Por Thiago Mota

Certa vez o cantor e compositor Gonzaguinha andou a perguntar para algumas pessoas o que era a vida. “E a vida, o que é, diga lá meu irmão?”. Após algumas respostas, ele as reuniu e compôs uma das mais importantes canções brasileiras: “O Que É, o Que É”. A música traz a versão da felicidade a partir de como as pessoas veem a vida. E o que será então esse olhar?

Enquanto a música diz que a felicidade pode estar na “beleza de ser um eterno aprendiz”, o Fórum Econômico Mundial também retrata a importância desse aprendizado ao longo da vida como o lifelong learning. O assunto é tão importante que se tornou pauta das principais conversas em torno de como as pessoas devem se reinventar por meio da aprendizagem ativa. Caminho que as eleva a novos patamares de consciência e capacidade de lidar com o novo, com as chamadas habilidades do futuro do trabalho. O desafio, mais do que nunca, é aprender a aprender.

Em geral, as pessoas buscam aprender algo para poder um dia aplicar em algum ofício. E, segundo artigo da HSM que aponta uma pesquisa realizada com a Korn Ferry, pessoas que aprendem rápido têm duas vezes mais chances de ser promovidas. Com as profissões se reinventando a todo instante, assim como o mercado, o que aprender, como estudar, como ser feliz e estar atualizado em tempos de tantas transformações?

Olhemos para este tripé: aprendizagem, trabalho e felicidade. Nele podemos encontrar a importância de por que aprendermos algo, onde e como aplicamos e os resultados que colhemos disso. E para conjugar essas três instâncias, um atributo é fundamental, pois une as três e as direciona: o significado.

Encontrar significado naquilo que fazemos é vital para a experiência humana. A busca desse porquê deixou de ser tema apenas filosófico para ganhar pauta nas organizações e se tornar capa de livros como o do escritor Simon Sinek: Comece pelo porquê. Muitas vezes a ausência desse significado é o que tem levado pessoas a se perguntarem sobre o que estão fazendo com suas vidas, enquanto passam a maior parte do tempo no trabalho. O tipo de movimento que dá origem a expressões como worklife balance. Na tradução, a busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.

Após muita gente ter conhecido o modelo de trabalho híbrido, que mescla os momentos presenciais com os remotos, muitos não querem mais retornar aos padrões antigos, com cinco dias fixos dentro do escritório. Essa busca por modelos que equilibram melhor a dedicação ao trabalho e outras atividades como lazer, esportes, família e autocuidado é o sonho de muita gente. Quem somos nós, além de nossos crachás?

Durante o período da pandemia, mais precisamente no início de 2021, esse questionamento foi ampliado e nos EUA ganhou o nome de “Great Resignation” (a grande resignação). O nome faz referência ao pedido de demissão voluntário em massa de diversos americanos. A pandemia acelerou muitas transformações na sociedade e uma delas diz respeito à revisão do papel do trabalho na vida das pessoas. Porém, quando olhamos para o período antes da pandemia, podemos encontrar informações como a pesquisa do Instituto Gallup, que já havia compartilhado que apenas 13% das pessoas no mundo se consideram engajadas com seu trabalho.

Essa falta de engajamento pode ser resultado de uma grande crise de sentido/significado. Segundo o filósofo Aristóteles, a felicidade é uma finalidade da vida humana. E correspondendo a essa finalidade podemos encontrar na doutrina ética grega a expressão eudaimonia. O “eu” significa a nossa individualidade e o bem. Já o “daemon” significa a conexão com o alto, com o superior. Essa busca pela felicidade tornou-se tão importante ao redor do mundo que deu origem a instituições como o Happiness Research Institute, em Copenhague, na Dinamarca. Estive presencialmente lá e pude conversar com Isabela Arendtt, uma das pesquisadoras, sobre o assunto. O instituto tem como missão revelar, por meio de pesquisas, a conexão entre qualidade de vida e bem-estar com a felicidade. Segundo a visão de significado e propósito que o Instituto tem, há três motivações-chave em torno das pessoas e seu trabalho. A primeira diz respeito à motivação pessoal, em que as pessoas têm satisfação direta pelo que fazem e realizam. A segunda é uma motivação social. As pessoas se sentem parte de um grupo e querem contribuir para aquele time. E a terceira é a motivação de se trabalhar por um bem maior, por um mundo melhor. Segundo Isabella, nós possuímos em geral essas três e “encontrar esse significado é o fator mais importante para desenvolver e aumentar o nível de engajamento individual.

Alinhar nossos propósitos de vida individuais aos do nosso trabalho é um caminho vital para encontrar esse engajamento. Segundo o professor de Psicologia Junguiana Magaldi, precisamos olhar para a diferença entre trabalho e labor. O primeiro vem da derivação do instrumento de tortura, o “tripalium”. Já o segundo, o labor, oriunda de como no passado os alquimistas dedicavam seu tempo a construir com amor e devoção suas atividades. Quem gosta, assim como eu, da literalidade das palavras, pode também encontrar a origem no latim da palavra pecado (peccatum), que significa “pisar em falso”, perder o “pé”, perder o caminho, enfim, desviar do seu “sentido”.

Qual é, então, o sentido do trabalho em sua vida? Quando nos percebemos como seres interligados e que as ações coletivas impactam as ações individuais e vice-versa, começamos a perceber que essa busca por felicidade é também uma busca por mais consciência e equilíbrio de uma forma geral. Devemos compreender que estamos vivendo um novo momento, com novas necessidades e que esta deve ser uma busca não apenas de indivíduos, mas de pessoas, grupos, organizações, governos, cidades, países e de todo o planeta. Compreender sistemicamente como nossas ações individuais impactam o todo pode ser o caminho para internalizarmos a frase do poeta Tom Jobim: “É impossível ser feliz sozinho”.


Thiago Mota
Sócio e fundador do Novo Expediente, caminho que escolheu para levar mais consciência sobre como lideramos e gerimos as organizações. Formado em Relações Internacionais, tem MBA em Gestão de Negócios pela FGV e atualmente estuda Psicologia Analítica pelo IJEP/SP. É Designer de Experiências de Aprendizagem pela Kaospilot/Copenhagen, mentor de negócios de alto impacto e facilitador de grupos em temas como liderança, cultura e inovação em diversas organizações no país.
Contato: [email protected] | @thiago_mota

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