Por Ronaldo Campos
Em 8 de março celebra-se o Dia Internacional das Mulheres e é bem provável que você tenha enviado um WhatsApp para a sua mãe, esposa ou filha e também tenha reparado que as lojas, restaurantes e shoppings distribuem flores nesse dia. Mas você sabe como tudo começou?
Para responder a essa pergunta é preciso voltar na história. Em 1908, mais de 10 mil mulheres ocuparam as ruas de Nova York exigindo salários melhores, redução das jornadas de trabalho e direito ao voto. No ano seguinte, o Partido Socialista Americano criou o Dia Nacional das Mulheres. No entanto, a ideia de uma data internacional só ocorreu em 1910, quando Clara Zetkin, defensora dos direitos das mulheres, sugeriu na Conferência Internacional das Trabalhadoras, em Copenhague, uma data comemorativa.
Zetkin queria que cada nação escolhesse a sua data. Apenas em 1911, portanto um ano após a Conferência Internacional das Trabalhadoras, a Áustria, a Alemanha, a Dinamarca e a Suíça celebraram pela primeira vez o dia das mulheres. Após seis anos, uma nova paralisação definiria a data representativa. Em 8 de março, durante a Revolução Russa (1917), as mulheres foram novamente às ruas e desta vez exigiam “bread and peace” (pão e paz). A greve durou quatro dias, até o czar Nicolau II renunciar ao trono.
Nos últimos anos, infelizmente, houve um retrocesso na luta pelos direitos das mulheres. Por exemplo, com a volta do talibã ao poder em 2021, as afegãs foram proibidas de trabalhar, as meninas só podem estudar até o ensino fundamental e o ministério para os assuntos das mulheres foi desfeito. Outro dado triste é o aumento global no número de feminicídios. No Brasil houve um recorde em 2022, assim como em Honduras, Colômbia, Guatemala, Bolívia, Paraguai, Porto Rico e Uruguai. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, 45% das mulheres do mundo sofreram algum tipo de violência física ou psicológica durante a pandemia da Covid-19.
Ainda há muito a ser feito, porém as conquistas recentes não podem ser esquecidas. Por exemplo, Kamala Harris é a primeira mulher negra e descendente de asiáticos a se tornar vice-presidente dos Estados Unidos. Ainda no campo da política, outras lideranças femininas surgiram: Samia Suluhu Hassan na Tanzânia, Xiomara Castro em Honduras, Kaja Kallas na Estônia e Najla Bouden Romdhane na Tunísia. No Brasil, alcançamos importantes conquistas, entre elas a Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006.
Essa lei alterou o Código Penal. Os agressores passam a ter a prisão decretada em flagrante e as penas alternativas foram extintas — como o pagamento de cestas básicas, por exemplo, que era muito usual antes da criação da Lei Maria da Penha. O tempo máximo de detenção aumentou de um para três anos e, após o cumprimento da pena, o agressor fica proibido de se aproximar da ex-parceira e dos filhos.
Essa luta não é só das mulheres, é dos homens também. É preciso que todos se engajem na construção de uma sociedade mais justa e com plena equidade. O tema deste ano para o Dia Internacional das Mulheres é #EmbraceEquity. Abraçar a equidade não deve ser apenas lembrado em 8 de março, mas sim em todos os dias, horas e minutos de todos os anos. Qualquer retrocesso é inadmissível! Não faz sentido que uma em cada três mulheres no mundo sofram algum tipo de violência física ou psicológica, segundo a OMS. Só no Brasil, em 2020, 17 milhões de mulheres sofreram algum tipo de abuso. Esse número é da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Não faltam exemplos de mulheres, anônimas ou conhecidas, que passaram a vida lutando pelos seus direitos. A escritora francesa Flora Tristan (1803-1844) sofreu agressões e uma tentativa de assassinato do seu ex-marido quando ele disparou três tiros contra ela. Apesar de todo o sofrimento, Flora foi uma lutadora incansável. Ela nunca deixou de acreditar na capacidade das mulheres, pois sempre dizia: “As mulheres podem mais que os homens porque têm mais amor que eles”.