cursinhos aconteceu no Vale do Anhangabaú, com diversos discursos de ex-alunos graduados e graduandos em universidades públicas por todo o país. Achei interessantíssimo ouvir essas novas vozes, cheias de gás e energia disponíveis para construir um novo futuro.
Fica o site para você dar uma olhadinha: www.redeemancipa.com.br

 

Arte em vo-C

* Gosta de escrever poesia? E de dançar, atuar, pintar? A partir das próximas edições, esta seção será exclusiva para textos dos nossos leitores! Envie o seu material com seu nome (ou pseudônimo, fique à vontade!) para que a gente publique e compartilhe na revista e em nossas mídias sociais. Todos têm arte fluindo nas veias, que tal mostrá-la para o mundo? Estamos a um clique de distância. 🙂

[email protected]

 

quietude
Júlia Iwanaga

o barulho lá fora,
cafuné.
um aconchego dentro de mim.

 

Concreto
Guigo Ribeiro

Concreto o peso das formas
Gestos, manias, acento
Concreta a certeza do outrora
O peso do silêncio, o lamento

Há um contorno na reta
No brilho imoral da paisagem
Concreta é a construção
Cinza que colore a passagem

Os corpos se juntam no frio
Num canto aguardo amanhã
Concreta a luz do abandono
Loucura: esquecimento da gente sã

Avesso ao passo pro cartão
Ao bloco de notas vazio
O pulso do senhor patrão
Os corpos se juntam no frio

Há um contorno na reta
Há o espaço pra velhas normas
Cabe o agora pintar
Rupestre em velhas formas

Concreta a estátua viva
Concreta a máscara da indiferença
A ausência do olhar da gente
Enquadramento pra foto da indecência

Concreto o peso das formas
Formas e seu peso concreto
Concreto o jeito das normas
Normas nas curvas do reto

 

 8M
Mainá Santana

Fosse minha a insanidade, resolveria eu mesma
seca das águas que as empresas bebem
Meu economizar não ecoa porcentagem ínfima
de tal pesar

Me empurram uma culpa
cujas responsabilidades não estão em meu papel
O sujeito é o culpado
A sujeita é louca e dolosa

Me atribuem remédios
para sarar uma doença que não é minha
É endêmica, é sistêmica

Constam os fatos que nunca alcançarão a cura
Ditam a loucura
A reintegrar a posse de quem eu sou

Mas, fosse eu o problema
ou você
ou subjetividade qualquer

Destemeríamos

 

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