Por Gustavo de Oliveira
É um fato a existência do protecionismo e do isolamento cultural dos Estados Unidos em relação aos países vizinhos. O que é extremamente contraditório quando pensamos que é o país que mais exporta música, cinema, esportes e qualquer outro aspecto do entretenimento. É difícil imaginar que um artista que canta em espanhol e nascido em uma colônia pertencente aos EUA irá dominar as paradas musicais e cair no gosto de um público tão acostumado com a língua inglesa. Mas foi isso que aconteceu em 2022, quando o porto-riquenho Benito Antonio Martinez Ocasio, conhecido como Bad Bunny, lançou seu quarto disco de estúdio, Un Verano Sin Ti.
Benito desde sempre viveu cercado de fronteiras. Em 2016, dividia sua rotina artística com o trabalho de empacotador em um supermercado. E logo no ano seguinte, já havia conseguido projeção internacional. Encontrou seu destaque no mercado musical no trap, subgênero do rap que nasceu na região sul dos Estados Unidos e que, adicionado às influências locais de Bad Bunny, tornou-se uma mistura única de reggaeton, pop e bachata. Mesmo com as mais diversas influências, o cantor apresentou uma postura bem sólida com sua música ao se lançar de forma totalmente independente e dando destaque aos elementos que o identificam como porto-riquenho, e não como estadunidense.
Mesmo sem tocar nenhum instrumento e sem ter conhecimento de teoria musical, Bad Bunny apelou para a sensibilidade e identidade própria para construir seu universo musical. Un Verano Sin Ti é um compêndio de histórias de seu bairro e rotina, passando por sentimentos como melancolia, alegria, desejo e luxúria. Tudo feito e contado por alguém que compreende a realidade da cultura latino-americana, que muitas vezes é sobrepujada pelo domínio do imperialismo cultural norte-americano. Música feita sem medo de assustar, seja pelo que é dito, seja pela maneira como ela soa. Como o próprio cantor afirma em entrevista: “Ninguém pede aos gringos que mudem. Isso é quem eu sou. Essa é a minha música. Essa é a minha cultura”.
Bad Bunny não se limita a exportar seu estilo e cultura para terras longínquas e perigosas. Mas também demonstra novas perspectivas de se apresentar para seus locais. Apostando numa postura que foge dos padrões masculinos adotados por outros cantores de trap e reggaeton, Bunny ousa nas suas roupas, letras e também no seu discurso e na aproximação do público LGBTQIAPN+.
Benito faz parte de uma série de artistas que trazem um frescor para a indústria da música e, mais do que isso, mostra que é possível valorizar os aspectos culturais ocultos por interesses de uma grande potência mundial.
Clique AQUI para ouvir Bad Bunny.
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.