Por Ronaldo Campos
No século I a.C., o escritor romano Valério Máximo perguntou: “O que as mulheres têm a ver com a política?”. Como ninguém se manifestou, ele mesmo respondeu: “Nada!”. Sua resposta foi baseada na observação dos costumes, ou seja, ele não se deu conta de que elas estavam tomando o poder pela porta dos fundos.
As mulheres do Império Romano eram admiradas apenas pelas virtudes atribuídas a elas. Em uma época em que a participação delas na política era proibida, só lhes restava ser, por exemplo, pudicitia, casta, “pura” e servil aos caprichos de seu marido. A dedicação exclusiva ao lar as transformava em uma pessoa “honrada”. O imperador Cláudio I dizia que sua esposa era tão honrada, mas tão honrada, que não era possível formular uma pergunta sobre a honradez dela. Mas havia muita hipocrisia no ar, já que a infidelidade masculina era aceita pela sociedade. Aemilia Tertia era muito admirada por fazer vista grossa aos relacionamentos que seu marido, o general Scipio Africanus, mantinha com suas escravas dentro da própria casa.
Antes da dinastia júlio-claudiana (27 a.C. – 68 d.C.), a sogra do futuro primeiro imperador da dinastia, Fulvia, causou horror ao participar da política e dos assuntos militares ao lado de seu marido, Marco Antônio (sim, ele mesmo: o amante de Cleópatra), que era general e se tornou membro do segundo triunvirato (associação política). Fulvia foi acusada de causar tumultus nos assuntos do governo, já que não se contentava com os afazeres domésticos. Ela chegou a ser tão poderosa que teve uma moeda cunhada com sua imagem. O historiador grego Plutarco (46 d.C – 119 d.C.) chegou a dizer que ela era uma mulher problemática porque não tinha interesse em tecer as roupas de seu marido, e que atrapalhava ao se intrometer nos assuntos do Estado.
Durante a dinastia júlio-claudiana, outras mulheres poderosas saíram dos bastidores e entraram em cena. Lívia foi esposa de Augusto, primeiro imperador da dinastia, que governou de 27 a.C. a 14 d.C. Quando se conheceram, ela era casada e estava grávida do segundo filho, Tibério — que se tornaria o próximo imperador. Não foi muito difícil que Augusto a convencesse a se separar de seu marido. Ela era tão obcecada pelo poder que desempenhava com perfeição o papel da mulher virtuosa — para não levantar “suspeitas” —, mas atuava intensamente nos assuntos do Estado. De acordo com o historiador Cassius Dio, há uma passagem em que ela foi pega na presença de alguns homens nus. Ela se defendeu dizendo que era tão pudicitia que ver uma estátua ou vê-los era a mesma coisa.
Augusto continuava com problemas para organizar sua linha sucessória em uma dinastia que supostamente não era para ter existido. Ele se defendia dizendo que havia restaurado a República e não uma monarquia hereditária — o que era uma contradição, já que ele procurava obstinadamente por um sucessor. Sua esperança estava em um dos dois filhos de sua única filha, Júlia. Porém, ambos morreram quando ainda eram jovens e, consequentemente, a única saída estava em Tibério, filho do primeiro casamento de sua esposa Lívia.
Augusto impôs a sua filha o divórcio para que ela se casasse com Tibério, que se tornou imperador em 14 d.C. Mas o casamento com Júlia não pôde ser sustentado por muito tempo devido às sucessivas festas que ela dava e que muitas vezes terminavam em orgias. Ela era extremamente inteligente e astuta, e quando reprimida pelo pai e/ou pelo marido, dizia para não se preocuparem, pois só participava das festas quando tinha certeza de que estava grávida de seu marido. Como o próprio Augusto havia criado uma lei, na tentativa de “moralizar” a sociedade romana, pela qual o marido deveria denunciar a esposa adúltera, não sobrou outra saída senão enviá-la para o exílio.
O terceiro imperador da dinastia foi Calígula, que governou de 37 a 41 d.C. Era filho de Agripina, a Velha, filha de Júlia, portanto neta de Augusto. Júlia foi uma imperatriz que nunca “governou”. Admirada por sua bravura, ela enfrentou Tibério ao responsabilizá-lo pela morte de seu marido. A partir de então passou a ser perseguida por ele, e dos nove filhos que teve, apenas Calígula e três filhas sobreviveram à perseguição. Uma delas, Agripina, a Jovem, daria à luz o último imperador da dinastia júlio-claudiana.
Agripina, a Jovem, casou-se com o seu tio Cláudio I, que foi imperador de 41 a 54 d.C. Ela se tornou a mulher mais poderosa e influente de todo o Império Romano. Era politicamente brilhante e ao mesmo tempo cruel com seus inimigos. Como eles não tiveram filhos, Agripina fez com que Cláudio I deserdasse seu único filho, de outro casamento e legítimo sucessor ao trono, para nomear Nero, filho dela com o político Domício, o novo imperador. Ele governou de 54 a 68 d.C.
Assim que Nero tornou-se imperador, ela assassinou Cláudio I e passou a “governar” ao lado de seu filho, eliminando qualquer um que tivesse direito à sucessão ou que fizesse oposição ao governo. Mas ela não contava com o ressentimento de seu filho para com ela, pelo fato de ser uma mãe extremamente dominadora. Quando Nero se casou com Pompeia Sabina, Agripina sentiu a derrota no ar e ofereceu uma relação incestuosa para se manter no poder. Só que era tarde demais e Nero ordenou sua morte.
Muitos desses fatos históricos parecem inacreditáveis, e até os roteiristas mais criativos de novelas mexicanas não criariam personagens tão fortes, determinadas e obstinadas como essas poderosas mulheres do Império Romano. Elas entenderam que o poder e a sobrevivência precisariam ser tomados à força. Como não tinham nenhum direito à política, encontraram no marido e nos filhos o único caminho aberto deixado pela sociedade romana. Muitas delas pagaram um preço terrível e tiveram um final infeliz. Mas cada uma, a sua maneira, deixou sua marca na história e o aprendizado de que ainda hoje muitas peças da engrenagem social funcionam de modo desigual.
Fulvia
Lívia
Júlia
Agripina, a Jovem