Por Gustavo de Oliveira
A conhecida frase “Nada se cria, tudo se copia” é uma realidade quando tratamos de produção artística. O que não necessariamente aponta algum tipo de plágio, e sim de que obras são feitas a partir de influências e referências. Compreender essas inspirações permite a construção de algo interessante, inventivo e inovador. Portanto, podemos até mesmo modificar o sentido da frase para algo como “Nada se cria, tudo se aprende”.
Essa situação é algo que podemos identificar em Jusant, um jogo desenvolvido pelo estúdio francês Don’t Nod, que é notoriamente conhecido por criar obras estritamente narrativas como Life is Strange e Tell My Why. Porém, dessa vez os desenvolvedores seguem um caminho totalmente diferente e focam a criação de um sistema baseado em mecânicas e movimentação, em vez do foco total em história de seus jogos anteriores.
Dessa vez, o estúdio transforma uma tarefa simples de assistir e complexa de realizar, que é a escalada, em uma jornada especial, graças ao conhecimento profundo das suas inspirações. Seguindo a mesma ideia de jogos como Death Stranding, Jusant utiliza as movimentações corporais para criar um universo à parte. Existem botões dedicados a controlar especificamente cada braço do personagem com que jogamos, o que torna uma tarefa que, em outros jogos, seria corriqueira, em um desafio agradável. É algo que precisa da sua atenção, mas que é polido o suficiente para ser divertido de jogar.
Assim, mantém-se uma lógica de que a jornada é mais importante do que o destino final. A montanha que precisamos escalar não é um obstáculo, e sim uma viagem que precisamos aproveitar. Algo que acabamos enxergando em outros jogos como Journey, em que o caminho é a melhor recompensa que podemos ter. Ainda que para escalar precisemos compreender um sistema relativamente complexo, em Jusant isso é um constante e agradável aprendizado.
Essa mescla de aprendizado e desafio também serve para o desenvolvimento da história do jogo. A cada sessão de escalada que é concluída, conhecemos um pouco mais sobre o mundo em que estamos, o funcionamento daquela sociedade e o porquê de estarmos enfrentando esse desafio tão grande. Jusant nos dá um foco mecânico simples, mas que em nenhum momento pode ser desprezado. E a cada vez que a gente domina e supera um desafio, a história se apresenta um pouco mais para nós.
Isso tudo acontece porque os desenvolvedores vislumbraram bem os aprendizados que vêm das suas inspirações. E também pela coragem de construir um jogo que vai além daquilo que aparenta.
Jusant é com certeza um jogo especial, principalmente para quem não tem medo de aprender!
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.