Texto | GUSTAVO DE OLIVEIRA
Além da expressão de sensações e sentimentos, obras de arte também são feitas de escolhas. Tomar decisões é um fator fundamental para a produção artística, afinal de contas, são elas que definem o formato e a maneira como seus elementos serão executados. Isso acontece na música, no cinema e também nos videogames. Um dos exemplos disso é o jogo Indiana Jones e o Grande Círculo, lançado no final de 2024, que subverteu as expectativas ao redor dele ao adotar uma câmera em primeira pessoa.
Essa escolha de perspectiva no jogo não é apenas uma decisão estética, mas um elemento fundamental para a construção da imersão e da autenticidade da experiência. No entanto, a recepção inicial do público ao primeiro trailer do jogo revelou um estranhamento generalizado em relação à ausência de uma visão em terceira pessoa, algo que muitos consideram essencial para um título de ação/aventura. Contudo, ao analisar mais profundamente as razões por trás dessa decisão, percebe-se que a perspectiva escolhida não apenas faz sentido, mas também enriquece a adaptação cinematográfica para o meio interativo.
O mercado de videogames está repleto de títulos que seguem a fórmula de aventura consagrada por Indiana Jones. Desenvolver um jogo baseado nessa franquia sem cair na armadilha de parecer uma mera imitação de sucessos anteriores exige um diferencial significativo. A solução encontrada pela MachineGames, o estúdio sueco responsável pelo jogo, ao optar pela câmera em primeira pessoa, não apenas evita comparações diretas com outros títulos do gênero, mas também permite uma aproximação mais íntima e envolvente com o universo do famoso arqueólogo. Esse design de jogo possibilita que o jogador vivencie os desafios e descobertas de Indiana Jones de forma direta, sem a interposição de um avatar visível na tela, reforçando a sensação de exploração e investigação.
Além disso, a estrutura do jogo se distancia da ênfase no combate frenético, característica comum em grandes jogos modernos, e resgata uma abordagem mais clássica de aventura. A exploração de ambientes, a resolução de quebra-cabeças e a busca por pistas são elementos que se beneficiam muito da perspectiva em primeira pessoa. A necessidade de observar atentamente os cenários, abaixar a cabeça para consultar mapas e utilizar o campo de visão de forma estratégica contribui para uma experiência mais responsiva. Esse ritmo mais pausado permite que o jogador sinta o peso de suas descobertas, algo que seria menos impactante com outro tipo de abordagem.
Outro ponto relevante é a maneira como o jogo transpõe as lógicas cinematográficas para o meio interativo. A franquia Indiana Jones se destaca pela sua linguagem cinematográfica apurada, mas acessível, utilizando enquadramentos e movimentações de câmera para intensificar a narrativa e a ação. Em Indiana Jones e o Grande Círculo, essa lógica é adaptada para o videogame sem tentativas de replicar mecanicamente a experiência do cinema. Em vez de buscar um realismo visual absoluto, o jogo se concentra na fluidez da narrativa e na construção de momentos emblemáticos por meio das interações do jogador. Essa escolha ressalta que uma boa adaptação não está na reprodução do formato original, mas sim na tradução de sua essência para as ferramentas específicas do novo meio.
Indiana Jones e o Grande Círculo se destaca não apenas como um dos melhores jogos de 2024, mas também como uma das adaptações mais bem-sucedidas de um filme para os videogames. Ele demonstra que a fidelidade a uma franquia não significa replicar sua estética, mas sim compreender seus princípios e traduzi-los de forma eficaz para o meio interativo. A aposta na perspectiva em primeira pessoa não é um erro ou uma limitação, mas uma decisão criativa que fortalece a experiência do jogador e reforça a autenticidade da aventura.
Clique AQUI e assista ao trailer de Indiana Jones e o Grande Círculo.
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.
Diagramação | RONALDO CAMPOS
Imagem: Divulgação