Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
Muitos se incomodam ao ver pessoas usando e humilhando outras. Talvez porque constatemos que há quem se utilize dos seus semelhantes como quem usa um objeto. Podemos classificar tal desvio de conduta como uma infração ao princípio de dignidade da pessoa humana.
Apesar de reprovável, deparamo-nos com esse desrespeito diariamente — muitas vezes sem percebê-lo. Empresas utilizam crianças enfermas em anúncios para promover as vendas, aproveitam tragédias naturais para construir um marketing de responsabilidade social, lucram com doações e abatimentos fiscais. Há os que se aproveitam da miséria para entregar suprimentos: melhoram a imagem pública para conseguir votos. Tais vampiros utilizam a destruição do outro para tirar benefícios, e comumente são por nós aplaudidos: os chamamos distraidamente de “responsáveis”.
Mas podemos, nós também, usar o outro como quem usa um objeto, sem termos consciência disso: quando reclamamos do garçom que julgamos pago para atender nossos desejos sorrindo, quando fletarmos ou saímos com uma pessoa para causar ciúmes em outra, quando utilizamos a sedução para obter benefícios no trabalho ou para suprir carências afetivas sem se importar com sentimentos alheios.
Exercitar a empatia é um modo de desconstruir esta lógica da submissão. Cristo ou Kant nos questionaram: — Gostaria que alguém se utilizasse de sua fraqueza ou boa vontade para usá-lo ou explorá-lo?
Miniensaios de Filosofia, volume: Ética, Medo & Esperança, cap.XIX, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]