Texto | CAMILA BARRETO
É fato mais que sabido que estamos sempre em contato com diferentes tipos de texto cotidianamente. Desde a alfabetização na escola e durante toda a nossa vida, somos expostos de modo constante a diversas formas textuais, seja em livros, cartazes, propagandas, nas conversas do dia a dia e mesmo neste artigo que você lê agora. Mas, afinal, o que é, de fato, um texto?
A palavra deriva do latim textum, que significa “tecido”. Essa origem ajuda a entender o conceito: texto é um entrelaçado de elementos que constroem significados. É um discurso que pode ser verbal ou não verbal, oral, escrito ou gestual, e sempre carrega em si e transmite sentidos que dependem tanto de sua estrutura interna (o que diz, como diz e o modo de organização), como também de seu contexto externo (quem diz, para quem diz e em qual situação). Assim, um texto só tem sentido no cenário de interação social entre os sujeitos.
De fato, o discurso está realmente em toda parte: nas propagandas, nos memes — que articulam elementos verbais e visuais —, no cardápio do restaurante, na bula de medicamentos, no celular, nas placas de trânsito, entre outros. Cada um deles pertence a um gênero diferente, definido a partir de sua função comunicativa e seu contexto específico de circulação. E é importante destacar que esses gêneros são dinâmicos, visto que, a cada momento, surgem novos formatos e novas mudanças sociais que demandam novos métodos de comunicação, especialmente no cenário de rápidos avanços tecnológicos.
Além disso, cada tipo de texto tem uma circulação diferente, de acordo com a sua proposta e receptor ou público-alvo. Vale ressaltar que esse discurso sempre estabelece uma relação de sentido entre o produtor ou emissor e o receptor da enunciação, de modo que os elementos internos e externos são interdependentes.
Existem, ainda, formas que são menos óbvias, isto é, que não surgem imediatamente à mente quando pensamos sobre o assunto, mas que também estabelecem uma importante relação semântica ao entrelaçar diferentes elementos a partir da linguagem. Um exemplo disso é o texto fílmico, potente discurso verbo-imagético e iconográfico que se dá por meio da linguagem cinematográfica. De igual modo, ele também é construído a partir de componentes internos (roteiro, fotografia, colorimetria, montagem, edição, som etc.) e se comunica com o público por meio de um contexto sociocultural. Os elementos visuais funcionam como agentes discursivos, e a imagem em movimento se mescla com recursos verbais numa relação de interdiscursividade.
Muitas vezes, os textos cinematográficos têm maior circulação e alcance, especialmente por articularem recursos verbais e não verbais. Somado a isso, há o fato de que nós, brasileiros, estamos lendo cada vez menos, pois, de acordo com a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2024, pela primeira vez desde o início da série histórica, que começou em 2007, a maioria dos brasileiros não lê livros.
Filmes como Ainda Estou Aqui, o grande vencedor da categoria Filme Internacional do Oscar, é um exemplo de como a linguagem cinematográfica pode traduzir, transmitir e ampliar sentidos presentes na linguagem escrita por medio de outro tipo de texto, nesse caso, o fílmico. Adaptada da obra homônima do escritor Marcelo Rubens Paiva, a produção foi um sucesso de bilheteria nacional e internacional, e pôde, portanto, expandir o seu discurso — fundamental para a história do Brasil — para outros públicos que talvez não fossem tão chegados à leitura.
Certamente, um texto vai muito além da simples articulação de palavras: trata-se de um conjunto de componentes linguísticos — verbais, escritos, gestuais, imagéticos — que, unidos por uma unidade semântica, constroem significados. Essa tecitura, enfim, se dá a partir do sentido que esses elementos assumem na língua e em sua função social de interação entre os sujeitos em determinada situação. É por meio desse entrelaçamento, em suas diferentes formas, que se estabelecem as interações sociais e intelectuais.
Camila Barreto foi a vencedora do Projeto Escrita 2019 e se tornou colunista da revista INSPIRE-C. Atualmente estuda Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Diagramação | RONALDO CAMPOS
Foto capa | Jefferson Vinluan/Unsplash
Fotos mídias | Darwin Boaventura e Lucas Santos/Unsplash