Por Gustavo de Oliveira

No último dia 28 de março recebemos de maneira abrupta a triste notícia do falecimento de Ryuichi Sakamoto, o seminal músico japonês. Conhecido pelo vasto conhecimento da música clássica, seu trabalho também ficou marcado por inovações na música eletrônica e no ofício da trilha sonora. Seu falecimento veio após uma luta há vários anos contra um câncer em estágio avançado. Porém, sua música se mantém eterna.

Nascido na cidade de Tóquio em 1952, Sakamoto começou sua carreira em três frentes. A primeira em carreira solo, com o disco The Thousand Knives. Já a segunda foi com a clássica banda de synthpop Yellow Magic Orchestra, junto de grandes nomes da música japonesa, como Haruomi Hosono e Yukihiro Takahashi. O grupo foi um dos responsáveis por dar luz e influenciar todo o movimento conhecido como acid house, e também o techno. O terceiro e grande ponto da carreira do músico foi o envolvimento com o cinema. Trabalhou em filmes como Feliz Natal, Sr. Lawrence e O Último Imperador, este último rendendo a ele o Oscar de melhor trilha sonora original.

Multitalentoso, transitou por diferentes gêneros musicais e mídias diversas. É considerado um dos precursores da música eletrônica pela capacidade de fundir vários gêneros. Suas habilidades eram expostas em faixas de synthpop, disco, música asiática, city pop, bossa nova, jazz e até mesmo trilha sonora de videogame. Além disso, em várias oportunidades teve sua música sendo absorvida de forma direta, ao ser sampleada por diferentes produtores da cultura hip-hop. A canção “Riot in Lagos” já foi utilizada inúmeras vezes por artistas como Afrika Bambaataa, Grandmaster Flash e Public Enemy.

Essa admiração vinda dos pares da indústria musical não era à toa. Além de ser reconhecido pelo talento nato, Sakamoto também se destacava pelo seu pioneirismo e experimentação. Foi um exemplo ao quebrar barreiras e permitir que outros artistas pudessem ter a liberdade de expor seus trabalhos ao mundo. Um exemplo disso é que recentemente, em 2017, lançou o disco async, o primeiro após oito anos trabalhando com trilhas sonoras. Dando vazão a um método quase filosófico de compor, Sakamoto utilizou neste trabalho um piano que sobreviveu aos tsunamis que atingiram o Japão em 2011. A intenção era valorizar os sons como eles realmente são, dando destaque aos elementos mais especiais e naturais.

Nessa miscelânea, um dos grandes pontos de influência de Ryuichi Sakamoto é sua admiração pelo Brasil e, mais especificamente, por Tom Jobim. Isso reservou para ele um bonito capítulo com a cultura brasileira, quando, no começo do século XXI, foi convidado pelo casal Jaques e Paula Morelenbaum para a gravação do álbum Casa. Como uma espécie de homenagem ao fundador da bossa nova, o disco foi gravado na casa em que Tom Jobim morou em seus últimos anos de vida, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. O trabalho se destaca pela delicadeza e levou o trio a se apresentar em diferentes locais do mundo.

Ryuichi Sakamoto é um dos maiores criadores que tivemos o prazer de conhecer. Apesar de sua partida, sabemos que sua relevância e seu talento serão responsáveis por fazer ressoar toda a sua grandiosidade.

Clique AQUI e ouça Ryuichi Sakamoto.


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

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