Por Ronaldo Campos

Quando Cait Jacobs postou pela primeira vez no TikTok a resenha de alguns de seus livros prediletos, em dezembro de 2019, não imaginou que havia criado a maior comunidade virtual para venda de livros impressos.

Em poucos dias, a conta de Cait saltou de cem para 10 mil seguidores. Embalados pela boa repercussão e percebendo o potencial do novo canal de vendas, outros criadores de conteúdos e as editoras começaram a fazer o mesmo. Com o rápido crescimento das publicações, o TikTok criou uma comunidade chamada BookTok. As visualizações ultrapassaram a marca de 180 bilhões e se somadas ao #reading, #books e #literature, o número sobe para 240 bilhões.

As previsões pessimistas sobre o futuro dos livros impressos precisam ser revistas. Nos dois últimos anos da pandemia (2021/2022), as vendas nos Estados Unidos atingiram o recorde de 820 milhões, enquanto os e-books ficaram na casa dos 185 milhões. Como muitos clientes passaram a procurar nas livrarias os livros publicados no BookTok, criaram em suas estantes a categoria publicado no BookTok. A rotatividade é alta — principalmente quando uma celebridade posta uma lista atualizada de livros recomendados.

Alguns bibliófilos criticam os vídeos postados no BookTok por acharem que as pessoas estão mais preocupadas em se promover do que em recomendar um livro. Performances são frequentes: leitores concentrados grifando meticulosamente várias linhas, fundo musical, dramatizações, cenários temáticos e close-ups são alguns dos recursos utilizados e também apontam a falta de argumentos consistentes sobre as obras. No entanto, os vídeos continuam sendo visualizados por bilhões de pessoas que se sentem pertencentes a uma versão moderna do clube do livro.

Uma pesquisa recente da Nielsen mostrou que 80% dos booktokers (pessoas que produzem vídeos do BookTok) preferem ler em papel do que no e-book. Dizem que no vídeo o e-book perde em atração visual e que a leitura de livros impressos é um forte alavancador de vendas — segundo alguns especialistas. Outro fator importante é a estratégia das editoras em se anteciparem aos lançamentos de séries, filmes e documentários baseados em livros. Um pouco antes de estrearem nos streamings, as editoras publicam vídeos no BookTok e avisam as livrarias para disponibilizá-los na prateleira publicado no BookTok.

Ao contrário de muitos críticos literários que preferem manter uma postura eminentemente técnica e nunca abrem seus corações a ponto de chorar quando falam das obras que os emocionam, no BookTok as emoções correm soltas e são glorificadas — quando não exigidas —, criando, assim, um novo gênero artístico de ampla aceitação e um grande impulsionador para a venda de livros impressos.

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