Por Gustavo de Oliveira
Existe uma certa dificuldade para considerar algumas expressões como arte, principalmente aquelas que lidam diretamente com aspectos técnicos, como os videogames. Porém, como não considerar algo que leva em conta as sensações, experiências e o contexto social-histórico na hora de sua produção? A trilogia God of War, produzida pelo estúdio norte-americano Santa Monica Studio, corresponde a esses fatores. Criada em 2005, foi responsável por transpor para os videogames muito do sentimento raivoso e adolescente que tomava conta de diferentes mídias da época.
Refletindo tão bem o contexto no qual estava inserida, a série acabou se tornando sinônimo de videogame e um dos elementos mais presentes na cultura pop. Após lançar três jogos principais e três spin-offs em um período de oito anos, chegou o momento de acompanhar o contexto da realidade e de seus criadores para poder se renovar. Em 2018 foi lançado um reboot da franquia, em um novo jogo com o mesmo título do primeiro. God of War (2018), como ficou conhecido, trouxe mudanças significativas para a série, em mecânicas, narrativa e direcionamento.
Ao dar continuidade à história de seu protagonista, Kratos, em outro local e em um momento de vida totalmente diferente, o jogo abre espaço para perspectivas ainda não vistas anteriormente. Como, por exemplo, a relação do personagem com seu filho, Atreus, trazendo várias discussões sobre paternidade, luto, masculinidade e amadurecimento. Assim, o jogo encara esses assuntos com uma sobriedade não vista até o momento na franquia e em jogos de grande escopo e circulação.
Essa mudança é fruto de todas as transformações que a equipe de produção passou durante o desenvolvimento dos jogos. Cory Barlog, diretor criativo da série desde o primeiro título, afirma em várias entrevistas que o nascimento de seu primeiro filho foi uma grande influência no seu trabalho. Inclusive, alguns trechos de diálogos do jogo são baseados em situações vividas pelo diretor. A partir disso, novos elementos mecânicos foram adicionados e alinhados aos novos ares narrativos.
Videogames muitas vezes possuem uma fórmula e seguem estritamente modelos definidos por seu público. Em alguns momentos, seu foco total é satisfazer avanços tecnológicos e suprir os desejos de implementação gráfica que jogadores casuais sempre procuram. Mas ainda assim eles fazem parte do seleto grupo de obras artísticas que levam em conta as experiências de seus criadores. Mais do que jogar e nos divertir, jogamos para poder interagir diretamente com o que alguém viveu e compreendeu sobre a vida!
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.