Por Gustavo de Oliveira

O lúdico é cercado de motivações que nos levam a querer consumi-lo. A diversão e o escapismo do cotidiano com certeza são alguns deles. Porém, existem aqueles que encaram esse momento com um pouco mais de seriedade e adrenalina por meio da competição. Por mais que esse seja um elemento exclusivo dos esportes tradicionais, a competitividade também é marcada nos videogames desde sempre.

Nos últimos anos o termo “e-sports” (esportes eletrônicos) está cada vez mais consolidado e causa debate sobre essa modalidade ser incluída nas Olimpíadas ou não, além de um fortalecimento de ligas profissionais de jogos competitivos, promovendo eventos globais e gigantescos.

Entretanto, por que alguns indivíduos decidem transformar um momento de lazer em uma responsabilidade e carreira? Ou por que isso, assim como a tradicionalidade do futebol, suscita tantas paixões e olhares de um público vidrado? Talvez a resposta seja muito simples: por causa do movimento.

A caminhada que acompanha qualquer atleta é construída com muita repetição. Práticas contínuas e constantes, que levam ao aprendizado e, consequentemente, ao aperfeiçoamento. Essa movimentação repetitiva gera uma interação que vai desde entre os competidores até os torcedores e o público em geral.

Essas interações acabam sendo responsáveis pela formação da identidade dos atletas e indivíduos, moldando muito do caráter individual de cada um, por trabalhar com elementos que encontramos durante a vida, elevados a potências e contextos especiais e extremos.

Os esportes (nesse caso, os eletrônicos estão inclusos), assim como a vida no trabalho, são moldados por objetivos. Porém, eles se diferem ao limitar as possibilidades de alcançar um fim, através de regras e meios.

Se encontramos uma maneira mais fácil de criar um produto ou preencher uma planilha, usamos para aumentar nossa capacidade produtiva. Em um jogo de futebol, por exemplo, isso não é possível, pois somos limitados às mais simples diretrizes, como a impossibilidade de usar as mãos.

Esses meios limitantes servem para manter uma igualdade na prática competitiva e o destaque daqueles que melhor performam alimenta a sede de quem assiste. Cria-se uma situação bastante paradoxal, em que mesmo com a incerteza de um resultado positivo e a iminência da frustração da derrota, milhares de pessoas se debruçam sobre o jogo com paixão, dedicação e treinamento.

Porque entre aqueles que amam tanto os jogos quanto a competitividade, é muito especial presenciar momentos em que esportistas ultrapassam barreiras e beiram o absurdo em suas performances. Quase transformando ficção em realidade. O desejo de testemunhar um fato grandioso supera o medo de ser derrotado. A satisfação de executar a jogada perfeita satisfaz o tempo gasto e investido em treinamento.

Como o que aconteceu na final do Campeonato Mundial de League of Legends em 2013. O jogador Lee “Faker” Sang-hyeok protagonizou uma das jogadas mais memoráveis da história da modalidade contra talvez o melhor jogador da época, Ryu Sang-wook.

No jogo em questão, Faker consegue vencer um combate em que aparentemente a vida de seu personagem já estava no fim, o mesmo utilizado por Ryu. Até mesmo para quem tem familiaridade com a League of Legends tem dificuldade de compreender como a jogada foi executada.

Com o tempo, mais momentos como esse foram novamente executados pelo jogador, mas pelo contexto e execução, ele é celebrado até hoje.

Por momentos e situações como essa, o ato de jogar consegue se desprender de uma visão totalmente descompromissada. Consegue assumir uma seriedade e importância únicas na nossa sociedade. Engajando e conquistando as pessoas que estão dentro e fora das “quadras”.

Esses movimentos impossíveis não são apenas valorizados por sua plasticidade e complexidade. Mas também por todo o caminho percorrido para que um indivíduo consiga executá-lo. Isso nos faz pensar que, no final das contas, o resultado muitas vezes não importa, e que a frustração de perder nunca será maior que o caminho que percorremos até alcançarmos qualquer objetivo.


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

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