Por Camila Barreto

Nas últimas décadas, o Brasil tem experimentado mudanças na sua dinâmica demográfica, com o envelhecimento de sua população. Segundo dados divulgados em agosto deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos chegou a 33 milhões, número duas vezes maior que o registrado há duas décadas. Os idosos deixam, então, de ser a menor fatia da população brasileira, superando a faixa etária de pessoas entre 15 e 24 anos.

Esse crescimento acentuado está relacionado, entre outros fatores, ao aumento da expectativa de vida, tendência também apontada pelos dados do IBGE, que mostram que, em 2046, o grupo de pessoas com 60 anos ou mais será a maior parcela da população. Esse percentual segue ascendente no decorrer dos anos seguintes, chegando a quase 38% da população total em 2070.

Tal fenômeno sinaliza a necessidade de políticas públicas voltadas para este grupo. A transição para uma sociedade mais longeva exige adaptações profundas nas estruturas sociais e econômicas do país, que promovam a saúde e o bem-estar para atender as necessidades dessa parcela crescente da população.

Além disso, é fundamental estabelecer medidas que promovam a valorização das pessoas idosas e o combate ao preconceito. O etarismo, que é a discriminação contra pessoas mais velhas, é uma das formas de preconceito mais recorrente na sociedade atual. Combater o etarismo não é só uma questão de justiça social, como também é vital para assegurar uma convivência mais igualitária, baseada no respeito entre as gerações.

A implementação de políticas públicas e ações educativas é a principal via para promover uma sociedade mais inclusiva e sensível às necessidades da população idosa. Atualmente, além do Estatuto do Idoso, que regula os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, existem diversas iniciativas que incentivam a integração social dos idosos, fomentando a sua participação ativa em diferentes áreas da sociedade.

O Programa USP 60+, uma iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, coordenado pelo Prof. Dr. Egidio Dorea, tem como objetivo proporcionar ao idoso a oportunidade de expandir seus conhecimentos em áreas de seu interesse, promovendo a valorização da pessoa idosa e o combate ao preconceito. Além de oferecer atividades culturais, esportivas e científicas, o programa também permite que as pessoas com 60 anos ou mais participem como ouvintes de algumas disciplinas dos cursos de graduação da USP, viabilizando a interseccionalidade entre as gerações.

A exposição Ampliando Horizontes reconhece e celebra a criatividade e a potência da produção artística de idosos de diversas regiões do Brasil. A mostra, que é Fruto do IV Prêmio Arte e Literatura, concurso cultural do Programa USP 60+, reúne obras que abrangem diferentes formas de expressão artística nos campos das Artes Visuais e da Literatura, e convida o público a refletir sobre as narrativas e os saberes da vivência sensível e singular dos artistas. É uma forma de romper com estigmas ligados à velhice e celebrar a longevidade, a vida em todas as suas fases.

A apreensão afetiva da realidade, que floresce da sabedoria e da experiência de mais de seis décadas de vida, inspira cada espectador de forma distinta. A força da palavra, a riqueza cultural e a potência das imagens se entrelaçam, criando um ambiente instigante onde histórias de vida se revelam através de fotografias, desenhos, pinturas e produções literárias. Cada obra é um testemunho do olhar profundo e da vivência de seus criadores que, por meio da arte, ampliam horizontes e compartilham suas trajetórias de vida com o mundo.

A exposição Ampliando Horizontes pode ser visitada de terça a domingo, no Centro Universitário MariAntonia, até o dia 02 de fevereiro de 2025. A entrada é gratuita.

Para saber mais sobre as atividades oferecidas pelo Programa USP 60+, clique AQUI.


Camila Barreto foi a vencedora do Projeto Escrita 2019 e se tornou colunista da revista INSPIRE-C. Atualmente estuda Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Imagem capa: Simulacro/C. Mota/Pintura
Imagem mídia: Memorial E47/Bravo/Gravura
Fotografia de Walter Cintra/Perseverança
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