Por Gustavo de Oliveira

O processo de aprendizagem carrega em si vários sentimentos diferentes. Um dos principais, principalmente quando sentimos dificuldades, é a frustração. Algo único e difícil de descrever, já que vai de encontro aos nossos desejos e ambições, ao mesmo tempo que abala nossas certezas. Geralmente, quando vamos consumir algum tipo de obra, seja um filme, seja um disco ou um livro, esse tipo de sensação não existe, pois o que buscamos em alguns momentos é o escapismo, a diversão. Porém, tão único quanto o sentimento de frustração é o videogame.

Ao contrário das demais mídias predominantes no conceito de arte, os videogames trabalham sob a lógica de um “espectador ativo”. Ou seja, a agência do jogador influencia o acontecimento do jogo. Resumindo, você precisa interagir e aprender sobre o jogo para que possa jogá-lo. E alguns jogos se aproveitam dessa lógica e a elevam à décima potência, fazendo com que a experiência de jogar seja uma experiência de aprender.

Esse é o caso de Sifu, um jogo lançado em 2022 e desenvolvido pelo estúdio francês Sloclap. Ele segue uma história simples sobre vingança, em que jogamos com um aprendiz de kung-fu que precisa vingar seu mestre, que foi morto por um antigo aluno. Utilizando diversos modelos e referências de jogos e filmes, o jogo cria uma experiência que instiga o jogador a se aperfeiçoar. Isso acontece graças a uma mecânica bem específica que faz com que, ao perder (ou morrer), o jogador seja obrigado a retornar ao início do jogo.

A partir dessa lógica, Sifu cria uma atmosfera e uma sensação constante de aprendizado, como se o jogador realmente fosse um aluno de artes marciais. Mas ele vai além, porque sabe usar a frustração aliada à sua dificuldade, por meio de sistemas de jogo muito específicos. Sua movimentação e combate são muito punitivos ao menor erro cometido, graças a uma captura de movimentos muito bem-feita.

Mesmo que esse sentimento de frustração se exceda em alguns momentos do jogo, logo ele é suplantado pela forma como Sifu nos faz vivenciar perfeitamente uma história vista tantas vezes, tanto no videogame quanto no cinema. Porque ele é um jogo que se utiliza de várias referências visuais e atmosféricas que nos remetem a filmes de ação muito memoráveis, ao mesmo tempo que aproveita o realismo e a precisão do seu combate para nos transformar em atores dessas obras. O jogo quase prova que é possível fazer tudo que acontece naqueles filmes, por meio da habilidade adquirida jogando e se aperfeiçoando.

Sifu aceita a influência do cinema na sua concepção, mas também entende e utiliza ao máximo o formato e as ferramentas que os videogames oferecem. Por isso, com certeza é um jogo que vale a paciência na hora de aprender.

 

 


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

Foto de Charlein Gracia/Unsplash
Imagem: Wikipedia
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