Por Thiago Mota

Muito já se falou sobre liderança na história do mundo. Diversos perfis, estilos, abordagens. O papel das lideranças, suas missões, deveres e cuidados com liderados e tudo que gira em torno da gestão de pessoas.

A visão acerca dos papéis e responsabilidades difere em opiniões, pois dentro do que reside o papel do líder muito ainda há para ser revisto e considerado. Todos somos líderes? Podemos nos tornar?

Sempre gostei da expressão em inglês to lead, que significa ir à frente. Até já escrevi sobre ela algumas vezes. E é este conceito de ir à frente que representa, para mim, uma das maiores referências do que deve ser a liderança de pessoas.

Ir à frente requer certa dose de coragem. Nem sempre os pioneiros se saem bem em suas empreitadas. Este “ir à frente” também pode estar ligado a novos e mais elevados graus de consciência de pessoas que entenderam e até, quem sabe, anteviram transformações e mudanças e, por isso, se ocuparam em abrir caminhos para os que viriam depois. Tudo isso é muito profundo e podemos encontrar na história diversos exemplos de pessoas que trilharam esse caminho.

É sabido que vivemos uma época de intensas e rápidas mudanças. Como lidar com essas mudanças muitas vezes pode ser a chave da sobrevivência para espécies, pessoas, grupos e organizações. E cada vez mais o chamado para a emergência de líderes facilitadores cresce para que sejam o elo que une as pessoas do ponto A ao ponto B. Ou seja, para que sejam a ponte entre passado e futuro, ou a conexão entre modelos que já não funcionam mais com os modelos vigentes, que anseiam por mais confiança, consciência e transformação.

A transição que menciono diz respeito a novos patamares de consciência em diversos campos, como o trabalho, a aprendizagem, o consumo, a natureza e, naturalmente, a solução de problemas. Líderes facilitadores entendem que não são o centro das decisões e soluções, mas o núcleo que pode apoiar pessoas por meio de princípios, práticas e processos a conduzirem verdadeiras transformações em suas organizações. Esses mecanismos são incorporados às habilidades do facilitador para que, dominando ferramentas e métodos, possa conduzir grupos a novas visões acerca de seus principais desafios.

O líder facilitador se coloca como um guardião, um anfitrião do campo em que atua. Sabe como criar espaços de segurança psicológica para fazer emergir o que há de melhor em cada um. Entende que a inovação tão sonhada pelas organizações pode ser incorporada por meio de uma nova cultura de gestão e revisão de papéis e identidades. Essa nobre função carrega consigo o lidar com o não saber de si e do grupo. Navega pelo respeito e inclusão da identidade de cada um, visando obter a colaboração e a cocriação geradoras naturais de maiores engajamentos e posteriores resultados.

Para “facilitar” não é preciso criar atalhos ou pular etapas, mas apontar ou cocriar caminhos que apoiem as pessoas e organizações em seus próprios processos de mudança. O líder facilitador compreende a hierarquia como algo que merece respeito, mas não deve engessar processos e a abertura a novas ideias. Ao sustentar o campo da mudança, faz as pessoas se sentirem seguras psicológica e emocionalmente. O facilitador se utiliza dessa abordagem de liderança para estar tranquilo em não ser a fonte única da verdade e da solução de problemas, mas um mediador disso tudo, sabendo sempre que “duas cabeças” pensam melhor do que uma.

A arte de se tornar um bom facilitador exige escuta, observação, diálogo, capacidade e a coragem de não agradar sempre, mas ter o compromisso em promover rupturas, abertura para o novo, reflexões e capacidade de preparar pessoas para serem os novos líderes facilitadores das transformações que precisamos ver emergir na sociedade.

Não pretendo aqui esgotar todas as características deste novo e importante perfil de liderança, mas de estabelecer esse diálogo, pois para o futuro que desejamos e precisamos, líderes facilitadores são e serão essenciais.


Thiago Mota
Sócio e fundador do Novo Expediente, caminho que escolheu para levar mais consciência sobre como lideramos e gerimos as organizações. Formado em Relações Internacionais, tem MBA em Gestão de Negócios pela FGV e atualmente estuda Psicologia Analítica pelo Ijep/SP. É designer de experiências de aprendizagem pela Kaospilot/Copenhagen, mentor de negócios de alto impacto e facilitador de grupos em temas como liderança, cultura e inovação em diversas organizações no País.

Contato: [email protected]

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