Willy Helm*

Resumo: O Grua – Gentleman de Rua, desconstrói o estereótipo machista e propõe por meio da gentileza um convívio mais harmonioso e humanizador entre todas as diferenças possíveis existentes entre as pessoas.

Palavras-chave: Gentileza, Performance artística, Convivência, Desconstrução.

 

Quando iniciamos o Grua – Gentlemen de Rua, em 2003, não pensávamos ainda sobre as questões que hoje permeiam o nosso trabalho, como a gentileza nas ações artísticas na rua — com os transeuntes e entre nós mesmos — e a desconstrução da imagem do homem de negócios bem-sucedido, um símbolo de poder em nossa sociedade. Quando partimos para a Avenida Paulista pela primeira vez, éramos movidos apenas pelo desejo de dançar na rua, de uma forma livre e descompromissada. Com as repetições e discussões da experiência de realizar esse “ato”, fomos percebendo sobre o que era o nosso trabalho e como queríamos nos comunicar com esse público aleatório e improvável — tipicamente paulistanos saem do trabalho no final do dia e deparam com as mais variadas manifestações artísticas, como música, dança, teatro e performance. A partir da percepção do poder de comunicação que adquirimos ao dançar de terno a rigor, na rua (um bando de homens, quase todos brancos, héteros e que traziam como característica em comum o pertencimento, à época, ao Balé da Cidade de São Paulo), começamos a nos importar realmente com o que queríamos dizer ao mundo com esse trabalho. E somente há pouco, após mais de dez anos de trajetória e atuação contínua, nos voltamos às questões da postura, atitude e tipo do “macho” ou “ser do sexo masculino” que estávamos representando. A gentileza veio em primeiro lugar — falo do aspecto de gentileza nas ações com as pessoas na rua, no momento das performances. Logo cedo percebemos que não gostávamos nem queríamos “invadir” o espaço do indivíduo, mesmo na rua, um espaço público. Não queríamos constranger, coagir, assustar nem intimidar as pessoas, o nosso público improvável. Mais nos interessava era conectar, seduzir sem agressividade, comunicar-nos com essas pessoas de uma forma respeitosa, não invasiva, com abertura para os afetos mútuos. De uma forma, a nosso ver, gentil. E essa atitude gentil foi trazida para dentro das relações entre os artistas, pois percebemos a necessidade de vivenciar entre nós aquilo que gostaríamos de transmitir.

Logo cedo percebemos que não gostávamos nem queríamos “invadir” o espaço do  indivíduo, mesmo na rua, um espaço público.

O momento que todos nós estamos vivenciando já há algum tempo, com relação aos questionamentos sobre os papéis e paradigmas do homem e da mulher na sociedade, nos chama a atenção para dentro, e deparamos com o desejo e o desafio de desconstruir em nós essas referências do macho, do masculino, sem pieguice ou estereótipos, mas buscando o lugar poético do equilíbrio Yin-Yang, da união e potência dos opostos e dos semelhantes. Num mundo que nos parece em tantos momentos caminhar para a desumanização, para o individualismo e para todas as formas de intolerância, aponta-se a necessidade de tocar nesses pontos sensíveis, de permitirmo-nos explorar e nos aventurar por esses caminhos desconhecidos para nós, de certa forma, um grupo de artistas com um lugar de privilégio social. E assim tentar trazer para o olhar e para o sentimento um tanto árido predominante nas grandes cidades um pouco de fragilidade sem perder a força, de delicadeza sem perder a potência, de loucura sem perder o amor.

*Willy Helm é artista da dança, trabalhando como diretor, criador, intérprete e performer. Em São Paulo, foi integrante do Balé da Cidade e da Companhia de Dança Cisne Negro, trabalhando com coreógrafas e coreógrafos nacionais e  internacionais. Atualmente, em parceria com Jorge Garcia e Osmar Zampieri, dirige o Grua – Gentleman de Rua, administra um espaço de arte e cultura em Natal (RN), o A3, e cria peças coreográficas por todo o país. Para saber mais sobre o trabalho do Grua, acesse www.grua.gr

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